Conquistar, exaltar e valorizar a Liberdade, defender a Democracia, apreciar e difundir os valores da cultura brasileira – de Ariano Suassuna a Cazuza e muitos outros, são algumas das “cláusulas pétreas” que integram certezas das quais não pretendo abrir mão – nem depois de morto! Sobre muitos temas admito, e mudo, de opinião, sempre que me convencer de que estou errado. E também porque não sou um poste, fincado sempre no mesmo lugar e olhando sempre para o mesmo lado! Mas dos valores acima, entre outros, com certeza não pretendo abrir mão…
Na política, passei muitos anos destes 67 defendendo e votando no MDB, depois PMDB, e não escondo isso, embora hoje não tenham mais tanto orgulho, como tinha anos atrás. Porque o MDB que eu sempre apoiei e votei – embora nunca tenha me filiado a partido algum – foi o partido que combateu, e venceu, junto com a maioria dos brasileiros, uma golpista, nefasta, torturadora, assassina e entreguista ditadura militar, de triste memória. Não me canso de dizer, eu tinha 10 anos em 1964, e nunca mais deixei de prestar atenção na política. Nem de defender a Democracia!
Por isso, não conseguiria explicar um gesto, sequer, de apoio a um governo que admira torturador, que elogia a ditadura militar. Um governo que é e sonha ser mais ainda uma ditadura militar. Ditadura que torturou e matou milhares de brasileiros. E que resultou em muitos anos de atraso para o Brasil. Nem um desgoverno que, disfarçadamente – porque nem coragem para dizer as verdades tem – defende a volta dos militares ao poder. E governos ou ditaduras militares nunca deram certo, em país algum – igualzinho ao argumento que muitos apresentam contra o comunismo, e eu também concordo!
Por essas e outras o MDB deixou de ser, há vários anos, meu partido preferido, na hora de votar e na hora de apoiar seus líderes, ou representantes eleitos. O MDB que eu gostava era o de Ulysses Guimarães, e esse partido não existe mais. Lembrei dessa encrenca porque vi, na recepção (decepção, para muitos) ao despresidente, em Xanxerê, alguns peemedebistas históricos enrolados na bandeira do Brasil e gritando mito, mito…. Na hora pensei: Ainda bem que Ulysses morreu no mar! E não viveu para testemunhar tamanha blasfêmia contra seu partido. Acredito que o MDB que eu gostava, morreu no mar, com Ulysses! Nunca me filiei e por enquanto nem pretendo me filiar a partido político, a nenhum dos atuais.
Admito, é claro, que pessoas mudem de partido e de ideologia – se é que algum dia tiveram uma! Mas acho difícil aceitar quem passou décadas, praticamente a vida toda, como eu, lutando pela Democracia, pelo direito de expressão e de opinião, pelas liberdades individuais e coletivas, pelo direito de votar e escolher seus governantes, resolva, de repente e para seguir uma pessoa – não um ideal – mudar radicalmente de opinião! Elogiar aquilo que combatia, passar defender o que repudiava e condenava, no mínimo, “não é legal”…! É como rasgar a própria História, negar a si mesmo… Quando vejo isso sempre lembro que, dizem, “todo homem tem seu preço”. E alguns têm mesmo. Mas não todos…
Não sei, até hoje, até onde essa afirmativa, de ter seu preço, é verdadeira. Mas sei de muitos e valorosos homens que jamais se venderam, por dinheiro algum, ou por qualquer regalia, status ou emprego…. Alguns, nem sob tortura! E a História mostra muitos deles, basta ler. Infelizmente também é bem conhecida a enorme relação dos que abandonaram seus ideais, seus companheiros, sua bandeira de luta – que vira pano de chão, traem e renegam os valores que defenderam…. Se algum dia eu tivesse que fazer algo assim, acredito que preferiria sumir no mundo. Mas, como diz o filósofo, “cada um, cada um”. Só não consigo apreciar, apoiar, defender, nem conviver, com pessoas que abandonaram sua luta, depois de décadas. E enxergo vários assim.
Aprendi que não devemos julgar os outros, o que é para os deuses, e é verdade. E também concordo que atitudes e opções dessas mesmas pessoas podem ser entendidas e até aceitas. Mas não me peçam para concordar! Porque aí é um direito, inalienável, de todos e de cada um. Não sou obrigado a gostar de ninguém, nem de fazer parte de grupos que sejam abrigos e escudos para fascistas, nem conviver com preconceituosos, racistas, admiradores e apoiadores de torturadores e de ditaduras, militares ou civis. Daí “tô fora”, “me excluam disso”, porque aí nunca será o meu lugar! E se por acaso eu não for excluído, com licença, dá meu boné que eu tô de saída!
