Acompanhei a ampla cobertura do Jornal Nacional sobre a “Operação Lava jato” e, desde o começo, acreditei que tinha alguma coisa no mínimo muito estranha nesse negócio de todos os dias ter “furo de reportagem”, com matérias exclusivas, depois requentadas por outras redes de TV e, no final e semana, pela Revista Veja. Qualquer repórter de rádio, jornal ou TV sabe que colecionar furos de reportagens assim, um atrás do outro, é ficção, não é normal. Nem comum, nem possível, a não ser que exista alguma ajudazinha extra, algum acordo por trás das bombas. No caso, é lógico, com os procuradores da operação, ou com a agora batizada de “República de Curitiba”. A Lava Jato nunca me convenceu ser uma operação anticorrupção. Ela sempre teve outras intenções. E não reveladas.
Seja como for, foi um esquema que fez extremo sucesso, funcionou a contento e atingiu plenamente seus objetivos na intenção – que aos poucos para mim ficou clara – de culpar o PT por todos os roubos deste país, desde Cabral. E pior: Desenhar todo petista como corrupto, ou ladrão mesmo! A Lava jato revelou esquemas de corrupção, é claro, e muitos! Mas foi cuidadosamente seletiva, não “pegou parelho”. Os grampos revelados pelo The Intercept Brasil, por exemplo, mostraram claramente que conversas suspeitas de FHC – para citar um exemplo bem vistoso – não interessavam à Lava Jato. E não se falou mais nisso. Há outros exemplos, do mesmo tipo e diferentes, mas com a mesma intenção: Proteger quem não era do PT. E mandar os petistas para a guilhotina da opinião pública.
Em 2014, quando passei a morar em Florianópolis, acompanhei e monitorei (até não aguentar mais) as edições do Jornal Nacional. E construir uma estatística do noticiário pode ser coisa bem simples: Passei a anotar quantas matérias do JN era desfavoráveis, quantas neutras e quantas favoráveis ao governo Dilma. Sem nenhuma surpresa, deu que as notícias negativas, tanto reais como as fabricadas ou forçadas davam de goleada, eram 90% ou mais do noticiário. Não por acaso na mesma época pipocavam pesquisas de opinião quinzenais ou semanais, apontando a queda vertiginosa da aceitação popular em relação ao Governo Dilma Roussef. Era um verdadeiro massacre, quem tiver dúvidas é só conferir o noticiário dessa época. Em circunstâncias “normais” essa estatística quase sempre indica um equilíbrio entre os três tipos de matérias. Ou uma pequena supremacia de uma. Mas muito raramente a goleada (de matérias desfavoráveis)que ficava bem nítida, todos os dias!
Poderia, se me desse ao trabalho de pesquisar um pouco mais, lembrar muitos episódios desse bombardeio feito pelas grandes redes de TV em tabelinha com a Lava Jato, com repique semanal na Veja, que por sua vez era destacada no JN… Note que não estou reclamando das muitas críticas, justas, feitas ao governo, algo que jamais irei achar injusto. Aquilo era um massacre, muito mais que apenas um excesso de críticas. Dava para ver claramente, com muita nitidez, a intenção do JN naqueles dias. Mas os sinais de ataque em masa contra o PT não vieram apenas daí. Um dos maiores ícones da extrema direita brasileira, contumaz inimigo e crítico do PT desde sempre, o “Kaiser” Jorge Konder Bornhausen, avisou, sem meias palavras, acho que em 2013, ainda, referindo-se ao PT :” Nós Vamos acabar com essa raça”! A manifestação de JKB chegou a merecer resposta de Lula, mas ninguém se deu ao cuidado de interpretar aquele aviso…
Outro claro sinal de que houve cuidadosa armação para derrubar o Governo Dilma veio do famoso telefonema grampeado, entre um diretor da Petrobrás Distribuidora e do então senador Romero Jucá (PMDB) – também um dos beneficiados pelas vistas grossas da Lava Jato. Na conversa Jucá diz com todas as letras que com a Dilma a caça aos corruptos não iria parar – e Jucá era um dos investigados. E que a única maneira de “estancar a sangria” era tirar ela de lá. Para isso Jucá assegurou ao telefone ter apoio de todos: ”Com Supremo, com tudo”, disse. E a frase até hoje está no ar, sem que houvesse alguma explicação plausível, a não ser a armação e a confirmação do golpe. Ainda falta vir à tona alguns detalhes dele, mas acredito que isso não vai demorar.
