Assustador e de alerta, a notícia da última sexta-feira (28/05) de que um aluno da rede municipal de Xanxerê foi conduzido ao Conselho Tutelar e teve seus pais avisados, porque ele andou ostentando, em comentários nas redes sociais, que possuía uma adaga e que, eventualmente, poderia repetir a tragédia da creche de Saudades, onde duas professoras e três crianças foram brutalmente assassinadas. E dias antes ocorrência semelhante já havia sido registrada em Ponte Serrada. Não tenho, hoje, filhos adolescentes. Mas imagino que teria muita dor de cabeça e o dobro de cuidados, se tivesse. Criar filhos nesse mundo de velocidade recorde nas comunicações e de tecnologias malucas, novas e de usos inimagináveis, deve ser cada dia mais difícil…. Menos mal que em boa hora Polícia Militar e Conselho Tutelar agiram com eficiência ao que parece, procurando os pais e certamente os orientando para as ações pertinentes e necessárias.
É incrível – e preocupante – como péssimos exemplos tentam ser copiados, na minha opinião a cada dia mais, especialmente pela “rapaziada”. A mesma faixa etária que, também li na semana passada, registra aumento no número de suicídios durante a Pandemia: Os adolescentes. Nos anos 1990 quando eu tinha filhas adolescentes, li um livrinho escrito por alguns meninos e meninas, jovens na faixa de 12 a 16 anos, chamado “Confissões de Aborrescente”. O livro virou foi sucesso de vendas, motivou debates e até um filme. E retratava – sob o ponto de vista deles mesmos, dos adolescentes – as dúvidas e os dramas que todos, indistintamente, têm que encarar ao deixar a infância e “se preparar para a vida adulta”. Dureza, mano! O bárbaro crime da cidade do extremo oeste nos mostrou, mais uma vez, que o mundo está cada vez mais pequeno. E mais perigoso!
O livro, pretensamente parecido com temperamento os adolescentes da época, tratava, ou tentava tratar os desafios a serem encarados com bom humor e o “dialeto” próprio da idade. Hoje, apenas 30 anos depois, não é mais “por aí”…Era uma leitura muito indicada, também, para os pais, por isso me interessei e li. Mas hoje a chamada “problemática” da adolescência, acredito eu, é bem mais complicada…E nem sequer permite mais fazer ou tentar abordar o tema com humor, ou com algum sentimentalismo. O papo está cada dia mais sério, e grave… Os antigos “aborrescentes” hoje não apenas aborrecem, fazem muito mais e muito pior que isso. Estamos com o noticiário cheio de exemplos de meninos e meninas cometendo crimes bárbaros – o homicida de Saudades tem apenas 18 anos, maior de idade, portanto… Mas sem dúvida ainda na adolescência.
É muito fácil culpar os pais – responsáveis maiores pela educação dos filhos, sem dúvidas. Mas como em muitas outras circunstâncias não tem como responsabilizar apenas o pai e a mãe…. Principalmente quando a sociedade como um todo tornou-se uma enciclopédia de maus exemplos. E pior que isso, tornou-se uma vitrine que mostra, 24 horas por dia, todos os dias, uma corrida louca e sem limites em busca da riqueza, da fama e do sucesso – nessa ordem, custe o que custar! Lá por 2016, em Florianópolis, conheci e fiquei marcado pela experiência de um casal que tinha apenas um filho e que gastava tudo o que ganhava para tentar fazer do filho um …campeão de Surf. Logo em seguida conheci outro, nas mesmas condições, filho único, com pais e mãe trabalhadores, com pouco dinheiro, que queriam “construir”, em cima do filho, um campeão de skate. Os estudos, e uma preparação mais ampla para vencer a batalha da vida, ficavam em segundo, terceiro ou quarto plano…
Vou logo avisando que nada tenho contra o Surfe e o Skate – e parabenizo a todos que alcançam o sucesso, e todos os bens agregados, praticando os dois importantes esportes. Mas nos tempos em que tive filhos adolescentes, jamais procurei definir, nem ao menos sugerir, o que minhas filhas deveriam ser, fazer ou praticar. Muito menos o que eu queria que elas fossem. E tenho absoluta certeza de que muitos pais, mesmo hoje em dia, adotam a mesma postura. Penso que devemos ensinar valores aos nossos filhos, mostrar a eles como se consegue atingir objetivos, cumprir metas, traçar e trilhar um projeto de vida, vencer…. Que se deve lutar por aquilo que se deseja, ser honestos e ter coragem para levantar e ir em frente, sempre! Pais não são donos de seus filhos. São pais, e isso é bem mais complicado…
Repito, novamente, que não acho certo culpar somente e totalmente os pais de adolescentes que cometem crimes bárbaros. Mas também não há como declarar que eles são inocentes. Na minha opinião ocorre que muitos pais se tornam pais sem ter a mínima condição disso. Não apenas condições materiais, mas principalmente mental e intelectual. Não tem a mínima noção de como devem educar seus filhos… E criar, educar, é muito mais que dar roupa, comida, atenção e carinho, e um teto para morar. Mas os pais de hoje em dia sequer podem ser cobrados por isso. Eles são, também, heróis! Mas falo isso dos que assumem seus filhos, porque milhares deixam essa verdadeira guerra apenas para a mãe das crianças. Vejo, desde um bom tempo atrás, muita gente preocupada em ensinar valores, tratar e educar adolescentes. Mas são raríssimas as ações e mesmo intenções de preparar os pais para difícil missão de criar filhos…. Difícil e cada vez mais árdua, complicada, no mundo de agora.
E assim caminha a humanidade, com igrejas e conservadores impedindo, no Brasil, qualquer tentativa de controle de natalidade – um tabu que a maioria sequer admite discutir, o que é lamentável. Maus filhos se tornam maus pais, que terão maus filhos (e mais filhos) e não conseguirão interromper e essa espiral infinita… E ela vai se expandindo, produzindo seres humanos que estão mais próximos de monstros! Estes cometem barbáries cada vez mais chocantes, inacreditáveis, e (muitos acreditam nisso) nos resta arregalar os olhos, cruzar os braços e dizer “como é que pode”??? Pode. Para piorar há os que veem a causa dos problemas nos casamentos de pessoas (que se amam) mas são do mesmo sexo. É por isso que gasto uma tecla, por aqui: A humanidade está doente! Não são os adolescentes, apenas, que precisam mais atenção. Somos todos nós. Mas, essa mesma humanidade segue achando que “a culpa é dos outros”! Nós, somos santos, é claro! O diabo? “São os outros”!