Um dos maiores desafios no início da Faculdade de Comunicação/UFSC era ler em um ou dois dos grandes jornais do país um tema político em foco no final de semana – com prós e contras – e produzir um famigerado e odiado – porque difícil – texto chamado “análise de conjuntura”. Nele o aluno não deveria tomar partido ou defender, ou condenar a posição A ou B, mas descrever com argumentos próprios o que ele entendeu que estava acontecendo. Uma leitura dos fatos, sob a sua ótica e opinião. Neste domingo (26/04), depois do terremoto que o Ex-ministro da Justiça Sérgio Moro provocou com seu pedido de exoneração, tento fazer novamente aquele famigerado “dever de casa”. Porém, adianto: Como até a “estátua “ da espiga de milho do Parque Rovilho Bortoluzzi sabe, não votei e sugeri a amigos que não votassem no atual presidente, por considerá-lo despreparado para presidir esse surreal e confuso país. Mesmo assim, tento passar o que vejo, no que temos aí hoje – E acho que nem dá para chamar isso de “cenário”, parece mais o caos.
Começo apontando algo positivo na formação do atual governo: A intenção de montar um ministério eminentemente técnico, com profissionais conceituados, apartado do fisiologismo de viciados partidos políticos e do toma-lá-dá-cá que caracteriza a política brasileira, desde sempre. Com o grande descrédito popular da classe política, considerei correta e até elogiável essa opção. O loteamento de cargos nos Governos FHC, Lula e Dilma (para citar só os últimos eleitos) é para mim até hoje uma negociata inaceitável: um governante eleito deve atender as necessidades da maioria da população, sem levar em conta partidos políticos. Em boa parte, mas não em todos os ministérios, nomes técnicos foram empossados… Mas muitos deles estavam longe de ser apontados como “conceituados” ou de notório saber. Predominaram ilustres desconhecidos ou pior: Nomes que inspiravam pouca ou nenhuma confiança em suas respectivas áreas.
Cito alguns: Um obscuro astronauta na Ciência e Tecnologia, um ex-professor colombiano na Educação (durou alguns meses e foi trocado por outro que também não conhece a educação brasileira), e um diplomata de carreira que acredita na terra plana, nas relações exteriores. Sem esquecer que outros ministros foram, sim, indicados para agradar partidos e segmentos políticos: No Ministério da Agricultura, no Ministério do Meio Ambiente e no Ministério da Justiça – onde Sérgio Moro tinha notórios, inegáveis e espúrios, compromissos com o PSDB, por exemplo. Há outros, em escalões inferiores. Então, o ministério escolhido nem era 100% técnico, nem tinha pessoas consideradas especialistas, com grande conhecimento em suas áreas. Há outras falhas imperdoáveis: O novo governo extinguiu o Ministério da Cultura e encolheu ministério e participação das mulheres. Damares Alves até hoje serviu apenas para chacotas e talvez seja a de pior desempenho. Mas essa disputa é acirrada com Ernesto Araújo, um terraplanista, e outro desastre, assim como Marcos Pontes, cujo grande atributo é ter viajado como astronauta. Temos ainda o Ministro Abraham Weintraub, que não sabe escrever e é um estranho na Educação. Já o Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, foi condenado em dezembro de 2018, por improbidade administrativa: Enquanto Secretário do Governo Alckmin, em São Paulo, teria adulterado mapas, para beneficiar mineradoras.
Mas o lado negativo do início deste governo (que passei a chamar de desgoverno após conferir o ministério) foi outro: Não vi, em nenhum momento (até hoje) o eleito conclamar a nação para o sempre necessário e útil desarmamento de espíritos – mesmo que seja impossível, sua obrigação enquanto eleito pela maioria era, ao menos, tentar pacificar os ânimos. Dialogar. Fez exatamente o contrário: Chamou os derrotados de socialistas – coisa que o PT nunca foi, infelizmente, para mim; taxou de comunistas quem o criticava e sentou o coturno nos fundilhos de todos os que não votaram nele. Pior foi descobrir que o atual primeiro mandatário tinha outros para mim graves cacoetes: Só quer elogios, bota toda a culpa na imprensa, com quem não sabe lidar, não aceita críticas. E quer governar como um imperador, tentou diminuir ou ignorar o Poder Legislativo e até o Poder Judiciário. A Democracia que ele entende passa longe do real. Aos poucos, cercou-se de generais, como se só nas forças armadas existam pessoas aptas a serem ministros. E arrematou a obra ao eleger seus três filhos como principais conselheiros políticos. Não sei se na História do mundo existe algum imperador que tenha feito isso, acho que não. Os três até hoje causaram mais problemas do que ajudaram seu pai e seu (des)governo. São mal-educados, incultos, inexperientes, patéticos e espalham o ódio, além de estarem sob fortes suspeitas de terem cometido ou participado de crimes. A participação de entidades da sociedade civil também foi drasticamente podada, em quase todos os ministérios.
