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28/01/2021 às 07:34
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Quirera Gourmet – 28/01/2021

Quirera Gourmet
Por: Romeu Scirea Filho

O País do Futuro!

Lembro de ter ouvido, ainda a bordo de minhas calças curtas e decorado com topete no cabelo, no capricho do seu Zago, que o Brasil era o país do futuro. Não apenas gostei e acreditei na profecia, ainda lá nos 1960 e poucos, como passei a ter orgulho de ser brasileiro. Pelé, Garrincha, Vavá e Amarildo eram muito mais que ídolos. Eram para mim garantias que o Brasil, logo ali, virava grande potência mundial, não só de futebol, mas um grande país, temido e respeitado. Afinal, aos sete, oito anos de idade pisciano já sonha tipo gente grande. E cresci com essa retaguarda garantida: Somos o país do futuro! Temos a Amazônia e riquezas intermináveis, muito minério na Minas Gerais e um mundaréu de indústrias em São Paulo. O Brasil do futuro, o Brasil grande, era apenas uma questão de tempo…

Tio Sam

Aos 14 anos, em 1969, essa certeza começou a fazer água, mas não sumiu. Estudando em Curitiba e ouvindo meu irmão mais velho criticar a ditadura e os milicos, aprendi a pedir democracia, direito de greve, fim da censura, universidade pública e gratuita, ensino para todos, salários justos e imprensa livre. O país do futuro continuou bem vivo em meus sonhos, mas comecei a desconfiar que isso não viria assim de graça, feito feriado do dia sete de setembro. E fiquei sabendo que a nossa cantada e decantada independência não era assim nenhuma Brastemp… Também descobri que os Estados Unidos e seu apelido, o Tio Sam, não eram lá tão ”amigos do Brasil” quanto se dizia. Mas era bom ser amigo deles, porque assim os Russos não iriam invadir o Brasil e dividir nossa casa com os comunistas…

Guerra Fria

Também nessa época descobri que Fidel Castro e Cuba sim é que eram independentes. Valorosos e valentes, pois desafiaram nada menos que o país mais rico do mundo, para construir seu país, apesar de serem comunistas e protegidos pelos Russos, os comunistas. Daí fiquei com sérias dúvidas a respeito de Estados Unidos e União Soviética, com a tal da Guerra fria…E acabei concluindo que nenhum me servia… minha cabecinha, ainda xanxeriana, viu-se invadida por fantasmas, virou um Deus-nos-acuda, até eu começar a entender melhor as coisas. Ou conhecer como giravam as engrenagens que movem o mundo.

O Pasquim

Antes, no Colégio La Salle nunca peguei exame em História, só tirava cem e gostei muito de saber que um grego, um tal de Heródoto, ficou conhecido como o “Pai da História”. Virei seu fã número um! Para quem já gostava de ler e via o pai, desde os sete anos, sentar no sofá e abrir o Jornal, caiu muito bem. Em Curitiba descobri o cinema, chegava a ver três fitas num só final de semana. E também fui apresentado às graças da rebeldia, da sátira e da ironia política, que contestava a censura e a ditadura nas hilárias páginas d’O Pasquim, de Millôr, Ziraldo, Paulo Francis, Henfil, Sérgio Augusto, Jaguar e muitos outros. O Pasquim ainda é o maior Jornal que cheguei a ler, e deixou saudades eternas…

Elites

O País do futuro foi então substituído nas minhas caraminholas por um país cujo povo sempre teve forte influência militar: Me contaram que quando “proclamamos” a gloriosa independência de Portugal, ao ver o exército na rua, o povão achou que era um desfile militar, pois sequer imaginava do que se tratava…Então percebi que nosso povo não tinha estudo, sabia nada de História e muitas vezes era conduzido, manipulado e iludido por sonhos que não eram os seus sonhos. Eram sonhos d e uma elite econômica, os ricos, fazendeiros, industriais e banqueiros que – para minha revolta e profunda decepção eram patriotas só da boca para fora. Sua pátria era seu dinheiro, e sua família. Só.

“Patriotas”

Nesses anos de aprendizado comecei a ouvi falar em educação, passei a admirar Brizola, Paulo Freire, Ulisses Guimarães, Darcy Ribeiro, Miguel Arraes, João Goulart, Juscelino Kubistchek e muitos brasileiros escorraçados daqui porque eram “comunistas”, mas não eram nada disso! Eles apenas contrariavam outros “brasileiros”(entre aspas mesmo) que se diziam “patriotas” porque combatiam o comunismo e adoravam tudo o que os Estados Unidos adoravam. E odiavam tudo os que o Tio Sam adorava. Passei conhecer e acompanhar com um tal “colonialismo” político e cultural. Descobri que a verdadeira independência do Brasil ainda estava longe de acontecer. E que precisava ser construída, não existia um modelo pronto, à venda…

Linhas Tortas

Enfim, o mundo grande foi entrando por linhas tortas nas caraminholas de alguém que ainda sentia muita saudade de Xanxerê, dos campinhos de pelada, dos amigos, do Cine Luz e das férias na casa do meu Padrinho, Tio Arnaldo, lá na Linha Forquilha, interior de Vitorino. Mas passei no vestibular de Medicina, fui morar em Florianópolis, sai de baixo da saia da família e descobri a maravilhosa vida da república de estudantes, numa casinha lá onde hoje aparece a boca do túnel do Saco dos Limões, Junto com Ricardo, Lica e Betão Moschetta. Em duas semanas fiz mais amigos do que em cinco anos de Curitiba, Floripa entrou para sempre no meu coração, mas não no lugar de Xanxerê, insubstituível!

