A maioria das pessoas com quem falei sobre a eleição municipal em Xanxerê dá o resultado das urnas com “fato consumado”. Ou seja: contam com o ovo ainda dentro da galinha. Liguei meu “modo avião” para tentar analisar essa quase certeza sobrevoando o pedaço, buscando uma visão mais panorâmica do cenário. Note que não estou dizendo que essa quase certeza esteja errada, nem certa. Apenas pretendo olhar de outro ângulo, para buscar o que falta para a certeza absoluta, ou para diminuir a tal certeza, mas sem querer puxar para um lado, nem para o outro…É óbvio que uma coligação que reúna diversos partidos que já venceram eleições para prefeito, e alguns desses partidos sendo historicamente adversários nas eleições, em princípio a grande coligação revela uma aglutinação considerável de forças políticas e lideranças capazes de influenciar, ou captar muitos votos, e alcançar a vitória. Some-se a isso o fato de a coligação reunir considerável, senão a maior parcela de empresários locais que, geralmente, conseguem influenciar o voto de seus colaboradores para o candidato de sua preferência. Mas a análise do cenário, como era de esperar, traz mais perguntas que respostas…
O outro lado desta análise pondera que parte das bases desses partidos coligados, filiados e simpatizantes, nem sempre aprovam a coligação consolidada, uns por não serem simpáticos união com tradicionais adversários. E nem sempre votam no candidato da coligação, não por ele, mas por não aprovarem a coligação com históricos adversários. Há, também, os tradicionais fiéis militantes e filiados que igualmente desaprovam coligações pelo fato de, depois de eleito o prefeito, este ter que “lotear” o poder com eleitores e lideranças dos partidos da coligação…O histórico eleitoral de Xanxerê na maioria das eleições mostra funcionários, empregados ou colaboradores de empresas votando, tradicionalmente, de acordo com a preferência do empregador. Falo tradicionalmente porque já aconteceram eleições em que essa orientação foi deixada de lado. E essa possibilidade já abala a convicção do fato consumado. Por outro lado, mesmo que isso venha acontecer – o trabalhador não votar naquele que o patrão prefere – há que se levar em conta que não há outra coligação de muitos partidos, há, sim, uma coleção de partidos praticamente sozinhos, ou ligados a partidos chamados de nanicos, o que pulverizaria os votos, favorecendo assim, a coligação tida como a mais forte…
E outro aspecto a ser considerado é a eleição nacional, em 2018, quando nomes que eram olimpicamente ignorados e até menosprezados acabaram por se eleger, naquilo que pode se chamar de “contra tudo e contra todos”. Os governadores dos três estados do Sul do Brasil cabem, perfeitamente, nesse modelito. Sem falar no atual ocupante da presidência deste país que no primeiro turno da eleição era visto com uma autêntica “zebra”, diante de nomes muito conhecidos na política nacional – com prós e contras, é verdade, mas bem mais conhecidos do que a tal “zebra”. O mesmo retrato foi possível ser tirado na eleição para governador de Santa Catarina. O Ex-candidato a Governador de SC, Gelson Merísio é testemunho – e vítima – desta nova visão do eleitor, na hora de apertar o confirma. Não é segredo para ninguém que Merísio cercou-se de apoios influentes e fez campanha intensa, para governador durante todo seu mandato como deputado estadual, e fez muito esforço, percorrendo várias vezes todo o estado, ocupando os meios de comunicação e articulando-se com muitos e poderosos empresários. Mesmo assim e com toda sua respeitada eficiência como estrategista político, Merísio foi surpreendido e decepcionou, já no primeiro turno. E aqui mesmo em Xanxerê, onde surgiu e cresceu na política, Merísio perdeu, de feio, a eleição no segundo turno para o desconhecidíssimo Carlos Moisés…
Ou seja, a prosseguir essa tendência do eleitor de votar no “novo”, o que inclui nomes não ligados a partidos tradicionais, a coligação xanxerense que reúne os partidos mais poderosos – e mais vezes vencedores de eleições – não deve e não pode considerar a eleição como fato consumado. E o exemplo é recente o suficiente para não poder se duvidar de um eventual repeteco. Não se pode assegurar que isso vá acontecer: o novo, de novo! Mas também não é saudável, digamos, desacreditar nessa possibilidade…As urnas, mais que antigamente, andam revelando muitas novidades, na contagem dos votos. O pessoal que defende “o novo” na política abrange segmentos que veem na coligação, tida como a mais forte, um indesejável continuísmo político. Já ouvi isso várisa vezes nos últimos dias…Ou seja, Apesar de nomes novos como candidatos, o entorno das candidaturas revela a presença de nomes bem conhecidos e alguns deles com a natural rejeição de quem está há bom tempo “em cena”. Mas o novo, por sua vez e como já comentei aqui, não tem conseguido, especialmente com o mandato do atual governador catarinense e com o mandato do atual ocupante da Presidência da República, convencer seus próprios eleitores de que sabem governar bem, ou que são capazes de resolver os problemas maiores que afetam a população: Emprego, saúde e segurança: As coisas seguem iguais, ou pioraram….
Deste modo, não há como dar a eleição xanxerense como fato consumado. E isso, penso eu, é bom para todos os candidatos. Até porque o “Já ganhou” é bem conhecido por derrubar muitos candidatos tidos e havidos como franco-favoritos. Aqui e em muitos municípios. Eleição, dizia um velho líder político xanxerense, já falecido, só se ganha depois de terminar a contagem dos votos. E isso ouvi há mais de vinte anos atrás, quando a imagem geral da política e dos políticos brasileiros dava de 5 a 1 na imagem atual. E os caras não era nem aos alemães, eram brasileiros mesmo! Assim, acho extremamente arriscado, e especialmente nesta eleição, apontar sequer algum favorito, na largada. Mesmo que esse provável favorito esteja – e deve estar, na frente nas pesquisas… O mais certo – e acredito que será o que todos os candidatos irão fazer – é sair atrás dos ariscos e revoltados politicamente, eleitores.
Dia desses conversando sobre a eleição com um velho amigo num supermercado, uma desconhecida senhora dos seus 50 anos, mais ou menos, interrompeu nossa conversa e lascou: ”O certo é não votar em ninguém”! Surpresos, eu e meu amigo tentamos demovê-la da ideia, mas sem êxito, pelo jeito. Argumentamos que a culpa é da gente mesmo, que muitas vezes votamos mal. E que o jeito era analisar bem em quem se está votando…Também não tivemos sucesso. E tivemos que ouvir a velha – e difícil de rebater – frase de que “São todos farinha do mesmo saco”! Tivemos que rir e desistir da tentativa de argumentar com a senhora. Como previsto, esse argumento segue muito forte, e tem justificativa óbvia: A política e os políticos brasileiros, digamos, “não passam por uma boa fase”… E essa bronca da farinha do mesmo saco deve ser o “prato do dia” a ser servido aos senhores candidatos….
Uma boa campanha a todos!