A Faculdade de comunicação que cursei no final do Século XX ensinava que a redação jornalística – e a notícia – deveriam restringir-se aos fatos, sem interpretações ou direcionamentos, muito menos manipulações, que essas partes cabem a quem lê, ou assiste. Deveria ser um subsídio para o leitor criar sua própria opinião. Mas isso foi no século passado. A imprensa brasileira de hoje, “só” uns 99% dela, é radicalmente, bem xiita mesmo, anti, contra e avessa a tudo o que possa ainda que remotamente favorecer ideias e partidos de esquerda. Mas da direita, pode. E isso tem um efeito extremamente eficiente sobre a cabeça colonizada da maioria dos brasileiros. Um vasto – e autointitulado culto – segmento do povo que não consegue ter opinião própria, que aceita tudo o que escuta, ou vê, especialmente nos telejornais.
Cumpre aqui adiantar que em todos os países do mundo, ou na vasta maioria deles, onde existe – ou diz-se que existe democracia – pensamentos e posicionamentos de direita e de esquerda convivem civilizadamente, trocam críticas, e também trocam figurinhas. E isso sempre é positivo para o desenvolvimento, se não econômico, pelo menos intelectual de qualquer nação. É do debate que surge a luz. Na visão do atual desgoverno brasileiro, críticas, qualquer crítica, e mais ainda se vier da esquerda, são consideradas ofensas. Tanto que agora o despresidente resolveu usar a caduca e vergonhosa Lei de Segurança Nacional, da ditadura que ele venera, para processar ou ameaçar processar quem lhe critica.
No Brasil, se o (a) distinto (a) tiver paciência para pesquisar, vai constatar que a imprensa sempre foi atrelada aos grupos econômicos e políticos mais conhecidos como donos-do-pedaço. A opinião pública, tão falada e lisonjeada por políticos conhecidos como “bocabertas” e demagogos é apenas uma figura de linguagem, uma imagem bonita, cujo uso sempre é recomendável, especialmente para políticos profissionais. A histórica “Campanha das Diretas”, por exemplo, só passou a ser pauta da Globo ou da Folha de São Paulo, quando manifestações populares começaram e entupir ruas e praças com gente desgostosa com a ditadura – vendida pela grande imprensa como “a salvação da pátria contra o comunismo”. Só quando viu que não tinha mais jeito mesmo, a grande imprensa aderiu às Diretas Já. E abandonou o apoio à ditadura. Os jornalões paulistas, por exemplo queriam eleger Paulo Maluf presidente…
Mas então: Se a imprensa sempre andou de costas para o povo e atrelada aos poderosos – imaginando o argumento de muitos – então a Rede Globo e todos os grandes conglomerados de comunicação e seu olhar atravessado à esquerda, hoje, não produzem nada de novo. Isso até seria aceitável para um debate. Mas não é mais, hoje em dia, pois existem as redes sociais. Nelas, os grandes impérios de comunicação – e sua eficiente máquina de “fazer cabeças” – pouco ou nada podem influir diretamente. Reconheço o baixo nível de postagens nas redes sociais, na maioria das vezes. Mas sou a favor delas. Porque essas mesmas opiniões, postadas com erros grosseiros de Português, inclusive, são hoje “os meios de comunicação social” verdadeiramente porta-vozes do povão!
Tanto que é bem nos facebooks e whatsapps da vida onde mais surgem críticas contra manipulações, omissões e direcionamentos da imprensa. Além, é lógico de ácidas e muito mal-educadas pedradas, porradas e cacetadas em governantes e governos, de todos os níveis. Para mim o ideal seria que tais opiniões guardassem algum nível de boa educação. Mas a educação que está escrita, assim como as opiniões, elogios e críticas são “da própria lavra” de quem opina. Ou seja, são retratos fiéis e 100% verdadeiros do que a massa está pensando e achando. Sem direcionamentos, censuras ou favorecimentos. É, talvez pela primeira vez em 520 anos, a voz do brasileiro sendo divulgada para o Brasil e para o mundo, sem nenhuma vergonha de ser brasileiro.
A elite desse país execra, ridiculariza e discrimina sem dó, sem sol, sem ré e sem piedade os iletrados, analfabetos ou semianalfabetos brasileiros, que são milhões. Pobre não sabe falar e não sabe escrever, e isso para os mais ricos só não é pior que deixar pobre morrer de fome. Aí entra o brasileiro “bom cristão”, que capricha para ir para o céu”, é dá esmolas…, mas nunca, jamais, fala em ensinar a voar, é claro! Não há, nunca houve nas classes mais ricas interesse em exigir dos governos estudo para o povo! Estudo e formação que lhe permita desenvolver um raciocínio próprio, que lhe possibilite escolher e traçar seu caminho pela vida, com régua e compasso! Dizia Millôr Fernandes que o Brasil “ é um país do futuro que tem um enorme passado pela frente”. Temos um “passivo” de manter o povão na obscuridade que remonta ao tempo da escravidão… E esse é outro tema que pouquíssimos estão interessados sequer em tocar…
Lembro sempre do Mobral – O Movimento Brasileiro de Alfabetização, criado pela ditadura militar, que levou milhares de universitários e estudantes secundaristas passear pelo Brasil afora, tudo pago pelo governo, com o objetivo, falso que nem nota de três, de alfabetizar os brasileiros…. Um claro embuste, enganação – até apreciado pelos acadêmicos, pois era uma boa e rara oportunidade de conhecer muitos lugares…, mas os analfabetos mesmo não estavam, majoritariamente, na floresta amazônica, nem no Pará ou no Mato Grosso. Já estavam, e continuam principalmente nas periferias das grandes cidades. Mas lá o Mobral não quis botar seu pezinho. O secular descaso com a educação produziu uma classe média especialmente, mas não só, que desdenha da educação. E não gosta, despreza e tem preconceito até contra professores, porque a maioria é a favor de greves – coisa de comunistas!
Esse analfabetismo histórico, essa falta de acesso a um mínimo conhecimento real do mundo, da História da Humanidade, da organização de uma sociedade, de classes sociais, de um país e de uma nação, só poderiam dar no que deu: Um país onde a ignorância encontra um solo fertilíssimo, além de “condições climáticas” extremamente favoráveis à manipulação, com milhões de pessoas incultas, iletradas e sem escolaridade. Cumpre ressaltar que alguns desses viventes, poucos, conseguem, mesmo assim, conquistar o tal “lugar ao sol”: Com muito trabalho e a inteligência que herdaram de berço, conseguem fazer seu pé-de-meia, ou sua mansão mesmo. E muitas vezes se tornam mais alguns a desprezar o estudo e o conhecimento!
Vai daí que a grande massa de pessoas sem acesso à escola e aos livros produziu exatamente esse Brasil que estamos – com extrema incredulidade, frustração e vergonha mesmo – assistindo hoje. Não os culpo, eles são o que temos para o momento e o que a nação, os governos e toda a população, todos nós, permitimos acontecer. Não se trata, portanto – e quero deixar isso claro – de culpar ou condenar somente a imprensa, ou somente os mais ricos, ou somente a elite econômica. Trata-se de reconhecer que este é o país – quer você goste ou não – que ajudamos construir e/ou que permitimos ser construído. Sem exceções. E, da minha parte pelo menos, com muita vergonha na cara! E falamos mal do Paraguai, pais cujo povo foi massacrado pelo colonialismo brasileiro, a serviço de sua majestade, a Rainha da Inglaterra! Somos uns boçais!