Futuro de Quem?

Nos três anos de faculdade de Medicina lia todos os livros, revistas e jornais que caíam na minha frente, menos os de medicina. E assim que descobri que estava na faculdade errada, desisti. Graças à infinita bondade do meu Pai, o “seu Romeu”, de saudosa lembrança, fui estudar Jornalismo, e nunca me arrependi da escolha, nem da profissão, embora ande “meio desacorçoado” com nossa imprensa em geral. Esses dias ouvi, de novo, que o Brasil ainda é o “País do futuro”. Mas desta vez veio acompanhado de uma pergunta: “Do futuro de quem”? Gostei muito a pergunta e comecei a lembrar destas passagens e de outras – que nem cabem todas aqui!

O Saber e o Conhecer

Pode ser que ainda sejamos o país do futuro, desde que (hoje, amanhã ou depois, mas o quanto antes) comecemos, o povo, ou a maioria da nação, comece a valorizar coisas que nunca perderam nem vão perder o valor: O estudo, o conhecimento, a cultura, a História,…o Saber! Admirei e admiro, sempre, a índole do povo brasileiro. Mas nunca antes de hoje vi tão claramente o quanto a maioria da população brasileira desconhece, ignora, e até despreza o conhecimento, a ciência, o saber. Somos imediatistas, queremos ir pra Camboriú, ou Floripa, morar na beira da praia, cervejinha gelada e camarão, afinal, ninguém é de ferro! Mas não pensamos em construir uma nação, o tal país do futuro. Isso é lá para os sonhadores, uma utopia…Só que para mim, ainda não é bem assim!

História – a Verdadeira!

Podem me chamar de Sancho Pança, ou com o nome do sonhador que melhor lhes convier, o da sua preferência! Mas ainda não consegui desapegar do país do futuro. Uma nação que orgulhe seu povo, que não tenha governos que envergonhem seu povo, sem políticos interesseiros, demagogos e mentirosos. Um país onde todos possam estudar e conhecer a verdadeira História de seu país. Não aquela que nos ensinaram, dos “heróis” da Guerra do Paraguai, nem a da “gloriosa” ditadura militar, ou melhor da “revolução que nos livrou do comunismo”. É difícil, eu sei, acontecer isso. Porque, para começar, teríamos que começar a escrever a verdadeira história do Brasil – que ainda muito poucos conhecem!

É Preciso

Mas navegar é preciso, viver não é preciso! Navegar no sonho de ver esse país riquíssimo e com um povo muito trabalhador encontrar o caminho que o leve ao futuro. E ao país do futuro, sempre esperado e prometido. É muito difícil que o encontremos, ou que eu ainda tenha tempo de encontra-lo, em vida. Mas nem que seja apenas com o cabo do facão, temos que ir à luta! Como bem sabemos, não será apenas assistindo um desfile militar surgido assim, do nada, que começaremos a construir o verdadeiro Brasil. É preciso ter (muita) luta, é preciso ter força! Podemos nos perguntar – e devemos: Mas começar por onde? Bom, para ser menos filosófico e bem prático, digo apenas e, obviamente, devemos começar …pelo começo! E um começo é difundir essas ideias, de país do futuro. Porque não?

E Vamos à Luta!

(Gonzaguinha)

“Eu acredito é na rapaziada/Que segue em frente e segura o rojão/Eu ponho fé é na fé da moçada/Que não foge da fera e enfrenta o leão/Eu vou à luta com essa juventude/Que não corre da raia a troco de nada/Eu vou no bloco dessa mocidade/Que não tá na saudade e constrói/A manhã desejada/

Aquele que sabe que é negro o couro da gente/E segura a batida da vida o ano inteiro/Aquele que sabe o sufoco de um jogo tão duro/ E apesar dos pesares, ainda se orgulha de ser brasileiro/Aquele que sai da batalha, entra no botequim/Pede uma cerva gelada e agita na mesa uma batucada/Aquele que manda o pagode e sacode a poeira suada da luta/E faz a brincadeira/Pois o resto é besteira

E nós estamos pelaí…” (E Vamos à Luta – Gonzaguinha )

(Contatos com a coluna:romeujornal@gmail.com)

 

 

 

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