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28/05/2021 às 06:36
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Quirera Gourmet – 28/05/2021

Quirera Gourmet
Por: Romeu Scirea Filho

Assuntos Pouco, ou Nada Recomendados…

Pode parecer delírio, conversa que tem nada a ver, ou “pegar mal” falar disso neste “velho Oeste” catarinense. Ou talvez ainda seja muito cedo para debruçar, sobre a região, um olhar mais crítico, sem bandidos – nem famílias – preferido (as), por serem ricas e/ou poderosas, num tempo em que o Oeste ainda era um vasto sertão, quase sem lei…. Certos assuntos e acontecimentos ainda geram mal-estar, despertam sensibilidades por tocar em fatos que marcaram época, ou causaram históricas polêmicas, simpatias e antipatias, quase sempre relacionadas ao poder político – especialmente na Campina da Cascavel.

Amigos do Rei

Falo de 1964 para cá, quando os militares tomaram o Brasil de assalto e rasgaram a Constituição. Em seguida, para tentar dar legitimidade – e ares democráticos ao seu gesto, criaram a Arena. Este falso partido “renovador” foi o porta voz dos militares. E de renovador tinha coisa alguma, sua função foi consolidar, institucionalizar, o poder político que os militares, disfarçadamente, sempre almejaram… O golpe, cumpre lembrar, estava desenhado desde a morte de Getúlio Vargas, dez anos antes…. Então concretizado, quem fosse da Arena, tinha vaga garantida no céu, fora outros “pequenos favores”. E quem ousasse se contrapor aos interesses e posições políticas dos caciques arenistas locais poderia, de repente, ser convidado a dar algum depoimento na polícia. Afinal, o Brasil oficial acabava de se livrar da “terrível ameaça comunista”!!!

O Cabaré dos EUA

Hoje, pessoas bem informadas sabem que essa “terrível ameaça” nada mais era que a luta de uma parcela de brasileiros – que nada tinha de comunista – por um Brasil soberano, dono do seu nariz e verdadeiramente independente! E acima de tudo não atrelado à política e aos interesses apenas e tão somente do nosso “grande irmão do Norte”, os Estados Unidos da América! Para visualizar essa verdade basta lembrar que em 1961, Fidel Castro havia retomado Cuba para os cubanos, depois de um governo ditatorial atrelado aos Norte americanos. Isso privou nossos irmãos do Norte do seu mais famoso e badalado cassino e cabaré – papel que Cuba cumpria e agradava, demais, ao “Tio Sam”! Com Fidel acenando para a esquerda, em 1961, e Jango dando bola – e força – para sindicatos de operários e assalariados, na linha de Getúlio Vargas, os donos do Brasil fabricaram a “ameaça comunista”. E essa mesma ameaça foi usada agora para, novamente e sob a mesma mentira, defenestrar outra iniciativa de construir um Brasil para a maioria dos brasileiros, não apenas para poucos….

O Brics

E sob o argumento desta “ameaça” implantaram a ditadura, para “tomar lado” na guerra fria – conflito político universal entre URSS e EUA, desde o final da segunda Guerra, para ver quem dominava o mundo, militarmente e economicamente. Com os EUA já no posto de grande potência mundial eles não poderiam permitir que o maior país da América Latina pendesse para esquerda. E ficar “do lado dos americanos”, é bom frisar, sempre foi o maior sonho dos militares brasileiros! No momento em que o Governo Lula partiu para integrar e fortalecer o Brics (Brasil, Rússia, Índia e China) – um novo bloco de países em fase de expansão econômica mundial – isso naturalmente não agradou a maior potência mundial, há décadas no poder – e sem vontade alguma de desocupar o trono, é lógico. Ainda mais com o anúncio da descoberta, em águas brasileiras, de vasto lençol petrolífero, o pré-sal.

Moro, Pedaladas e CIA

Daí porque há fortes suspeitas (no mínimo) sobre contatos do então poderoso Juiz Sérgio Moro e da Lava Jato, com integrantes do governo Norte-americano. O golpe que derrubou Dilma tem muito a ver com esse cenário do Brics, do Pré-sal e do boom econômico que catapultou a China, principalmente, como nova potência mundial, apoiada pelos demais países do bloco. O mensalão e as “pedaladas fiscais”, com forte apoio da grande imprensa brasileira – tradicional e histórica aliada da elite econômica nacional, os grandes empresários – juntamente com a requentada ameaça comunista, “fizeram a cabeça” do povão, especialmente da alienada classe média, declaradamente fã dos norte-americanos. O sonho da classe média brasileira não é só Miami ou a Disney. Na verdade, esse sonho inclui o Brasil ser anexado, como um estado, ao país mais poderoso do mundo! Um famoso ex-ministro da ditadura é autor da pérola: ”O que é bom para os Estados Unidos, é bom para o Brasil”. E muitos seguem pensando bem assim…

