Há 15 dias da eleição municipal a campanha política em Xanxerê segue com céu de brigadeiro e mar de almirante: Pelo que se pode ver, ouvir e sentir nunca houve uma campanha tão “zen”, ao menos até aqui. A justificativa é bem conhecida: Os dois partidos que sempre rivalizaram especialmente na eleição para prefeito agora vivem felizes, juntos e abraçados. Não se sabe se para sempre, mas por enquanto MDB e PSD, herdeiros legítimos e assumidos da Arena e do PMDB, ou do PDS e do PMDB, vivem uma ardente paixão e juram fidelidade ao candidato do PSDB, Oscar Martarello. Ele é considerado favorito, por muitos, exatamente pelas forças da coligação, que conta ainda com outros partidos, de menor expressão no município. Mas nesse palpite de favoritismo, é bom frisar, “há controvérsias”. Há quem diga também que apesar de Martarello ter o apoio dos três maiores partidos, não há favorito. E contar com o ovo dentro da galinha muitas vezes “dá problema”…
No mesmo mar de almirante e céu de brigadeiro outros cinco candidatos embarcados na disputa disparam, todos, mas cada um em seu barco, torpedos isolados contra a atual administração municipal, apoiadora de Martarello. Os petardos da multifacetada oposição variam de alvo. Alguns miram o continuísmo e a mesmice, outros simplesmente alertam que é saudável mudar, virar o disco, trilhar outros caminhos. E como não poderia deixar de acontecer alguns mísseis buscam atingir o alvo preferido dos brasileiros, hoje: O combate à corrupção e ao mau uso do dinheiro público. Tais disparos não apontam, objetivamente, nenhum caso concreto, denunciado, ou sob investigação. São munições que estão na moda e pelo menos em Xanxerê são apontadas e disparadas sem um alvo específico, conhecido ou identificado. À boca pequena, como sempre, são feitos comentários ferozes e arrasadores. Mas todos municiados com a pólvora típica de disputas eleitorais, ou de ódios insanáveis entre times adversários. Assim, o maior e talvez o único debate sério que rola envolve a discussão sobre mudar ou não mudar.
Os candidatos Wilsom Martins (PSL), Leandro Vigo (PL), Edson Marció (PODEMOS), Adriano de Martini (PT) e Ezequiel Mello (PTC) possuem, cada um separadamente, seus nichos de eleitores, com argumentos e justificativas conhecidas e bem divulgadas. Seja por estar na oposição e em campanha há um bom tempo (Martins); ou por ser um nome também já cogitado muitas vezes (Vigo); ou por ser um empreendedor de sucesso, sem fortes vínculos partidários (Marció);ou pela força e fidelidade dos filiados do partido (Adriano); ou por sua profissão de fé e combativo posicionamento contra a atual administração (Ezequiel), teoricamente todos têm chances. Não conheço, nem ouvi falar de números de qualquer pesquisa de intenção. E os “observadores internacionais” ouvidos por este reles escrevinhador em sua maioria garantem que todos possuem bom potencial de votos. Mas as certezas terminam aí. O resto são impressões, palpites, desejos disfarçados ou não, torcidas explícitas ou escamoteadas e, sobretudo, paixões, amores e desamores. Já disse e repeti aqui várias vezes que política e votos não deveriam ser decididos com o coração, e sim com o cérebro. Mas…
Se o (a) amigo (a) leitor (a) gostar de acender uma bela discussão, sugira (numa roda de pessoas racionais e com espíritos desarmados, de preferência) que se faça uma previsão estimativa dos votos que cada um deve colher nas urnas do dia 15…E não esqueça de considerar os votos em branco, nulos e as abstenções – outra equação difícil, com umas 38 incógnitas…Da minha parte, não arrisco palpite, não sou vidente, nem profeta. Mais ainda depois da eleição de 2018, quando o xanxereense Gelson Merísio (para citar o exemplo mais próximo) – que muitos chegaram a considerar o novo governador – levou um “chocolate” de votos, aplicado por um desconhecido Bombeiro Militar. É natural argumentar que, SE cada um dos cinco candidatos considerados “de oposição” à atual administração e ao candidato apoiado por ela, tiver lá seus dois ou três mil votos, e SE acontecer um número elevado de votos brancos, nulos e abstenções, a disputa poderá ficar bastante acirrada. Mas, repare bem: falamos em “SE”. Não há nenhuma certeza, nem previsão, nisso!
