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30/04/2020 às 09:31
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Quirera Gourmet – 30/04/2020

Quirera Gourmet

Cá, eu mais meus botões

Sempre fui otimista ao analisar os fatos e ingênuo mesmo, muitas vezes, talvez por acreditar na superioridade do bem sobre o mal, do bom sobre o ruim…Vigio esse meu traço, sempre, mas volta e meia ele me pega. Deve ser herança da infância, da Igreja católica, das aulas de religião no La Salle e até dos filmes de bang-bang no Cine Luz. O pessoal batia o pé no chão, gritava e aplaudia quando os mocinhos – a cavalaria – sempre liquidavam os bandidos sanguinários – os índios peles vermelha, comanches, apaches, sioux e aparentados. Demorei para aprender e reconhecer que o mal vence o bem, muitas vezes. Mas não me incomodo em ser taxado de ingênuo, inocente, e às vezes de não enxergar a maldade e as más intenções disfarçadas em atos e palavras de “gente do bem”. Me incomodaria, e muito, se fosse taxado de caluniador ou de produtor de mentiras, as fake news que nos assolam. Prefiro acreditar, ainda ou por enquanto, que no fim o bem irá prevalecer. Mas confesso que essa certeza está diminuindo…

Por falar em Cine Luz

Não tinha fotos, mas as imagens do acervo do saudoso e talentoso Ivo Zolet me salvaram. A história está bem nítida na memória: Nas tardes de domingo, da Xanxerê que mais gostei até hoje, a fila para entrar no Cine Luz e assistir o bang bang em cartaz começava ao lado da Auto Xanxerê , na Passos Maia e seguia até a portaria do cinema, onde hoje está o Restaurante O Espigão. Lá por 1960/70 as matinês do domingo eram o melhor programa da juventude, e de acesso restrito, o ingresso não era baratinho. Para ir ao cinema, colocava-se “roupa de domingo” – uma tradição da classe média local. Na entrada tinha um borboniére chic, a sala de projeção comportava cerca de mil pessoas, e tinha um pequeno mezanino no andar de cima, ao lado da salinha de projeção,… ótimo para namorar no escurinho do cinema. Mas cuidado: Tinha lanterninha para vigiar os mais ousados ou quem incomodava, sujeitos a ser sumariamente postos para fora do cinema pelo “Seu Tales”, de saudosa memória…

Agência Matrimonial

O Cine Luz vivia lotado e também era o melhor ponto de encontro da cidade para futuros namoradinhos. Uma das “taras” dos casaizinhos era só pegar na mão da menina quando apagava a luz e começavam os trailers, com o Canal 100, mostrando gols do meu Flamengo, no maracanã. Amigos e amigas faziam papel de pombo correio e perguntavam para a fulana se fulando poderia sentar-se ao seu lado. As meninas sempre estavam em turminhas, e as que já tinham namorado, mas ele não estava no cinema, sentavam entre as outras, para não ter algum Dom Juan ao lado…E rolavam beijos cinematográficos – literalmente – e – no mezanino muitos “amassos”, que ainda não tinham esse nome. “Pegar” na época era tocar no peitinho das meninas, coisa rara, para heróis, ou para abusados! E às vezes acabava com um sonoro tapa na orelha… Mas muitos, centenas talvez daqueles namoradinhos hoje desfilam ainda de mãos dadas por aí, levando os netos. O Cine Luz era uma agência de matrimônios, também! Dos sete aos 14 anos, dependendo da ousadia e audácia do vivente, a maior “glória” era segurar a mão da menina, primeiro passo para namorar “a sério”. E isso também virava ampla “pegação no pé” (bullying não existia, com esse nome), para os dois: “Ah, tá namorando né??”

Em campo de batalha!

Se o filme fosse um bang bang – gênero que fazia o maior sucesso, a cidade ainda tinha a fama de “capital do gatilho” – a gente saía do cinema com cheiro de poeira na roupa: Quando a cavalaria atacava os índios para liquidar com eles no final, todo mundo batia o pé no chão, mandando a cavalaria acelerar. E o chão era de tábua corrida, levantava uma nuvem de poeira – puro realismo: A gente literalmente parecia estar no meio da batalha! Mas se o filme fosse meio chato, ou não agradasse, “Seo” Tales trabalhava bastante para retirar bagunceiros, “exibidos” e outros incomodativos. E os reincidentes podiam até ter seu ingresso barrado, no futuro. Nas noites de domingo era a sessão dos senhores e senhoras da sociedade, mais os namorados e noivos…Amante não pegava bem levar! E tinha censura etária, determinados filmes eram só para maiores de 18 anos!!! Eu mesmo deixei de ver muitos, porque não “tinha idade pra ir no cinema de noite”. Esse ‘passe livre’ só veio quando fiz 14 anos. Os filmes projetados no domingo à noite eram reprisados nas noites de segunda. E na quarta e quinta-feira outra fita era exibida e reprisada.

Sorvete, mais ameixas e gibis

No matinês de domingo à tarde outro ritual acontecia, antes de entrar no cinema: Quase toda a “piazada” comparecia com “gibis” debaixo do braço, para trocar os já lidos por outros. Os gibis da Ebal eram os mais valorizados, pela qualidade gráfica, pelos heróis e pelas histórias contadas. Às vezes um gibi da Ebal era trocado por dois ou três dos outros. As histórias em quadrinhos do Pato Donald & Tio Patinhas e família ainda eram difíceis de achar por aqui, mas logo começaram a circular. A maioria dos gibis eram sobre mocinhos e bandidos, bang bang, de novo! E mostravam a guerra do bem contra o mal, dualidade difundida e bem típica de sociedades brancas, europeias e católicas, que colonizou o Sul do Brasil. Até hoje frequento o Cine Luz, ou o agora “O Espigão”, do amigo Valdecir. Acho que o ambiente ficou marcado pelos anos e por milhares de pessoas comparecendo ao local para o descontraído e mágico momento de ir ao cinema, assistir um filme…. Quando acendiam as luzes era hora de ir saindo e conversando sobre o que achou do filme. As tardes de domingo de verão daqueles anos continuavam com uma casquinha de sorvete no “Bar Dois Irmãos”, onde hoje está a Wustro & Wustro. Depois eu ia para casa, muitas vezes subir numa ameixeira e passar o resto da tarde comendo ameixas e lendo o pacote de gibis trocados no cinema. E lembrando do filme ! Xanxerê ainda é bom, e já foi bem melhor. Daí ainda gosto de acreditar que as coisas boas sempre vão superar as ruins… Navegar é preciso!

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