Joguei futebol até uns 30 e poucos, fui a estádios ver jogos, vi Pelé jogar dois jogos antes dele fazer seu milésimo gol, e ele jogava mais do que qualquer outro, de antes e dos atuais. Saí do estádio em Curitiba achando que ele tinha um motorzinho acoplado: Pegava na bola e acelerava como se fosse turbinado, para segurar, só derrubando…. Jogando futsal a minha maior peripécia foi ter ganho uma final de torneio do glorioso Pimpiam F.C. jogando num time de ”estudantes de fora”…O Pimpiam era o Barcelona do Futsal de Xanxerê, com os maiores boleiros da cidade, todo mais velhos que os do nosso time. Até hoje acompanho futebol, meio de longe, vejo alguns jogos, e torço pelo Flamengo, desde sempre. Não sou nem gremista, nem colorado, embora enquanto rubro-negro goste mais da camisa vermelha. Jogando, não cheguei a ser uma Brastemp, mas estava bem longe de ser perna-de-pau! O futebol, hoje (igual a tudo) virou apenas mais uma corrida do ouro, mas o cenário e o entorno dele – os brasileiros torcedores, continuam rendendo boas gargalhadas, diversão entre amigos e muitas estórias….
Também participei de suculentas e hilárias churrascadas, pagas por colorados e gremistas amigos, em apostas que eram muito comuns tempos atrás. O compromisso era fotografar a festa e publicar o jantar na Coluna Cobras e Lagartos, sem esquecer de pegar no pé dos “fregueses”. A dupla Gre-Nal rendeu (não sei se ainda rende) criativas apostas em Xanxerê, lembro de uma com os perdedores puxando uma carroça ao redor da Praça Tiradentes, com a torcida vencedora a bordo e os perdedores na tração, puxando. Literalmente animal! Só não lembro quem venceu…Mas isso também não era o mais a importante. O que valia mesmo era a gozação, o sarro, o alegre convívio e o bom humor que rendia semanas de comentários e muita “pegação no pé”. Sempre “de boa” e entre bons amigos – alguns deles ativos e operantes até hoje na Campina da Cascavel. Antes de surgir a Chapecoense com seus títulos e tragédias, discutir futebol em Xanxerê era falar da dupla Gre-Nal. O futebol catarinense era olimpicamente ignorado, e o paulista e carioca seguido de longe.
Cresci em meio a brincadeiras de torcedores da dupla gaúcha e entre vascaínos e flamenguistas. Lá em casa a Democracia funcionava até no futebol, não tinha essa de torcer para o mesmo time do pai: ”Seu Romeu” era gremista e vascaíno, mas entre os filhos tinha torcedores do Flamengo e do Colorado. Meu pai também gostava de aprontar das suas para cima dos colorados: Numa noite após um clássico vencido pelo “Imortal”, seu Romeu, como era de lei, foi jogar sua canastrinha no Xanxerense e entrou na sala de jogo do Clube arrastando um pedaço de cano de uns três metros, daqueles de ferro, todo enferrujado e torto, que foi catar no quintal. Encostou o cano na parede e sentou para sua canastra, esperando a pergunta, que não demorou: “Para que esse cano aí, Seu Romeu”? Com a seriedade britânica que era sua marca mandou para as redes, de sem pulo: “Trouxe meus amigos colorados para uma voltinha, hoje. Eles entraram pelo cano, peguei eles e trouxe junto! ”. Ele adorava uma gozação, mas é bom frisar: Quando o Grêmio se lascava ele aceitava as brincadeiras e ria muito, sem mágoas.
O futebol xanxerense mesmo tem incríveis e famosas memórias – valeriam um livro. Particularmente lembro de uma que vi ao vivo e a cores, no saudoso “Estádio Municipal Olavo Mayer” (tinha placa no portão), localizado onde hoje está o Municipal. Era mais conhecido como “Campo do Quatorze” e era um retrato do então Xanxerê – cidadezinha cercada por serrarias em todos os lados, incluindo Abelardo Luz e Faxinal dos Guedes, antes de serem emancipados: o “Estádio” lindamente cercado com tábuas de madeira, pregadas, com altura de uns dois metros. E contava com arquibancada coberta, mais vestiários debaixo, tudo de madeira. Nessa gloriosa “Arena” o time do 14 de julho, mandava seus jogos. O time era patrocinado por Olavo Mayer e seus amigos, para enfrentar o Tabajara Futebol Clube, o mais antigo clube da cidade. Tabajara X 14 de julho foi, durante bons anos o “grande clássico” da cidade. O 14 (a gente falava quatorze…) chegou a trazer “craques” de outras cidades, enquanto que o Tabajara geralmente era formado por atletas locais, amadores, pratas da casa, xanxerenses. Eu ainda sou do Tabajara!