Nesse quebra cabeça, nas minhas contas ainda está faltando encaixar uma importante peça: Porque só agora o STF resolveu “enxergar” o que muitos – não só eu – já enxergavam lá atrás: Moro estava caçando Lula, para ele não ser candidato. E como pano de fundo, jogando o PT para os leões através da mídia, dizia-se que tudo era combate à corrupção. E era (muito mais) combate ao PT do que combate à corrupção! E com armas ilegais. Pode-se dizer que o STF resolveu agora desmascarar Moro e a Lava Jato porque a eleição já foi e Bolsonaro se elegeu. Mas não acredito nisso. Acredito, sim, que ainda teremos grandes revelações (desconhecidas até agora) sobre o “entorno” que desencadeou a operação lava Jato. Muito provavelmente com participação direta dos Norte Americanos. E do Governo Obama – o mesmo que chamou Lula de “O Cara”… Eu nunca levei os Norte americanos muito a sério…
O fato é que não restam mais dúvidas da armação chamada Lava jato, vestida com a carapuça de caça à corrupção, a operação favoreceu interesses estrangeiros e causou sérios danos à economia e às empresas brasileiras. É óbvio que a grande imprensa, por enquanto não tem interesse em falar nisso: Ano que vem tem eleição para presidente, de novo! E ao que tudo indica dessa vez será difícil prender Lula outra vez. Até me divirto, hoje em dia, quando leio brasileiros que pretendem ser levados a sério, ainda e de novo chamando Lula de ladrão, sem nenhuma prova! A equação ficou bem fácil – facílima – de ser resolvida: Se Lula efetivamente fosse ladrão, a Justiça brasileira, a grande imprensa, o imenso poder da direita, o Ministério Público Federal – ou os que o chamam de ladrão – teriam conseguido provas do roubo. E Lula estaria preso, enquanto Moro estaria quase eleito presidente do Brasil! Mas deu errado! E há um certo”o que eu faço agora”, no ar. Além dos aviões de carreira…
Não sou advogado, mas conheço alguns, de grande conhecimento jurídico. E acompanho pela imprensa a manifestação de juristas, especialmente os não atrelados a qualquer ideologia ou partido político. E sobre o que aconteceu com Sérgio Moro nem é preciso ser ‘grande conhecedor’ do Direito para saber o pecado “básico”, ou “primário” cometido por ele: Juiz não pode – pela lei brasileira, por enquanto instruir o promotor – responsável pela acusação a quem está sendo julgado. E era isso que Moro fazia, na cara dura e tentando, até agora, negar. Mais: o fato de, só agora, o foro da Justiça Federal de Curitiba ser inapropriado para julgar Lula, quanto ao sítio e ao tríplex – como alegou o Ministro Edson Fachin – só expõe mais ainda a farsa da Lava jato. Fachin, na verdade tentava livrar a cara de Moro, certamente com vistas à eleição para presidente.
Mas deu errado. Porque – ignoro os motivos – o Ministro Gilmar Mendes resolveu colocar pontinhos “em alguns is” não em todos. Talvez por entender que Fachin estava tentando ser – “muito” – cabo eleitoral de Moro. Mas isso está longe de tornar Mendes favorável a Lula ou a qualquer candidato de esquerda. Acredito que foi apenas para queimar o filme de Moro – que já cumpriu seu papel no golpe. Descobriram só agora que o foro não era Curitiba porquê? Moro é carta fora do baralho, e Bolsonaro não agradou… Se faltam provas contra Lula, sobram provas para concluir que a Lava Jato, infelizmente, combatia um partido político. E disfarçava dizendo combater a corrupção! Ficou claro que conservadores e direitistas estão, ao menos publicamente e por enquanto, ainda sem candidato a presidente. Mas isso não é privilégio: a esquerda, embora Lula esteja elegível (por enquanto) também não tem um nome para aglutinar todas as correntes. E isso também por enquanto…
Quirera Gourmet