Fui conferir a passagem do despresidente por Xanxerê, pouco antes de sua chegada à frente da nova agência da Caixa Econômica Federal em sua nova sala, alugada, na Rua Victor Konder. Vi muitos apoiadores bem conhecidos e estranhei a ausência de outros tantos, ou mais, também apoiadores declarados. Não foi um grande público por lá – e não sou o único a achar isso. Com boa vontade dá para dizer: no máximo mil pessoas, em frente a agência da CEF. Público bem menor que os organizadores esperavam, acredito. E as fisionomias de Bolsonaro, Rodrigues e Jorginho, na volta à Chapecó – deu no Jornal Nacional e muitas fotos mostram – não demonstravam satisfação, nem ao menos alegria. Típicas caras de quem viu e… não gostou!
Mas analisando “a conjuntura”, especialmente de sexta-feira no Congresso, as caras de Bolsonaro & Cia, na “saída do baile”, poderiam estar refletindo os fatos da noite anterior. Especialmente com os depoimentos do Deputado Luis Miranda (DEM-DF) e de seu irmão Ricardo – chefe das importações de vacinas do Ministério da Saúde. Eles apontaram outro cachorro grande: O líder de governo na Câmara e ex-ministro da Saúde do Governo Temer, deputado Ricardo Barros (PP-PR) – que já é investigado por irregularidades enquanto ministro. Os depoimentos dos irmãos Miranda complicaram – e muito – o meio de campo de Bolsonaro, na CPI. Disso, não há dúvidas. Note-se que o deputado Miranda é base de apoio do governo, e NÃO É DO PT…..
E por aqui no sábado que mais me impressionou foi o volume de motoqueiros e suas potentes – e ricas – máquinas. E mesmo aposentado, repórter não perde cacoetes de décadas de trabalho na rua: Muitas motos de cidades gaúchas e paranaenses, integrantes adesivados de clubes de motoqueiros, que adoram “pegar a estrada”. Ainda mais se o combustível vier “na manha”. “Estradeiros”, e com combustível de graça, eles vão “até para Cuba”! Porém, mesmo em grande número, falar em cinco mil motos é exagero… O apoio das classes mais ricas ao desgoverno se mantém, mais ou menos estável, nas pesquisas, especialmente nos três estados do Sul. E não é por ser “bem de grana” que brasileiro classe média ou alta recusa gasolina de graça… Os motoqueiros e suas máquinas maravilhosas, despertaram mais interesse que o astro da festa, disso não tenho dúvidas. Mesmo que o astro fosse – e era – o despresidente do país.
A visita de Bolsonaro – sem um motivo forte, sem inauguração de obra pública federal e sequer notícias de recursos ou obras para a região Oeste deixou, é claro, a pergunta óbvia: Veio fazer o quê? Porque isso sai caro, e nós é que pagamos, inclusive… Mais: Com o país enfrentando nova onda de casos da Pandemia, com hospitais, inclusive os daqui mesmo, lotados, mais de 510 mil mortos, vacinas insuficientes para acelerar a campanha de imunização, inflação em alta… o despresidente veio…passear de moto? Fazer uma “motociata”? Bom, pode-se dizer que ele incluiu nova palavra no vocabulário regional. Mais, não dá para dizer…! Daí para ser mais que razoável, dá para dizer o que é óbvio: O despresidente com suas motociatas quer apenas fugir e desviar a atenção de Brasília, onde sua batata está assando. Em fogo alto, desde o depoimento dos irmãos Miranda, sexta-feira. E a “nova agência” da CEF é…uma sala alugada! Neste domingo(27), o Ex-deputado Kassab, dono do PSD, partido de apoio ao governo, também andou mandando bala no governo…
As visitas presidenciais a Xanxerê, cumpre observar, não têm sido prenúncios de boas notícias às suas excelências presidenciais. Em 1992, Collor veio fazer campanha para prefeito, apoiando o candidato apoiado pelo partido dele, o PRN, presidido em SC pelo então Prefeito Hélio Winckler, que perdeu a eleição. Collor veio em setembro, e caiu em dezembro. A Presidenta Dilma, também andou por aqui, logo de pois do tornado – e antes de cair do cavalo – derrubada por cômica desculpa de pedaladas, por muito ódio ao PT. E principalmente pela promessa de que era só tirar Dilma que tudo ficaria bem. Mas ficou pior! E já moí o milho desta Quirera várias vezes, e escrevo de novo: Não acredito que o despresidente seja apeado do cargo. Mas também não tenho dúvidas: Sua situação piorou, muito, depois da escandalosa tentativa de comprar as vacinas indianas. E dos depoimentos dos irmãos Miranda. Isso, como dizia um amigo, “vai feder!”
Não Foram…
Também preciso confessar uma notícia boa: Os xanxereenses, sábado, me surpreenderam. Passei no meio da concentração que aguardava o presidente e vi muitos conhecidos e assumidos fãs do despresidente. Mas NÃO vi por lá muito mais outros fãs do “mito”, que eu esperava ver por lá…. E conhecendo diversos dos ausentes, tenho certeza de que não cola a desculpa – eventual e hipotética – que não foram porque tinham algo melhor para fazer, ou porque estavam trabalhando. Conheço as peças e sei que não perderiam a visita do seu ídolo. Mas não foram, eu acredito, porque são pessoas que se mantém bem informadas. E já se convenceram que o mito era fake. Nada, hoje, dá ânimo para alguém defender – com fatos, não com declarações de amor eterno – esse governo. E as pesquisas estão apontando isso, há meses…
No Brasil inteiro, apoio “fechado com Bolsonaro” não passa, agora, de 30%. Isso com boa vontade…. Nunca foi tão pouco, e na sexta feira nova pesquisa – do novo Ibope – apontou que ele segue em desabalada queda de aprovação e de popularidade. Assim, foram menos que os esperados, os xanxereenses que se dispuseram a – ainda – demonstrar seu apoio. Principalmente se lembrarmos que mais de 60% dos eleitores daqui votaram nele. Mas isso foi há dois anos e meio. E destaco: a boa notícia não é a pouca gente que foi ver o despresidente. A boa notícia são os muitos que NÃO foram e que votaram nele, vendo que isso não foi uma atitude inteligente. Não são muitos, também hoje, os brasileiros dispostos a colocar a mão-no-fogo, por qualquer político, de todos os partidos!
E o maior motivo do naufrágio sem fim da popularidade do “mito” é a tragédia sem fim, e cômica se não fosse trágica, em que se transformou a campanha de combate do Governo Federal à Pandemia. Não me refiro “apenas” ao número absurdo de mais de 510 mil mortos, mas ao conjunto da obra. Semana passada seis capitais estaduais – incluindo Florianópolis, ficaram um dia sem vacinar por que…faltou vacina! E enquanto isso o despresidente vai ao interior paulista, pega criança no colo e …tira a máscara da cara da criança! Só esse ato inconsequente, burro e infantil, é capaz de anular a simpatia, eventual, causada por várias “motociatas”.
E aos negacionistas que ainda teimam em contestar tantas mortes, tem um número bem claro: O Brasil tem 2,7% da população mundial. E hoje, temos cerca de 13% do total de pessoas mortas pela Pandemia, em todo mundo! Ah, e em Xanxerê e Chapecó não se viu Bolsonaro usando máscara, como sempre! Mais? No início da pandemia, Bolsonaro afirmou que o governo iria que cuidar tanto da economia como da saúde pública. Pelo andar da carroça, não fez uma coisa, nem outra. Não se trata de ser oposição, trata-se de enxergar a realidade!
Quirera Gourmet