Num jogo entre o 14 e o poderoso time da Sadia Concórdia (se não me engano), vi a cena que não esqueci: Um atacante do visitante, na hora do escanteio e sabendo os nervos esquentados do goleiro – o antológico “Tarugo”, baita goleirão, pegador de pênaltis – foi lá e passou a mão na bunda dele, bem na hora da cobrança do escanteio…A descarada “tática” não rendeu gol, mas Tarugo logicamente não deixou barato: Correu ali atrás da meta, uns três ou quatro metros, arrancou uma tábua do cercado do Olavo Meyer. E com ela sobre a cabeça saiu em disparada para cima do desavergonhado atacante, que virou em pernas… O estádio, com arquibancada lotada, caiu na maior gargalhada, mas o jogo seguiu sem maiores problemas. O Estádio Olavo Mayer, depois que o Presidente do time voltou para Lages, sua terra natal (era Fiscal da Fazenda, aqui), entrou aos poucos em decadência, assim como o 14 de Julho F.C. Lembro das tábuas do cercado sendo arrancadas aos poucos. Mais ou menos ao mesmo tempo o Tabajara começou a construir seu estádio, de pé até hoje.
Com raras opções de lazer (ainda não “pegava” TV) na década de 1960, os domingos xanxereenses se concentravam o povo no Estádio e na “Hípica”, nome popular e mais fácil do que Jóquei Clube Xanxerense. Lembro que logo que o estádio foi construído eram comuns torneios de futebol entre times da cidade e do interior, com um detalhe: Os jogos começavam pela manhã e, na hora do almoço era servido ali mesmo, nos arredores do “Campo do 14, um suculento churrasco, inclusive para atletas regado a cerveja, no estilo festa de igreja. E a tarde os jogos prosseguiam até a final lá pelas cinco da tarde. Os torneios levavam famílias inteiras ao “campo do 14”, e não lembro de atleta passar mal por jogar várias partidas, cheio de churrasco…E quando não tinha jogo, tinha “carreirada de cavalos na hípica”, que também reunia famílias inteiras e de novo, churrasco ao meio dia. As carreiras atraiam chapeludos fazendeiros de Palmas, Clevelândia e de municípios gaúchos, como Carazinho e Passo Fundo. E rolava uma grana razoável, tanto em apostas como na premiação dos cavalinhos, para orgulho de seus criadores…Grana que também movimentava a economia da cidade: Na noite de sábado e domingo, os mesmos ricos fazendeiros ricos caiam “na balada” na lendária “Boate Paris” e outras, menos famosas…
Não tem como fazer comparações entre o Xanxerê da “Hípica” e do “Campo do 14” com a Capital do Milho, ou com a Campina de Cascavel de hoje. Acho que os dois são agradáveis, bons para se viver… mas se tivesse que escolher, sem dúvidas escolheria aquele que não “pegava televisão” (que só chegou em 1969, com a TV Piratini, de Porto Alegre, que transmitia….chuvisco!). Tinha um cinema muito frequentado, que passava incríveis bangue-bangues, ataque de índios ao forte da cavalaria, e filmes do Gordo e do Magro. Tinha Hípica, Tabajara X 14 de Julho no Campo do 14. E tinha banho de rio no Pocinho do Grupo (Nabuco) ou do Giordani (onde está o Super Brasão), tinha a “piscina do Basei” (pai da minha amiga Jornalista Sônia, no Bairro Colatto), sem falar na festa da Igreja com o inesquecível “serviço de autofalantes”, a cargo do talentoso “comunicador” Nilo Munaretti, uma versão local de Chacrinha (com todo o respeito e saudades), muito divertido. Tinha até bordão, convidando o povo a saborear as delícias gastronômicas: ”A Cozinha é sempre a Cozinha”, mandava Seu Munaretti. E elogiava os dotes culinários das mulheres de “festeiros” (os organizadores da festa) que faziam cucas, assados, bolos, pudins, pastéis, saladas e maionese, para acompanhar, é claro, o churrasco. E à tarde não faltavam os “Jogos a contento de todos”, incluindo o “aviãozinho”, tiro ao alvo (com espingardas de pressão e rolhas no lugar de balas) … Tenho orgulho desse Xanxerê, e tenho muita sorte de ter vivido até aqui, para contar. E para lembrar com saudades, mas com muito mais alegria! Xanxerê foi, e continua sendo, um lugar muito bom para se morar! A contento de todos!
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