Tem muitos admiradores do atual despresidente achando pouco, ou nada, sua escancarada disposição de interferir em investigações da Polícia Federal. Muitas dessas pessoas postam comentários em redes sociais que, acredito, não teriam coragem de falar ao vivo e a cores. Interferir em investigações da PF – logicamente para livrar a cara dos amigos, ou parentes – significa chutar o balde das leis e tornar-se tão corrupto ou criminoso como qualquer bandido. A lei – dizia-se muito isso recentemente – é para todos. Se é para desrespeitar a lei, então que se feche o Congresso, cale-se o Judiciário e, diga-se para todo o povo ouvir, agora é ditadura! Daí o ditador também poderia proclamar, agora falando verdade, “quem manda sou eu”! No Brasil, segundo o que reza a lei, três poderes têm poder de mandar: O Executivo, o Legislativo e o Judiciário, cada um em suas respectivas praias e responsabilidades, e respeitando as esferas de cada um dos demais poderes! Chefe do Executivo manda, mas não em tudo, nem em todos. E não tem direito de interferir nas áreas de atuação do Legislativo, muito menos do Judiciário. A Polícia Federal, apesar de ter chefias indicadas pelo Executivo, responde e é subordinada legalmente ao Poder Judiciário. Se o Presidente precisa de informações sigilosas, deve recorrer à Abin, subordinada ao seu gabinete de segurança!
Também nos dias atuais – e desde bem antes da pandemia – muitos brasileiros acham legal fazer justiça com as próprias patas. Pior que isso, também entre eles muitos acham que são donos da verdade, mas não dizem onde foi que compraram a “verdade deles”…. Pensam que o que eles pensam e dizem SEMPRE é o absolutamente verdadeiro e correto, e não se fala mais nisso. São seres perfeitos, que nunca erram e tem 185% de certeza de tudo o que dizem e pensam. O que diz a ciência, as leis, os estudiosos, os especialistas e a própria milenar história da Humanidade, para esses estranhos seres, não vale nada. Eles aboliram, venderam, muitas verdades indiscutíveis e compraram verdades de sacoleiros, em que só eles acreditam. Isso pode servir para explicar como é que alguns teimam em acreditar que a terra é plana! Inclusive ministros do atual e destrambelhado desgoverno…
O sentimento de ódio ao PT, conhecido como antipetismo, tem semelhanças com o antigetulismo que provocou o suicídio de Getúlio Vargas em 1954 e adiou o golpe militar para 1964. As principais “coincidências” abrangem a participação maciça de parte da imprensa no convencimento da opinião pública, especialmente da classe média. Lá e cá, tal classe passou a se ver ameaçada pela ascensão das classes trabalhadoras – e pelo medo do “comunismo”- algo que não existiu nem antes, nem agora…. Se no antigetulismo emergiu como líder político o então governador do Rio, Carlos Lacerda e sua UDN, no antipetismo a grande estrela sem dúvidas é o Ex-ministro da Justiça e ex-Juiz Sérgio Moro. Ele foi o principal “cabo eleitoral” da eleição do atual chefe do Executivo nacional, com sua bandeira contra a corrupção. Moro virou ídolo maior dos bolsonaristas, e tinha até poucos dias maior aceitação popular que o próprio presidente. Desde a última sexta-feira, porém, a situação mudou e muito: Moro saiu do ministério atirando contra sua cria: Indiretamente taxou o despresidente de corrupto ao acusa-lo de tentar intervir na Polícia Federal para proteger possíveis crimes cometidos pelos seus filhos. Isso deixou muitos bolsonaristas numa sinuca de bico. Apoiar Moro e abandonar Bolsonaro equivale a reconhecer o presidente como um corrupto, como Moro deu a entender. E isso dói… De outro jeito, apoiar Bolsonaro e abandonar Moro seria chamar seu maior ídolo de traidor e até de…petista! É cedo para ver quem vai para a caçapa. Na situação anterior, Lacerda acabou cassado pelos militares, após o golpe de 1964, e morreu no ostracismo. Por enquanto a única certeza, cada vez mais visível, é a velha máxima “nem tudo é o que parece”. Ou, “as aparências enganam”…
A arrogância humana ganhou nos últimos tempos uma filha muito amada, uma queridinha: A cultura da ostentação. Alguns ídolos da música sertaneja são espécimes mais visíveis, mas não é só eles. Ostentar, mostrar que tem dinheiro, ou fama, passou a ser algo que (segundo alguns) enriquece ainda mais o dono do dinheiro. Humildade? Muitos já precisam ir ao dicionário para saber o que isso significa. A palavra e mais ainda a atitude caíram em quase total desuso. “Eu sou o cara” deveria estar escrito na bandeira de muitos brasileiros, especialmente muitos dos mais jovens. Não estou me queixando do lastimável menosprezo e descaso com que a atual juventude (não todos!) vê e trata os mais velhos. Estou apenas lembrando que tal atitude não é, digamos, muito inteligente. E inteligência é outra virtude que quase todo jovem de hoje acredita que tem para dar de graça. Se acham geniais, em tudo o que fazem… Os mais idosos, só para lembrar um exemplo, são muito respeitados – e reverenciados na milenar Cultura Chinesa – com milhares de anos e ultra resistente a guerras, pandemias, invasões e outras desgraças. Esses jovens, infelizmente, esquecem que envelhecer é conseguir manter-se vivo. E muitos deles, lamentavelmente, não conseguem!
Em ritmo de pandemia, Quirera Gourmet não tem dado muita atenção a fatos de Xanxerê e região. Reconheço a crítica de leitores – e conheço a índole aguerrida de alguns. Aguerrida e saudavelmente politizada, vale dizer. Na verdade tenho evitado analisar e comentar a atuação, por exemplo, de prefeitos e vereadores por um motivo razoável: Morei e vivi em Florianópolis de 2013 a setembro de 2019, não acompanhei (de perto) o andar da carruagem, e não tenho – por enquanto – a mesma rede de contatos (e volume de informações) que tive quando estava na reportagem diária. Estou tentando decifrar esse eterno quebra-cabeças que se chama o cotidiano de uma Xanxerê e região. Para complicar um pouco, a pandemia dificulta exatamente o que é mais necessário para se tentar fazer jornalismo, ou colunismo que seja útil, atrativo, e interesse aos leitores: Conversar com as pessoas, trocar ideias e as famosas “figurinhas”, ouvir críticas – que me atraem mais que elogios…enfim, “Quirerear” por aí, sempre é muito enriquecedor, e fundamental! Mas venho me esforçando para não deixar o isolamento tornar-se acomodação. E para lembrar que pandemia não é nenhuma mamamia. Devagar a gente entra em forma. E está entrando no mercado a recente safra de milho, que deve render muita Quirera!