(*) Por Jean D. Soares/Jornal GGN-29/042021)
Em 2006, um bem-humorado diretor estadunidense lançou Idiocracia ou Terra de idiotas, uma distopia que conta a história de um experimento militar de hibernação que dá errado. Graças a esse erro, 500 anos depois, um dos militares hibernados, um bibliotecário do exército sem nenhuma relevância para a Força, acorda do experimento esquecido. Nesse período, os humanos inteligentes optaram por não ter filhos, os menos inteligentes reproduziam-se indiscriminadamente e as gerações mostraram-se cada vez mais burras. Graças a um acidente, esse bibliotecário comum irá despertar em meio a uma população estúpida, anti-intelectual e alienada. O bibliotecário tido como criminoso por não ter registros acaba, por um conjunto de peripécias, como um político renomado responsável por supostamente resgatar o mundo de uma grave crise agrária e econômica. (Grifo de Quirera)
Evidentemente esse roteiro não coincide com o da atual política brasileira, mas nos dá o que pensar. Isso porque qualquer um que repare nas tomadas de decisão de uma figura secundária do Exército que foi alçada a posição máxima da república, irá notar o quanto ações estúpidas de um idiota passaram a ter um índice de aprovação considerável, ainda que cada vez mais em xeque, por uma parcela relevante – e por vezes instruída – da população. Não estamos numa idiocracia, de certo, mas estamos diante de uma grave crise econômica e de saúde pública, para não falar na regressão das políticas em áreas cruciais como a ciência, a educação, a agricultura, o meio ambiente.
E as batalhas de comunicação travadas pelo governo muitas vezes são vencidas apelando para o que há de pior e mais vil: desvios para falas desconexas, ofensivas ou debochadas. Ainda que creditemos essa vontade de regressão aos setores historicamente retrógrados, devemos nos prevenir de nos consolar com o ato de encontrar culpados. Julgar só não resolve. Para não sucumbirmos à ameaça de nos transformarmos num grande experimento militar de longa duração, será preciso rever o país a sério, desmobilizar a militarização da política em curso, encontrar inteligências capazes de fazer pactos que protejam as pessoas e o país de interesses idiocráticos. Será preciso fazer política a sério e institucionalmente para além dos interesses pessoais.
Idiocráticos são os que acreditam que quanto pior, mais fácil de governar; quanto menos CPFs, mais barata a mão de obra. Quanto menos dignidade, mais gente implorará pelo que comer. Eles ofendem qualquer cidadão que defenda um regime democrático. Precisamos reunir as inteligências disponíveis para construir um país capaz de se blindar de vez dessas aventuras idiocráticas, numa revisão semelhante àquela feita após a Segunda Guerra Mundial em países que sofreram com os assombros do autoritarismo. Será necessária a coragem de rever nosso passado recente, de planejar um futuro audacioso e de agir no presente com generosidade, racionalidade e precisão para que essas figuras assombrosas e hibernadas não retornem de seus experimentos querendo se fazer soar como o messias democrático da vez.
(*) Jean D. Soares é doutor em filosofia e desenvolve projetos de convivência em espaços públicos.
Tenho reiterado, nesta Quirera, críticas aos que seguem usando tapa olhos e viseiras, para não enxergar a ignorância (política e as demais) que domina o desgoverno que nos assola. O texto acima foi publicado ontem no Jornal GGN, do certeiro Jornalista Luis Nassif, um competente e ético Jornalista que acompanho há cerca de dez anos. Não conheço o autor do artigo, mas concordo com seu raciocínio, especialmente nas linhas finais. E com a trágica sentença: ”Quanto menos dignidade, mais gente implorará pelo que comer”. O texto assinala que a ignorância que nos assola não é “pouca coisa”, e que será necessário “reunir as inteligências disponíveis para construir um país capaz de se blindar de vez dessas aventuras idiocráticas”. E prega uma revisão no Brasil, semelhante as que ocorreram na Alemanha e na Itália, para apagar as ignorâncias disseminadas e incentivadas durante a Segunda Guerra Mundial.
A semana – infelizmente e mais uma vez – foi “rica” em declarações de ministros e do próprio despresidente para reafirmar o caos em que os eleitores de Bolsonaro afundaram esse triste país. Embora a maioria – acredito – já tenha se arrependido, ainda restam muitos fanáticos que elegeram o despresidente como seu “bandido de estimação”. O Ministro da Economia, Paulo Guedes, sem notar que estava sendo gravado e transmitido ao vivo deixou escapar que quantos mais brasileiros morrerem com a Pandemia, melhor para economia, uma vez que os vivos dão muitos gastos para o desgoverno. Quer dizer, além de estar apenas e tão somente vendendo o país – a preço de banana – o Ministro Posto Ipiranga quer que morram muitos brasileiros. Eles dão “muita despesa ao governo”… Não acredito que exista, no mundo, nada parecido….
Já o Despresidente, mesmo sabendo que estava sendo gravado, fez um rasteiro (ao seu estilo) convite aos brasileiros para conhecer os maravilhosos pontos turísticos nacionais. E citou como exemplo… a Antártica! É impossível não lembrar que, por muito menos, Dilma e principalmente Lula, no seu primeiro governo, foram reiteradas vezes chamados de ignorantes ou de pouco inteligentes por diversos veículos de imprensa. Hoje, Bolsonaro diz que a Antártica fica no Brasil, e não se vê órgão de imprensa criticando ou, ao menos, ironizando o despresidente. Nesse ponto precisamos louvar e agradecer a existência das redes sociais. Nelas não se perdoam mais pseudojornalistas trabalhando, ou melhor, enganando, em órgãos de imprensa de fachada, que estão sendo desmascarados, todos os dias. E isso está acontecendo aqui em Xanxerê e em todo o Brasil: É proibido na “grande imprensa local e nacional” falar das besteiras que esse governo faz e diz, todo-santo-dia. E ainda reclamam que só se faz críticas! E dá para ficar calado com tanta ignorância??? Nas redes sociais, para disfarçar, os gozadores minimizam, para piorar: O despresidente quis dizer Brahma, mas saiu Antártica! Kkkkk….
Um bom final de Semana a todos (as)! E parabéns a todos (as) os (as) trabalhadores (as) do Brasil!