Aquele traje já não lhe serve mais. Você modificou o seu jeito de ser e estilo também. Já não consegue andar do mesmo jeito, afinal, seus caminhos não são os mesmos daqueles construídos com tijolos, encaixados um a um, nas mais puras brincadeiras de sua infância. A calçada está diferente e o peso dos passos de tanta gente deixou-na em alguns pedaços.
Você, com seu traje velho, anda apressado, olha tanto para os lados que sequer consegue ter cuidado com o seu caminhar. Julga-se sabedor de leis, de reis, mas a queda de joelhos, em certo momento, é inevitável. A calçada, mesmo parada, apenas estando lá, conseguiu deixar-lhe no chão.
Naquele instante, o traje, além de velho, despedaçou-se e você, maltrapilho, quase desnudado, segue sem ao saber ao certo o que fazer de seu caminho. Nada mais faz sentido, nem a roupa rasgada, nem aquela calçada. Tem plena consciência de que se ela machucou-lhe uma vez, a menos que alguém ou você mesmo a concerte, tornará a feri-lo sem dó, afinal, nada ela sente.
De repente, em seu caminho, logo à frente depara-se com uma espécie de loja. Embora tudo pareça uma grande utopia, finalmente, poderá trocar o seu traje velho, pois agora, mais do que antes, já não lhe serve mais. Sabe bem que há tempos deixou de ser confortável e passou a vesti-lo por mera obrigação e conveniência. Sentirá saudades dele, certamente.
Despir-se não é tão simples, mas é preciso optar pela roupa que lhe cairá bem e não sufocará o seu andar. Roupas maiores favorecerão os seus passos. As justas, nesse momento, irão prendê-lo de algum modo, favorecendo suas quedas nas calçadas despedaçadas pelo peso dos passos de tanta gente.
E agora, o que pensas? Escolheu o seu novo traje? É preciso demorar um pouco, pois ao reconhecer-se nú, sem as amarras daquele traje velho, finalmente conseguirá enxergar aquilo que de fato você é. Sabe bem que já não é mais o mesmo! Tentativas novas foram necessárias e após o passar de algum tempo, consegue encontrar a melhor roupa, aquela que combina mais com você.
Daquele minuto em diante, escolhe a roupa que favorece o seu crescimento, de semelhante maneira ao que faziam quando era criança. Assim, consegue deixar a nudez e veste-se de si, pagando o preço justo e necessário à vida, para, então, seguir o seu caminho por uma nova e melhorada calçada.