Também ouvi e ouço, muito, que as amizades estão acima de tudo… Mas aí, não sei se certo ou errado, prefiro acreditar que ”tudo tem limites”. E não me sentiria bem, nem me acharia honesto – comigo e com todos – tendo como amigos próximos alguns “fascistas de estimação”, ou “racistas estimados”, ou fãs, declarados de torturadores e de ditadores! Seria uma desonestidade e uma grande falsidade – ‘artigos’ que sobram por aí! E para quem acha que só enxergo defeitos no atual desgoverno, também digo o seguinte: Enxerguei, nesse desgoverno que nos infelicita a vida, uma grande realização! Não é algo que nos orgulhe, mas pelo menos é verdadeiro!
A novata e frágil Democracia brasileira – nascida da Constituição de 1988, apenas com 30 e poucos anos, portanto – demorou, mas nos mostrou – com esse desgoverno – que estamos cercados de… nazistas enrustidos, racistas disfarçados e de fascistas que, talvez, nem eles mesmos saibam que são fascistas! Mas não há dúvidas, eles são! Muitas opções, afirmações, atos e omissões de familiares, conhecidos, e de amigos, não deixam qualquer dúvida – no meu entender, sobre tal descoberta! Os fascistas são muitos e estão bem aqui, no meio de nós. Foi essa triste revelação, para mim, a grande obra que esse desgoverno fez, até agora: Mostrou a verdadeira ideologia e a real identidade política de desconhecidos, mas também de parentes, amigos e conhecidos. Lamentavelmente! E isso, para mim, não dá para relevar, nem deixar para lá! Muito menos dá para “passar a mão na cabeça”, penso eu…
É duro concluir isso, às estas alturas. Mas antes tarde que nunca! E sem ter visões, enxergo nitidamente fascistas, nazistas e racistas não apenas entre os mais próximos, aqui em Xanxerê, no Oeste, ou em SC, tem por tudo! Acredito que a brava, trabalhadora, honesta e muito valorosa geração de colonos europeus que desbravaram e colonizaram o Sul do Brasil inteiro, também trouxe, do velho continente, alguns hábitos “pouco recomendáveis”,no baú…. E faz sentido: Quando o fascismo e o nazismo eram “incubados” na Europa, nossos antepassados estavam chegando, para “fazer a América”. Dizem, e é bonito pensar, que muitos vieram para fugir da guerra, o que também é verdade. Mas as sementes, os valores, os ideais, daquelas tétricas ideologias (e eles nem sabiam disso), também já estavam impregnadas, em muitos deles. É muito triste, assustador, pensar “essas coisas” sobre nossos antepassados. Mas a História da humanidade não foi, nem é feita, apenas, de “coisas bonitas”! E nem por isso a obra gigantesca dos pioneiros será diminuída!
Eles, entretanto, não viveram, nem viram de perto a ascensão e a queda de Hitler, Mussolini et caterva. Não viveram os horrores que tais ideologias causaram por lá. E muitos, a maioria, também não teve tempo, nem leu sobre isso. E assim, não repassaram tais fatos, e seus tristes ensinamentos, aos filhos. Hoje, surgem no Brasil a toda hora novos estudos e teses de sociólogos, historiadores, analistas e estudiosos, identificando forte presença de – simpatizantes da ideologia, ou viventes em pele e osso – nazistas e fascistas nos três estados do Sul, especialmente. E no Brasil inteiro, também, embora em menor proporção.
Lamentavelmente, para mim é a verdade! Não é, entretanto, algo que não se possa contornar. Mas é importante ter essa clareza e esse conhecimento, para estar atento a eles! Basta lembrar daqueles “aparentemente inocentes” xingamentos que ouvíamos, muitas vezes, em nossa infância: ”Nègri, càin e Rospi…tutti compagne”!! (Aos mais novos: Negros, cães e sapos, todos iguais”!) Entre outros! E há bem piores…. Nos ultramodernos tempos atuais, não é justo, nem aceitável, ignorar, estimular ou tolerar, corruptos… E nem nazistas, fascistas, racistas e nem outros criminosos!