O que me arrisco a dizer, nesta décima eleição municipal de Xanxerê que acompanho mais ou menos de perto, e também considerando outras eleições, em outros municípios, é o seguinte: Quando existe uma vontade efetiva da população em mudar os ocupantes do poder, às vezes até um poste consegue ser eleito, isso sem desfazer de qualquer candidato dos que estão na disputa… Ou, quando existe essa mesma vontade, e os opositores todos, ou alguns deles, somam suas forças, também existe a chance mais clara de vencer a eleição. Mas com cinco candidatos pleiteando ao mesmo tempo o status de oposição, é lógico que os votos de oposicionistas tendem a se pulverizar, reduzindo as chances de um deles sozinho superar a votação do candidato de quem está no poder…E esse raciocínio está a léguas de distância de ser original, é muito bem conhecido por políticos, experientes ou novatos.
A pergunta óbvia – que já ouvi nas ruas, conversando por aí – indaga porque os cinco oposicionistas, ou parte deles, não se uniram em torno de uma, ou duas candidaturas? A resposta não é fácil. Mas passa, com certeza, pela tal fogueira de vaidades e pelo culto da personalidade, onde privilegia-se o EU em detrimento do NÓS. Coisa de seres humanos, e bem daqueles que são considerados “normais”. Essa é para mim a marca mais perversa da política partidária brasileira: Candidatos que pensam mais neles, na sua vitória, no seu mandato, na sua vaidade e no seu eventual poder a ser conquistado. Digo isso sem intenção de acusar quem quer que seja. Pouquíssimos brasileiros, na verdade, se candidatam com o legítimo e nobre propósito de colaborar e somar com a comunidade onde vivem, para tentar melhorar a vida de todos, ou da maioria. O “Nós”, quase sempre perde para o “EU”, em se tratando de política… Daí, temos os eleitores que somos, e os candidatos que elegemos. Lamentavelmente! E esse raciocínio também não é privilégio do cenário político de Xanxerê, ou do Oeste, é do Brazil, zil, zil!
Ao fazer o indispensável exercício da releitura dessa coluna, antes de enviá-la ao Editor Flávio Carvalho, lembrei de épicas, porém belicosas, campanhas anteriores, algumas transcorridas na maior paz de Deus até….as últimas semanas. Ou até o último dia, ou a última noite. Então, atenção: Por ter acontecido na maior paz até aqui (e tomara que continue assim), nada garante que concluiremos tudo em ritmo de calientes e românticos boleros, tipo “Besame Mucho”.. A índole guerreira de vários partidários e partidos políticos desta ex – capital do gatilho não permite certezas…. Oxalá tudo siga na mais perfeita ordem e na mais perfeita paz, até o final da eleição, da apuração e do reconhecimento dos vencedores. Mas, porém, todavia, contudo, … se o “tempo fechar”, abrigue-se na trincheira mais próxima e cante aquele velho hit gauchesco: “Á-las puchas tchê/ não se assustêmo/ se no perigo se a bala vem / nóis se abaxêmo”!
Um bom fim de semana a todos (as)!
E em tempo – para dar uma notícia de alívio: A Governadora Daniela Reinehr, em boa hora, divulgou nota negando que tenha simpatia pelo nazismo, conforme se suspeitou, devido às posições defendidas por seu pai nas redes sociais, pelo menos até as eleições de 2018. Ufa!