Em rápida uma volta pelo centro de Xanxerê, ontem pela manhã, deu para notar várias pessoas sem máscara andando na rua, assim como alguns donos de empresas comerciais trabalhando sem máscara. Também ouvi opinião de que é melhor todo mundo “pegar de uma vez esse corona”, para ficar imune ao vírus; e que “agora ninguém mais morre do coração, nem de diabetes, só se morre de Coronavírus”. O medo da doença só aparece nas caras e olhos dos meus interlocutores quando são lembrados da possibilidade de “alguém a família pegar o vírus”. Até aí nem dá para dizer que isso seria novidade: O desaparecimento de sentimentos humanitários, de solidariedade e de fraternidade não é de hoje. “Não acontecendo nada comigo e com minha família,…o resto não me importa”! Infelizmente, muita gente, mas muita mesmo, pensa e age bem assim. O Coronavírus inicialmente foi visto como algo que mudaria para sempre alguns comportamentos humanos. Passados aí uns cem dias de quarentenas, médios e precauções, começa a ficar mais claro a situação inversa: O mundo – pelo menos nas ruas xanxereenses – é quem está mudando o Coronavírus. Os temores dele, pelo menos já mudaram!
Essa sem-cerimônia indiferença com o que possa acontecer com ”os outros” não veio só agora com a Pandemia, é lógico. Essa indiferença é bastante comum tanto em pessoas que se dizem “bons cristãos” quanto com “bons evangélicos” e, acredito, também em “bons ateus”, ou “bons agnósticos”. Na realidade é apenas mais uma triste marca dos sentimentos que dominam significativa parcela da Humanidade, independente de religião, classe social ou etnia, ou país. E o mais irônico: São todos “gente do bem”, tementes a Deus – inclusive acredito que a maioria frequente igrejas e peça proteção para si e para os seus. Os outros? “Ah, eles que peçam para si mesmos!”. Imagino que essa seria a resposta mais ouvida, em uma imaginária pesquisa de opinião. Talvez seja por isso que muitos pregam o tal slogan “Deus acima de tudo”. Na prática leia-se; “cada um por si e Deus por todos”. Ou “cada um por si e o resto que se f….!”.
Antigamente quando se ajudava alguém com recursos ou bens, ou com qualquer outro apoio, era de lei – que nunca precisou ser escrita – o benfeitor se manter no total anonimato. Ajudar e ficar alardeando essa ajuda era visto como exibicionismo, ou uma tentativa de querer aparecer para depois, auferir “algum retorno” com a boa ação. E a verdadeira ajuda, a doação e qualquer bem ou de qualquer apoio era vista como algo gratuito, sem se esperar nada em troca. Ou apenas se esperar que na hora da morte, na hora do temido “Juízo final” – se existir – essas boas ações acabassem por dar passe livre para a entrada no Céu! Sinceramente não sei se hoje ninguém mais acredita em Juízo final, ou se os que hoje ajudam e fazem a maior divulgação possível disso não acreditam em céu, inferno e situações do tipo. O que é completamente natural é a pessoa ajudar, mas fazer total divulgação disso. Inclusive na Rede Globo: Luciano Hulk é campeão nisso!
Entrei nessa moita de Juízo final, solidariedade, fraternidade e os tais sentimentos humanitários ainda no embalo da voltinha pelo centro, ontem. Notei ainda que a notícia da nuvem de gafanhotos já havia chegado aos bate papos na rua, por conta da ampla divulgação da Rádio Corredor, sempre uma das mais ouvidas! E com os gafanhotos vieram junto as dez pragas do Egito. Daí, meus amigos e minhas amigas, falou em Bíblia, o bicho pega! A imagem que muitos fazem de Deus ainda é daquele cara que castiga, manda pragas, pestes, pandemias…e até nuvens de gafanhotos! “Paúra” – dizem os italianos, ou, na versão verde-amarelo: “quem tem c* tem medo”! E, é lógico às estas alturas que entre as “novas pragas do Egito”, ou as pragas do Egito no Século XXI no Brasil, esteja incluído o despresidente que assola esse país. Nas redes sociais, há tempos, tem quem o compare com o anticristo – que seria mandado para esculhambar de vez a tal raça humana e sua decantada superioridade no planeta Terra. Acho isso um grande exagero e uma baita ignorância: Chamar o despresidente de anticristo é muita areia para o caminhãozinho dele. Mas a sua incompetência e o seu despreparo cavalar (para dizer só um pouco), são óbvios e totalmente visíveis, todos os dias…
Esse apocalíptico medo das pragas do Egito estarem próximas a nos revisitar causar olhares tão ou mais temerosos do que a possibilidade de outras “coisas ruins” acontecerem. E entre as tais coisas ruins, se você falar com eleitores e ainda seguidores do despresidente, ficam escritas na testa deles quando se começa a criticar os desmandos e aberrações quase diárias do tal “mito”, entre elas a fuga do ex-ministro da Educação, com o rabo entre as pernas, para os Estados Unidos. As fisionomias se fecham, na hora, mas pelo menos já não há mais a coragem para contrapor as evidências: O governo está fazendo água, os ratos começam a abandonar o navio e essa sensação traz a eminente possibilidade de muitos fanáticos admiradores do despresidente terem que ensacar a viola, e pior: Reconhecer o que se dizia antes da eleição: O elemento não tem a mínima condição de presidir nem um bloco carnavalesco, quanto mais um país desse tamanho e com históricas dificuldades, nunca solucionadas, mesmo por políticos hábeis e com sólida experiência “no ramo”…
No resumo da ópera – e do rápido passeio – a conclusão aparece naturalmente: O povão está se c****** de medo… Mas não muda de opinião! E como tudo acaba em samba, fui buscar a letra de um famoso samba, do Zé Ketty, chamado “Opinião”: “Podem me prender/podem me bater/Podem até deixar-me sem comer/Que eu não mudo de opinião/Daqui do morro eu não saio não/ daqui do morro eu não saio não/Se não tem água eu furo um poço/Se não tem carne eu compro um osso e ponho na sopa/E deixo andar/deixo andar/Fale de mim quem quiser falar/Aqui eu não pago aluguel/Se eu morrer amanhã seu doutor/Estou pertinho do céu.
Podem me prender podem me bater/Podem até deixar-me sem comer/Que eu não mudo de opinião.
Daqui do morro eu não saio não daqui do morro eu não saio não/Podem me prender podem me bater que eu não mudo de opinião que eu não mudo de opinião”…