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25/11/2020 às 08:19
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Quirera Gourmet – 25/11/2020

Quirera Gourmet
Por: Romeu Scirea Filho

Um Velho Ateu

(P.Cesar Pinheiro/Eduardo Gudin/Roberto Riberti)

Um velho ateu/um bêbado, cantor poeta/

Na madrugada/cantava esta canção-seresta…

Se eu fosse Deus/a vida bem que melhorava…

Se eu fosse Deus/daria aos que não tem nada…

E toda janela fechava
Pros versos que aquele poeta cantava
Talvez por medo das palavras
De um velho

De mãos desarmadas

“Se eu fosse Deus…”

Gosto, muito, de letras de músicas que conseguem, em poucos versos, desenhar, pintar e bordar, e nos apresentar na bandeja – com rara simplicidade, vistas panorâmicas  de pensamentos, desejos, projetos, sonhos e utopias, entre outros sentimentos. Me identifico, visto a fantasia, viro personagem do recado, igual a “um velho de mãos desarmadas”. Ou “um velho ateu, um bêbado, cantor, poeta”… E admiro, aplaudo e saúdo o autor do verso “se eu fosse Deus a vida bem que melhorava”. Sou Católico não praticante e acredito naquele Deus de Spinoza, que mora um pouquinho dentro de cada um de nós. E o desapego do poeta ao abdicar de pedir a Deus qualquer coisa para si mesmo é exemplar! “Se eu fosse Deus, daria aos que não têm nada”! Não sei qual dos três “cometeu” esses versos, mas parece ter o DNA de Paulo Cesar Pinheiro, um poeta de inspiradas obras!

Sapos Ou Pedras

Precisamos da poesia, penso eu, para não virarmos sapos, ou pedras. Os dias de Pandemia nos envenenam mais que os dias normais – aqueles que, suspeito, talvez jamais voltem. Mas nem por isso vamos abandonar a poesia, porque navegar é preciso! A poesia é um dos atalhos mais curtos e rápidos para voltar aos doces anos de infância e da adolescência. Sapos e pedras devem ter seus rasgos poéticos, sua poesia também, lá na linguagem deles. A do sapo quando coaxa em dias de chuva, na lagoa. As pedras quando rolam ladeira a baixo, nas águas de março ou abril. Ou sempre que as águas anunciarem que vão rolar. A indiferença dos que não escutam, nem fazem, nem vivem com poesia, ou são indiferentes, também vira poesia, pois “toda janela fechava/pros versos que aquele poeta cantava…Talvez por medo das palavras/De um velho/ De mãos desarmadas”.

Reles Escrevinhador

Sempre quis escrever versos, poemas, poesias…porém ainda não aprendi traduzir para as “pretinhas” do teclado as sensações, sentimentos – e alucinações, mesmo as apenas ligeiramente poéticas, que habitam o cabeção e o coração. Mas sou novo, ainda, e brasileiro, não desisto! Qualquer dia pode ser que o poeta desponte, ou me atropele… E também não vou sair por aí correndo atrás. Prefiro continuar minha parceria com estas mal traçadas, e afinar, ou afiar meu faro de reles escrevinhador, contador de “causos”, provocador de arranca-rabos, personal trainer da imaginação sem eira nem beira, bêbado, cantor (e projeto de) poeta. Bêbado, no caso, da minha reserva exclusiva, aclimatada e acondicionada em requintada adega, luxuosamente disponível no meu próprio “volume morto”! Nela não existe lei seca, nem dá estiagem. Tenho suprimento garantido e suficiente enquanto respirar. Minha cota de engarrafados foi bem aproveitada, mas acabou. Sem queixas!

Polêmicas

Na década de 1970, O Pasquim – que considero o jornal mais inteligente, hilário e provocante que li, até hoje – discutia aparentes temas supérfluos, que abriam intermináveis debates. Um deles que lembro bem foi se a Poesia era ou não necessária…Lógico que com uma seleção de ótimos humoristas e cartunistas da categoria de Millôr, Ziraldo, Henfil e Jaguar, entre outros, qualquer tema descambava para o riso e o absurdo, carregado de ironia e irreverência, que só tornavam as coisas mais atrativas. E polêmicas. Gosto de polêmicas primeiro porque fazem pensar, e em segundo lugar porque nos lembram que literalmente ninguém é dono da verdade. Não lembro como terminou o debate sobre a poesia ser ou não necessária, mas isso também não era o mais importante. Importante foi colocar a Poesia na prateleira das coisas que também se pode dispor, comprar ou emprestar de algum livro de algum desses geniais malucos que viveram – e morreram – de Poesia!

Maricas…

Tornar popular e difundir manifestações culturais tidas e havidas como ”coisa de rico”, ou privilégio de poucos, ou vistas sob vários outros tipos de preconceitos inaceitáveis, também é forte argumento a favor da Poesia. A cultura machista também taxou, ou taxa, a Poesia como desnecessária “frescura”, e os poetas como loucos, ou efeminados. O tal brasileiro “médio” levará anos para livrar-se de rótulos, discriminações e preconceitos: Samba era coisa de pobre, negro e favelado. Teatro era para homossexuais, carnaval era só depravação, pecado. Balé? Só para filhas de gente do dinheiro, e se fosse um bailarino…era viado! Na semana passada o (des) presidente rotulou de “maricas” aqueles que se protegem da Pandemia! Vamos de mal a pior…

Poesia, na Veia!

Naqueles dias em que se falou muito em “novo normal”, imaginei que esses horrorosos preconceitos sofreriam pesadas e merecidas perdas! Mas, me engana que eu gosto! Piorou, e muito! O negacionismo da ciência, da tecnologia, de grandes obras e gênios, e de utilíssimos feitos da evolução humana… só piorou as coisas. Até a antiga lenda de negar que o Homem chegou à lua, voltou à moda nas redes sociais. E ainda não estamos idolatrando um bezerro de ouro, mas nada garante que isso não aconteça, ainda neste ano da Peste de 2020…. Por essas e muitas outras, Quirera Gourmet, recomenda: Reduzir Facebook. E usar Poesia, três vezes por semana, na veia! É de rasgar o cheque do leite!

Ignorância Indomável

As tentativas de domesticar o bicho-Homem e domar sua pretensa superioridade intelectual e física sobre outros animais veio a falhar – se observarmos bem alguns comportamentos. Apesar de, quando vemos uma turba, ou uma tropa, ou uma “boiada humana”, sendo conduzida e manipulada pacificamente para o abatedouro, a certeza é de que as táticas de domesticar essas feras, funciona! Por “domar” entende-se tornar menos selvagem, mais amigável. Já “domesticar” deve ser algo como “tornar doméstico”, da casa, íntimo e sujeito às obrigações e deveres vigentes. Temos, é claro, o direito de achar que sabemos tudo, e até negar que a terra é redonda, ou que o Homem foi até a Lua, e que vacina provoca doença. Algumas partes das cabeças de alguns de nós trazem uma ignorância indomável! E nesse caso, amigos e amigas, melhor apelar para a Poesia, pois a realidade pode ser desalentadora! ” Um velho ateu/um bêbado, cantor, poeta…”.

 

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