Cerca de 99% dos brasileiros criticam maus políticos e políticos corruptos, todos eleitos pelos mesmos brasileiros que, para consumo externo, odeiam a corrupção. Principalmente se essa corrupção for praticada pelo “outro lado”, por gente que não é “do bem” ou, resumindo, por todos aqueles que não pensam que nem ele e nem votam nos políticos que ele gosta. Brasileiros também condenam a compra & venda de votos, mas experimenta oferecer, em troca de votos, alguma graninha, favorzinho, ajudinha, empreguinho, mordomiazinha….para ver se eles não aceitam! A hipocrisia e/ou a falsidade de muitos, talvez da maioria, é o que mais atrasa esse país. Se tivéssemos mais honestidade e coerência entre o que se pregam e o que pratica, o Brasil seria muito melhor!
Conheço muitos brasileiros que durante décadas nunca aceitaram sequer falar de política, “tenho nojo”, diziam…. Votavam por obrigação ou porque queriam agradar alguém. Nunca votaram por convicção ou esperança em melhorar o país, sua cidade ou estado. Votavam, no máximo, para tentar “ganhar alguma coisa”, ou porque o fulano era ”gente boa”, “gente nossa” ou “pessoa do bem”. Não é que esses brasileiros não soubessem votar. Sabem. Mas votam com dois olhos e duas mãos grudadas naquela famosa lei: “Brasileiro gosta de levar vantagem em tudo”, pensam só neles, nunca no coletivo. Esses brasileiros por óbvio, conhecem nada de política, de governos, de leis… mas quando precisam de algum serviço público a gritam e xingam que querem para ontem, pois pagam impostos…A maioria efetivamente paga, mas nem todos.
A classe média brasileira parece adorar ser engambelada, lograda, manipulada e levada na conversa, naquilo que hoje é chamada de “efeito manada”. Muitos não possuem qualquer resquício de desconfiômetro e não é raro que acreditam em quase tudo o que ouvem. Principalmente se “deu no Jornal nacional”, ou na Globo. Depois, quando se descobrem ludibriados em sua boa fé, xingam todo mundo. Mas não fazem a necessária autocrítica. São levados quase sempre pela lei da “Maria vai com as outras”. A passeata que ocorreu em muitos municípios brasileiros no último final de semana é o exemplo mais recente. Organizada por empresários pedindo – oficialmente – o fim da quarentena e a reabertura do comércio. Muitos, provavelmente a maioria não vão passar fome (como alguns alegam), nem terão suas empresas indo à falência, como sempre gostam de brandir. A saúde pública, um bem coletivo e não apenas deles, mais uma vez foi deixada para lá.
A carreata da classe média contra a quarentena no último fim de semana tinha como alegação “oficial” que é preciso trabalhar, ganhar dinheiro, para pagar as contas. E todos sabem que contas atrasadas sempre existiram e sempre existirão; prejuízos sempre serão recuperáveis, mas vidas humanas que se perdem, essas não têm volta. Em Curitiba, olhando as fotos de participantes da carreata, notou-se de pronto a massiva presença de carros de luxo, caros, acessíveis apenas a cidadãos “bem de vida” – que certamente não se preocupam com contas atrasadas, nem com falta de dinheiro para pagar contas. Ficou óbvio concluir que tais manifestantes queriam era cessar o prejuízo pelas portas fechadas. A saúde de seus funcionários? Preocupação em não disseminar vírus para outras pessoas, ou mesmo ser contaminado pelo coronavírus? Isso não vinha ao caso. Queriam eram seus funcionários de volta, para cessar as perdas.
Pequenas e médias empresas com certeza não conseguem resistir muitos dias com portas fechadas e muitas vezes vão a falência, fecham as portas – e isso também é fato corriqueiro na economia de qualquer país. Uma das mentiras mais alardeadas nos anos entre 2010-2013, por aí, era a de que os brasileiros estavam comprando DEMAIS e não conseguiriam pagar as contas. E isso – os profetas do apocalipse sempre estão de plantão – causaria uma reação em cadeia que iria “levar todo mundo à falência”. Realmente após aqueles anos muitas médias e pequenas empresas fecharam, mas não se pode dizer que isso foi causado porque muitos não pagaram suas contas. Os motivos foram outros, principalmente a queda das vendas, motivada pela alta do desemprego/perda de poder aquisitivo, e não por inadimplência. O planeta já passou por guerras mundiais, e se recuperou; muitos países foram arrasados por guerras, massacres ou doenças, e a maioria se recuperou. E devemos evitar essas situações extremas, exatamente para preservar vidas. Empresas, países, economia, todos conseguem recuperar. A vida, não!
Outro hábito muito querido de brasileiros é o tal “choro de barriga cheia”. É bem comum, diante de uma perda mínima e até corriqueira, passível de acontecer em qualquer empresa, o patrão desandar a prever sua falência, uma quebradeira geral, uma desgraça, enfim. Aí, montados nesse discurso ameaçador e terrível, toca-se pavor nas turbinas dos funcionários: “Você vai perder o emprego! Tua família vai passar fome”; Muitas vezes, senão na maioria das vezes, os prejuízos que realmente existem são perfeitamente absorvíveis pelas empresas. E fazem parte do risco inerente ao mundo econômico e empresarial; Não chegam nem perto de ser vistos como coisas de outro mundo. Até porque qualquer média empresa que queira se manter e crescer NUNCA pode abrir mão do tal planejamento. E com planejamento situações desfavoráveis sempre estão previstas. Ou deveriam estar, caso a empresa realmente seja séria e busque conquistar seu lugar no mercado. Mas, no mundo das fake news, disseminar o terror parece ter virado passatempo preferido de muitos!