O episódio da Câmara de vereadores de Xanxerê sobre o “pai da criança” na destinação das sobras de orçamento para a construção do Centro Integrado de Saúde não foi, certamente, um crime, e nem mesmo um pecado. Mas serve para análise sobre às quantas anda nossa atividade política em geral. Tentar “passar a perna” nos vereadores que entraram, antes, com o projeto, para posar aos olhos do eleitor (que devem julgar ingênuos e incautos) como grande benfeitor, pode ser classificado como uma “pequena malandragem”, ou como “arte de piá pançudo”. Mas pode não ser só isso…. Dá, por exemplo, para ver a intenção de “levar vantagem em tudo”, prática do “jeitinho brasileiro”. E some-se a essa visão o fato de que nossas excelências, os vereadores que tentaram passar a perna nos colegas, são estreantes na função, novatos, de quem se esperava algo mais moderno, …né não?
Para quem não sabe o que aconteceu, é o seguinte: Na sessão da última quarta-feira (20/05), o líder do Prefeito na Câmara, Vereador Evandro Berto manifestou contrariedade e criticou matéria publicada no site do Legislativo, pelo Presidente da Casa, Sérgio Nunes, onde se anuncia a destinação das sobras de orçamento da Câmara para construção do Centro Integrado de Saúde. A matéria, com foto de Nunes e do Prefeito Oscar Martarello, dá como certa a destinação, antes mesmo dela ser votada pelos vereadores. E ignora um projeto que estaria em tramitação, dos vereadores Berto, Rama, Evandro Saibo e Vilmar do Som – base de apoio do prefeito – prevendo a mesma destinação para as sobras de orçamento (algo de cerca de R$200 mil/mês). Segundo Berto, o projeto também “desapareceu” do sistema on line da Câmara. Sumiu?
Maus exemplos – esses de usar a esperteza ao invés da seriedade e da correção no trato da famosa “coisa pública” – muitas vezes falam mais alto, infelizmente, mesmo entre ‘aprendizes de marinheiros’. Há quem diga que não existem políticos exemplares, honestos e éticos em quem se espelhar, mas o argumento é falho: Existem, sim! Esses apenas não são os mais famosos, porque não estão nas frequentes manchetes de escândalos e maracutaias. Mais: a função de vereador pode ser considerada um “estágio probatório” para carimbar, ou não, o passaporte de um futuro líder político partidário. Vai daí que, se o vereador na primeira chance já “entorta o cargueiro”, ele permite avaliar que, talvez, pau que nasce torto…
Há alguns anos atrás critiquei dois suplentes de vereador que assumiram por um ou dois meses e, diante das generosas diárias da Câmara para viagens a outros estados, se mandaram rapidinho para Brasília, “em busca de emendas parlamentares, recursos para Xanxerê”. Critiquei a ambos – meus amigos pessoais, vale dizer – pois a sede para embolsar belos troquinhos de diárias da barrosa ficou, para mim, claríssima! As excelências não gostaram e reclamaram: Disseram, indignados, que na hora em que os recursos anunciados e prometidos chegassem a Xanxerê, iriam “esfregar na cara do Colunista”. Nunca chegaram, conforme eu, e mais a torcida do Inter, do Grêmio e do Flamengo, sabíamos…
Nos dias atuais, com a enorme pressão popular em cima de corruptos e corruptores, acredito que o vereador que quiser seguir carreira política – e ela é uma atividade necessária – deveria se espelhar na conhecida sentença sobre a mulher de Cesar (o Imperador romano): ”Não basta ser honesto, é preciso também parecer honesto”! E se no primeiro mandato você já começa tentando passar a perna nos “nobres colegas”… pode haver alguma coisa de podre no reino da Dinamarca…. E da Campina da Cascavel. Porém, repito, nossas excelências são estreantes e merecem uma chance, com certeza! Mas que ficou feio, não há dúvidas. Resta acompanhar a sessão de hoje, para saber o desenlace do “causo”, se houver. Afinal, o projeto também teria desaparecido. E isso precisa ser explicado….
O “Munhêro” destas Quireras – cumpre frisar – torço e faço promessa, mais novena se for o caso, para ver nossas excelências, os vereadores, todos, fazendo o maior sucesso – de público e de crítica! Sempre disse que a função de vereador é a mais difícil, em qualquer esfera da política. Porque seus eleitores moram “na mesma cidade” e podem encontrar seu representante sempre que quiserem, é só ir até a Câmara de vereadores…. E do jeito em que está a política brasileira, só um louco duvida que daqui a pouco essas cobranças, ao vivo e a cores, comecem a acontecer com grande frequência e com maior intensidade. O povão “anda por aqui” com os políticos em geral. E seria muito saudável, um alívio mesmo, enxergar vereadores novos repudiando velhas práticas e péssimos exemplos, de sempre…
Longe de mim sugerir qualquer tipo de violência, física ou psicológica. Mas aqui com tico e teco cheguei à conclusão que essa revolta e indignação que leio todos os dias nas redes sociais não vão ficar apenas no discurso. Porque aos poucos a “militância virtual nos feicebuques” da vida acaba cansando. Mas não acredito que vá acabar nisso, é muito provável que daqui a pouco surjam outras ações, espero que pacíficas. Povos de países desenvolvidos nos mostram, toda hora, que é possível protestar e manifestar opinião, críticas e descontentamento, sem apelar para o ódio, nem para a violência. E eu acredito, mesmo, que o caminho seja esse! A título de ilustração, vale lembrar que não é preciso ofender, xingar, nem “mandar para aquele lugar” quem quer que seja: Basta dizer a verdade! A verdade sempre é incontestável… e muitas vezes “pega na veia”!
É unanime hoje a condenação de políticos ligados a trambiques de todos os tipos, genericamente taxados de corrupção. Mas basta acompanhar o noticiário para concluir que, apesar de incontáveis denúncias de roubalheiras e vergonhosos esquemas de corrupção revelados a toda hora, muitos políticos seguem a velha cartilha de levar vantagem em tudo. Particularmente – e fiel ao alto grau de boa-fé que sempre me acompanha – prefiro acreditar que nem tudo está perdido, e que ainda teremos políticos que orgulhem os eleitores que votaram neles! Taí uma proposta que avalizo: Que tal Xanxerê com uma Legislatura totalmente livre e limpa de qualquer mancha de jeitinhos, toma lá dá cá, favorecimentos etc?? Que tal uma Câmara de vereadores sem ninguém passando a perna em ninguém? E que orgulhe os eleitores e a própria cidade? Daria um destaque bem maior do que saber quem foi que destinou sobras de orçamento para isso ou aquilo…Que tal??
Quirera Gourmet