Quase no mês de outubro, a primavera na área, a Pandemia faz que vai, mas não vai embora…o ano da peste de 2020 entra na reta final e a Humanidade continua piorando. Faz tempo que não temos uma notícia animadora, para todo mundo, nossos ídolos e conhecidos mais antigos estão se despedindo e novos ídolos demoram a chegar. O futebol, pela TV e sem torcida no estádio, perdeu a metade da atração e parece partida de xadrez. E até as novelas são apenas repetecos de tempos antigos. O governador de Santa Catarina pode ser cassado por deputados. Mas ninguém está nem aí, nem para o governador, nem para os deputados, nem para a cassação. A campanha para eleições municipais ainda não decolou, mas também parece emocionar muito poucos. Mesmo assim, após um ano vivendo novamente em Xanxerê e apesar das constatações que a violência entre seres humanos só aumenta, acho que a vida segue seu ritmo também sem grandes solavancos, a não ser a Pandemia – sem dúvida o grande acontecimento do século, até agora. Vale a pena saudar e comemorar a vida, sim, mesmo que elas às vezes se apresente com nuvens pesadas e tempo feio. Mas é primavera e tudo pode melhorar!
Escrever diariamente essas linhas tem sido um desafio e uma alegria – dentro do novo cenário da vida de aposentado, sem muitos horários, a não ser o do dentista, do médico e de esportes condizentes com os 6.6 de idade. Nesse departamento, comecei a “medir ruas” da minha cidade natal, após o ponteiro da balança bater nos antipáticos 90 e poucos quilogramas. Pela idade ainda estou proibido de entrar em academia, coisa que tinha programado fazer pela primeira vez, na vida. Mas a Pandemia não deixa. Andar pelos bairros xanxereenses traz algumas notícias, a principal é que nunca tinha visto tantas igrejas no pedaço. Imagino o número de pecadores…. Em alguns bairros chegam a três ou quatro. E todas, ou a absoluta maioria em instalações novas, bonitas e bem cuidadas. Estavam certos alguns amigos que diziam tempos atrás que o “negócio” era abrir uma igreja e lembro de um que até criou uma fictícia. Não deu lucro, mas foi bem divertida. Também fiquei admirado de ver o crescimento de Xanxerê. Depois de viver em Floripa de 2013 a 2019, o retorno me mostra muita gente que não conheço, nunca vi. Antes de sair daqui, e depois de ter passado 25 anos trabalhando na rua como repórter, tinha a impressão de que conhecia mais da metade dos xanxereenses. Hoje, se chegar a 30% é muito. Em restaurantes, supermercados ou andando na rua às vezes tenho a impressão e estar num lugar estranho, onde não conheço quase mais ninguém…
Mas não desanimo, nem deixo o baixo astral querer se instalar. Dia desses lembrei a um amigo da minha idade que tempos aí uns 15, no máximo 20 anos de vida ainda. E que é preciso aproveitar esse tempo que nos resta. Ele me enviou um vídeo, onde alguém pergunta a Galileu Galilei quantos anos ele tinha. Galileu respondeu que uns sete ou oito. Porque os outros já não tinha mais, já tinham desaparecido, consumidos pela implacável roda do tempo. Assim, concordamos eu e meu amigo, que temos que viver bem, mesmo não deixando, é claro, de fazer algumas queixas e reclamações de praxe. Mas usando o tempo principalmente para fazer o que gostamos, sempre que isso é possível, é lógico. Também é boa essa idade porque não temos pressa e nem os sonhos grandiosos que nos davam ansiedades e frustrações, na juventude. Hoje penso que tendo condições de viver modestamente, com dignidade e sem luxos, já é um grande conforto, ou um luxo mesmo. Nunca fui uma pessoa ambiciosa, de sonhos mirabolantes, mas a gente sempre sonha, mesmo agora. Particularmente gostaria de viver ainda alguns anos num lugar bem escondido da civilização, mas não sem os confortos que ela hoje nos proporciona.
Sempre disse que gostaria de morar numa casinha no meio do mato, à beira de algum riozinho cujo barulho das águas embalassem meu sono. Até agora não consegui, mas ainda espero conseguir, se Deus quiser. Se não der, trago já o mato e o riozinho comigo, por onde quer que eu ande. E isso não é consolo, é compensação por não ter materializado o sonho. E a compensação também não é ruim. Tenho uma companheira agradável e insubstituível, com quem pretendo continuar até que a vida nos permita conviver, e ela há de permitir, mesmo que sejam aqueles mesmos anos do Galileu. Também sempre disse que quero viver até ficar bem lelé da cuca, totalmente caduqinho, chamando “jisuis de jenésio”, mas com saúde física. Não suportaria dar trabalho aos outros, por conta de males físicos que, de novo graças a Deus, não me pegaram. Também gostaria de conhecer netos, vê-los crescer e ensinar a eles algumas coisas, talvez nem muito edificantes, nem muito úteis, mas que eles lembrassem para o resto de suas vidas. Tive uma grande amiga já idosa, a bisavó das minhas filhas. Com ela aprendi que avôs e avós não existem para educar, que isso é papel dos pais…Avós e avôs são para ensinar artes, traquinagens, artimanhas e malandragens. Os pais que se virem depois para endireita-los, se for o caso. Afinal os filhos são deles…
E enquanto os netos não vêm – e talvez nem venham, gosto de lembrar de meu pai e de minha mãe. Ambos da paz, que criaram seus filhos com muito amor, atenção e autoridade. Hoje, infelizmente, os filhos que a gente criou não tem conosco a mesma interação e o mesmo carinho que tínhamos como nossos país. Mudou tudo, mas não culpo minhas filhas por isso, é o mundo que ficou assim, a vida nos conduz por caminhos que não conhecemos. Então, basta-nos estar vivos e poder ver que nossos filhos levam uma vida saudável, que trabalham e batalham para construir seus sonhos e viver suas vidas. Nossos filhos – hoje mais que nunca – não são “nossos”, são filhos de um mundo pequeno, frio e sem muitas das atrações e alegrias que nós, em nossa juventude, tivemos. Não trocaria minha juventude pela juventude de hoje – nada contra os atuais jovens, é claro. Apenas acredito que nosso tempo de jovens era bem mais misterioso e atraente, havia muitos segredos, muitas perguntas sem respostas, muitas verdades a serem descobertas. Hoje os jovens sabem tudo – e ainda bem que é assim, porque com tantas “modernidades”, nossas cabeças cansadas não dão mais conta de se atualizar, todos os dias. Prefiro a nossa velha juventude. E a nossa “modernosa” terceira idade…
Então ficamos assim: caso chova pela manhã, sairemos de guarda-chuva, à tarde. E caso não chova, ficaremos em casa, para rir dessa intrometida Pandemia. Mas hora dessas ela vai embora e não volta mais, se Deus quiser! Resta então desejar um fim de semana leve, livre e solto, mesmo que não seja possível caminhar no meio do mato, à beira de algum riozinho, ou valeta. Caso não seja mesmo possível, tente imaginar a cena. E, a gosto de cada um, também é possível acrescentar, ou não, alguns borrachudos famintos, que o calor lhes desperta o apetite. Dizem que mosquitos ajudam a renovar o sangue, então, renove! Na vida da gente cabe de tudo, se a nossa alma não é pequena. Então borrachudo também pode valer a pena…. Faz parte, é da vida! Um abraço apertado aos leitores (as) e amigos (as). Mas sem Corona vírus!
Bom fim de semana a todos (as)!