Novo Ciclo

Mas voltando a 1964, esse “perigo” da ameaça comunista chegou até Xanxerê e ao bravo Oeste catarinense. Foi nesse período imediatamente após o golpe de 1964 que a região Oeste começou a despontar como mola propulsora da economia de Santa Catarina, especialmente com o fim do ciclo da madeira, o início do boom da soja, e com o fortalecimento das agroindústrias, frigoríficos, que viabilizaram o modelo de colonização com pequenas propriedades que, apoiadas ao sistema batizado de “integração” com a agroindústria, transformaram a região em forte produtora de suínos e aves. Esses eventos acordaram a região, com economia enfraquecida por conta do fim dos pinheirais. Nessa época as terras – agora sem araucárias e imensas matas de madeiras valiosas – começaram a ter valor para o cultivo de milho, primeiro, e depois, da soja. Com isso se iniciou o segundo ciclo da economia do Oeste, fortemente impulsionado pelo sistema de integração, adotado por frigoríficos de suínos e aves, de Concórdia e Chapecó, inicialmente, depois melhorado com o surgimento de cooperativas.

Mão de Obra Barata

No meio político esse ressurgimento de renovadas e poderosas forças econômicas teve reflexos claros. Os amigos dos governos militares, naturalmente, sempre tiveram facilidades, “ajudas” tanto por parte de governadores e governos estaduais, nomeados pelos generais presidentes, afinadíssimos a eles, quanto pelo Banco do Brasil, maior financiador da agricultura em boa parte do Brasil e aqui no Oeste, com certeza. Esse elogiável apoio oficial chegou, mas apenas aos segmentos mais fortes do novo ciclo econômico. E gerou um histórico calote, assunto para outra hora…Os pequenos proprietários rurais foram, aos poucos mas com eficiência, sendo engolidos pelos mais poderosos, calçados em suas alianças e apoios à Arena e aos governos militares. Pequenos agricultores, sobraram muito poucos, a maioria migrou para os grandes centros, em busca de salários, para garantir a sobrevivência dos filhos. E isso ajudou, também, a inchar as cidades de porte média – onde se instalaram as agroindústrias. E onde se precisava de mão-de-obra barata, logicamente. Deu tudo certo.

“Mala nas Costas”

Mas voltando ao poder concedido aos arenistas e apoiadores dos militares, lembro, por exemplo, que em 1988 ao trabalhar numa campanha para prefeito do então médico radicado na cidade há menos de dez anos, e brizolista convicto, portanto de esquerda, o Dr. José Bel, ouvi um xingamento (ou com a intenção de ser isso) de que Bel era um forasteiro, ou, para citar literalmente o xingamento, Bel era uma “mala nas costas”. Quem falou foi uma expoente – e arrogante – herdeira da Arena….Essa expressão de menosprezo, pejorativa, geralmente era direcionada a pretensos aventureiros, ou “picaretas” que costumavam baixar em Xanxerê e região. No caso, o xingamento escondia o motivo real: Bel era de esquerda, brizolista, antimilitarista, e nunca integrara a Arena local. E chamar recém-chegados, qualquer um, de malas nas costas, era tradição da arrogância herdada dos anos de ditadura, por muitos arenistas.

“Filhotes da Ditadura”

O candidato Bel ameaçava “tomar a prefeitura” da mão de ex-arenistas, com quem sempre esteve, desde a ditadura. O partido, com o nome Arena, sumiu do mapa bem antes de 88 depois que todos viram qual era seu papel. Virou PDS, e continuou sendo visto como uma filial da ditadura militar, daí passou a ser chamado de PP, depois PPB e hoje é o PP. Mas antes disso desmembrou-se depois em vários partidos, “filhotes da ditadura” – expressão se não me engano cunhada por Brizola, para denominar os envergonhados herdeiros (políticos e econômicos) do golpe militar de 1964.

Esse é a meu ver – com algumas pequenas variações e a grosso modo – o cenário político e socioeconômico do Oeste catarinense. Serve, também, para entender porque Jair Bolsonaro recebeu (e ainda recebe) na região expressiva votação e apoio na eleição de 2018. Por aqui, ser amiguinho dos militares sempre foi um grande negócio. Por isso, muitos entendem que o tema integra, ainda, a grande lista dos “assuntos pouco recomendados”. E jamais discutidos amplamente, em público… Porque podem, ainda, melindrar muitos “herdeiros”, ou “filhotes”.

Um bom fim de semana a todos (as)!

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