Em 1988/89, portanto há mais de 30 anos atrás, trabalhei em Chapecó durante um ano e pouco na Sucursal do Jornal O Estado, de Floripa. Acabara de voltar a morar em Xanxerê, ia e voltava todos os dias, e em 90% das vezes pegava carona com xanxereenses no ponto de ônibus em frente à Empresa Motoviaturas, revenda GM em Xanxerê. Estava voltando a morar e trabalhar ‘na terra’, com mulher e duas filhas, uma recém-nascida. Saí daqui em 1969, com 14 anos, para estudar em Curitiba, fazer o “científico” e depois o vestibular, faculdade…Voltar a morar aqui para mim foi uma festa: Bicho do mato demora para acostumar, e às vezes não acostuma, com a selva de pedra. E ter que ir todo dia para Chapecó era melhor (eu achei) que ir morar lá, para mim Chapecó já era cidade grande…
E acostumei rápido com o ir e vir todo dia, muitas vezes voltando de Reunidas….Isso quando não pegava um ‘latão’ no centro de Chapecó e desembarcava no trevo de acesso da BR-282, para pegar uma sempre garantida carona. O ponto favorecia, e só tinha um curioso obstáculo, ou melhor dizendo, tinha as guerreiras ocupantes do “point”, abordando caminhoneiros. Logo percebi que, estando ocupado, eu não poderia pedir carona ali, parado ao lado da moça… Provocaria dificuldades e perdas, quedas de vendas, e inviabilizaria seu negócio, sem aspas. Quando tinha alguma empreendedora por ali eu ia até o posto de gasolina ao lado, dava um tempo até a batalhadora conseguir embarcar num caminhão, geralmente. Mas também em outros veículos…
E a primeira coisa que me chamou a atenção naquelas caronas de 1988 foram as muitas e agradáveis conversas com xanxereenses que iam ou voltavam de Chapecó, pessoas diferentes, todos os dias. A pergunta do repórter sempre era inevitável: ”vai (ou foi) fazer o que em Chapecó”? O que me assustou foram as respostas. Em 65-70% dos casos a pessoa estava indo “fazer compras, porque em Chapecó é mais barato”. Outros 30% iam ao médico, ou passear. Comentei isso à época com amigos porque achei estranha. Mas os amigos, residentes aqui desde sempre, me confirmavam: “Lá é mais barato”. Aquilo me ativou todos os bichos carpinteiros, os botões da camisa e até o Tico e o Teco. É que à época já haviam campanhas de divulgação do gênero “Compre em Xanxerê. Deixe seu dinheiro aqui”. Alerto meus e minhas estimados (as) que o mal daquela época era a galopante inflação!
Eram dias – desconhecidos pelos jovens de hoje – em que você recebia o salário hoje e ficava duro, de novo, amanhã
…Os ‘enormes’ salários (pagos aqui e em qualquer lugar onde trabalhei) para jornalistas eram úteis para pagar as contas. E paravam aí mesmo, sobrava nadica de nada. Mas aquilo de ir comprar em Chapecó me encasquetou, e perguntei também a amigos que tinham empresas no comércio local. Alguns até ensaiaram argumentar que os preços para mais eram ”o frete”, mas desistiram logo da ideia. Lembro que também usei um outro argumento, buscando incentivar o debate sobre comprar aqui: “Sim, mas se o pessoal de Xavantina, Abelardo Luz, Faxinal, São Domingos, Ponte Serrada e outros, pensar igual ao comércio de Xanxerê e pregar o mesmo “deixe sua grana na sua cidade, compre aqui”, ninguém mais viria fazer compras na Campina – que já havia conquistado o status de “polo da Amai”…
Alguns não gostaram da proposta “de falar nessas coisas”.
Meses depois já a bordo do Jornal de Xanxerê (O famoso Jotaxis) e da Coluna “X-Bugre”, foi impossível não voltar ao assunto. Mais ainda por ter como colega de redação, editor chefe e fonte de inspiração o meu então novo amigo, baita Jornalista, (e meu curso de mestrado), Elóy Galotti Peixoto. Elóy adorava uma confusãozinha básica, e eu peguei gosto! ”Isso vende jornal !”, me ensinou. E vendeu mesmo: Com circulação mensal, o Jotaxis, (não só por isso), chegou a ter mais de mil assinantes, foi muito divertido e até deu uns troquinhos bons (mesmo não enriquecendo ninguém, né Maria Zolet?). Maria era nossa fotógrafa e titular absoluta da Coluna “Salão de Beleza”, outro pedaço muito apreciado do “Jota”! Mas voltando a Chapecó e aos preços mais baratos: Voltei de novo para Xanxerê (agora saio mais!) em setembro de 2019 – quase um ano, já. E a campanha “compre aqui” segue na vitrine.
Óbvio que sou a favor que os xanxereenses preferencialmente façam suas compras no comércio local. Naturalmente também é indiscutível que nem todos os preços de Xanxerê, lá na década de 80 do século passado, eram mais caros que os de Chapecó. Acredito, lá e agora, que alguns custos das empresas comerciais possam ser menores em Chapecó, viabilizando preços de venda eventualmente menores, por lá. Mas também sei que existem bons e maus comerciantes, como em qualquer setor da atividade econômica, de qualquer cidade ou país. E por falar em maus comerciantes, ouvi falar ainda em Floripa que nestes tempos de caixas super-rápidas, tudo no cartão, em qualquer tipo de loja, é Fundamental, imprescindível e “lucrativo” o consumidor conferir, SEMPRE, se a soma dos valores a serem pagos e seus correspondentes preços de etiqueta são os que constam no tíquete emitido pelo caixa, após o pagamento. Em Floripa, vi por lá, são muito frequentes erros em somas de compras, e também diferenças entre o preço da etiqueta e aquele cobrado na boca do caixa. É bom conferir.
E para minha surpresa, semana passada pude conferir aqui em Xanxerê e sentir no bolso que a globalização, também nesse caso, funciona! Numa dessas conferências, “deu problema”: A diferença, confirmada depois na mesma caixa e mesma maquininha da compra, totalizou mais de R$ 20,00, acima, em cinco ou seis itens comprados. O melhor do caso é que a empresa reconheceu o equívoco na hora e fez a imediata restituição do dinheiro, o que é o certo! Não vou citar nomes, nem estou criticando ou “falando mal”. Estou apenas relatando o que aconteceu, e também não ouso dizer que houve má-fé. Prefiro acreditar que na hora de somar, a maquininha por algum motivo somou, junto, outras mercadorias, talvez da compra anterior à minha, e cobrou a mais. Isso é possível e não há porque se pensar que todo erro seja má-fé. Mas de qualquer forma, fica o aviso: Confira!
Hoje é indiscutível que Xanxerê tem um comércio moderno, com qualidade e preços competitivos. Até porque de 1988 até hoje as distâncias encurtaram, a concorrência aumentou, as opções de compra se multiplicaram e o E-Commerce veio para ficar, tendo no preço novamente o maior argumento, é o principal concorrente das lojas físicas…. Chapecó segue mais que nunca sendo o maior polo de negócios de todo o Oeste e isso não vai mudar. Fortalecer e apoiar a economia da cidade onde a gente vive é importante, fundamental e bem-intencionado. É lógico que sempre cobrando e torcendo para que os empresários locais e suas entidades representativas tenham sempre a meta de qualidade e bons preços, como é possível constatar hoje. Tais argumentos são, e sempre serão, os maiores e melhores atrativos para boas vendas.