De todos os seus ministros, dois ou três se sobressaíram nesses um ano e quatro meses; Luis Henrique Mandetta, na Saúde – principalmente por sua atuação na Pandemia. E Paulo Guedes, superministro da Economia, o “Posto Ipiranga”, passou um ano e quatro meses dizendo “agora vai”, mas nada mudou, para melhor. Alguns indicadores importantes (desemprego) continuam em queda livre. Outros estão na mesma…E Sérgio Moro, mais por ser um ícone do antipetismo (e queridinho da Globo) que elegeu o atual presidente, do que por sua atuação no Ministério da Justiça. Lá, pisou feio no tomate, várias vezes. Exemplos? Tentou diminuir o imposto sobre o cigarro, fez olhar de paisagem na apuração de supostos crimes que envolviam filhos do presidente e aliados, como o caso Marielle, o sumiço de Queiróz. E pior ainda, ignorou a tentativa de homicídio, durante a campanha, contra o próprio despresidente – como o próprio despresidente assinalou ao rebater críticas de Moro, na sua saída. E o agora Ex-Ministro da Justiça, para mim um atabalhoado alpinista político, que não mede consequências para alcançar seus objetivos, sejam eles o STF ou a presidência da República – para mim o mais provável, como se viu de sexta até ontem, domingo, na Rede Globo – que já está em campanha para Moro!
Moro sabe que foi o principal ator da campanha midiática e das elites econômicas para construir com sucesso a maior torcida de ódio das últimas décadas: O antipetismo! A cavalo deste sentimento já em desconstrução, mas que contamina muitos, até hoje, está(ou estava) Sérgio Moro. Ele pretende, ou pretendia, cavalgar nele até a eleição…O antipetismo, igual ao antigetulismo construído por Lacerda e imprensa na década de 1950 contra Getúlio Vargas, já dá sinais de enfraquecimento. Mas por enquanto o antipetismo vigora e é fundamental: Indiscutivelmente foi a maior força na eleição do atual despresidente – que o mesmo Moro agora abandonou, chutando o balde, e gerando ódio em… antipetistas, seus agora ex – amigos. Para mim sua (bem estudada) saída do governo teve três motivos: 1) Avaliou que o desgoverno está indo a pique.2) Viu que não seria indicado para o STF, e fosse teria sérias restrições a superar. E 3) Não teria apoio do seu agora ex-chefe e apoiadores dele para ser candidato a presidente. Resumo da ópera: Moro pediu o boné porque viu que dessa “moita” não sairia o seu coelho. Oportunista, sim. Honesto ou fiel à lei e ao Estado de Direito? Não. Jogou para a torcida – inclusive da esquerda – para parecer honesto, por conveniência: Juiz que instrui e orienta, manda em promotores, em qualquer processo, conspurca e desmoraliza qualquer Poder Judiciário – como reconhecem – publicamente – grandes juristas nacionais e de muitos países.
Lendo a grande imprensa no final de semana, a opção mais interessante para Moro Ex-ministro seria ir morar em Nova Iorque, abrigado no colo dos seus amigos norte-americanos, grandes beneficiários de seu trabalho na Lava jato. Pode viver tranquilamente, ganhar algum como palestrante em universidades e ficar longe do olho do furacão, que ajudou a eleger. E ainda se preservar para a eleição de 2022. Uma grande jogada! Outra opção, numa eventual queda do despresidente, seria voltar, glorioso, ao Ministério da Justiça com o atual Vice, General Mourão assumindo a presidência. Outra boa jogada. Para ele, Moro! É o que eu penso!