Muita gente prefere ficar quieto ou não dar bola para as coisas erradas, injustas, ilegais e imorais, as maracutaias executadas na cara dura, impunemente, por quem tem costas quentes. Estamos acostumados a ver – e a esquecer – processos onde abundam provas que permitem condenações judiciais claras e indiscutíveis serem engavetados até caducar por decurso de prazo, ou por outras mágicas brasileiras. Esse não é, hoje, um país de quem eu possa me orgulhar, mas ainda não desisti! Volta e meia recebo conselhos e críticas questionando “de que adianta ficar apontando roubos e mal feitos de agentes públicos eleitos pelo povo, se você sabe que ninguém vai dar bola e não vai acontecer nada”!
Bom, primeiro eu acredito, sempre, que algum ou alguma vai dar bola, sim. Pelo simples fato de que não dá para generalizar. E porque se perdermos a esperança em ver as coisas andarem melhor, então é melhor “ir ao galho”. Mas o motivo principal dessa teimosia é dizer, simplesmente, que eu não concordo, não sou a favor e que não abro mão, de jeito algum, de dar minha opinião, gostem ou não os donos da verdade e os seus seguidores. Mas há outro motivo importante, para mim criticar os disparates desse triste país e seus homens públicos: Não pretendo, no futuro, dizer que fiquei calado, me omiti, diante de tantos absurdos! Se omitir, não!
Lembro sempre a fatídica e trágica frase do então Senador Romero Jucá, ao anunciar – em telefonema grampeado – que era necessário derrubar a presidenta desse país, dar um golpe de estado, para “estancar a sangria” da Lava jato, cuja água já batia na sua bunda. Para isso, disse Jucá, havia um conluio de imprensa, congresso e Judiciário, que ele resumiu no famoso “com Supremo, com tudo”! Isso para mim bastou: É golpe, tramoia! Daí em diante passei a achar ridículo, vergonhoso, absurdo, o que está acontecendo, com o Brasil e com boa parte dos brasileiros. Isso foi há uns seis anos. E de lá para cá, só ficou cada vez pior.
Hoje não me surpreendo mais com arrependidos ex-apoiadores do despresidente – mesmo os que falam apenas com o olhar, pois têm vergonha de admitir a burrada que foi votar nele. Modéstia à parte, nunca tive dúvidas que o cargo era muita areia para o seu caminhãozinho. É um incompetente, despreparado, acredito até que deva ter algum desvio de caráter, ou um problema mental para dizer e cometer tantas barbaridades. Ou as duas coisas e outras mais – e o mundo inteiro, praticamente todos os países, já tem certeza disso. Menos alguns teimosos. A decepção que vejo em muitos, hoje, já era esperada. Para mim, sem novidades!
Vivi os vinte e poucos anos de ditadura – dos dez anos de idade aos 34, por aí – sendo aconselhado a não comentar, nem criticar militares e, principalmente, o ditador de plantão. E tenho orgulho de não ter obedecido aos conselhos de meus irmãos e amigos mais velhos. Não me calei, e diria tudo o que disse, de novo! Ser taxado de esquerdista, comunista ou, mais recentemente de petista, está longe de me ofender ou mesmo me incomodar. Sou de esquerda e sei que jamais vou “virar a casaca”. Para mim hoje seria uma ofensa ouvir que votei ou apoiei gente como José Serra, Geddel Vieira, Aécio Neves, Renan, Cunha, FHC e outros! E atualmente, pessoas que acusam outros de comunistas, em 99% dos casos não sabem o que estão dizendo…
Nunca me filiei a qualquer partido político, mesmo sob ameaça – duas vezes – de perder o emprego, se não me filiasse, primeiro ao PDS e anos depois ao PMDB. Não perdi o emprego. E não mudei de opinião! Enquanto repórter de jornais jamais alguém me pediu para falar bem ou falar mal, de quem quer que seja – talvez porque sempre deixei claro que nunca estive a venda. Reconheço: Me pediram várias vezes para ignorar A ou B, para críticas e/ou elogios, algo que também não fiz. Simplesmente porque não me sentiria bem, enquanto repórter, deixar para trás o compromisso com a verdade. Critiquei atitudes de amigos, filhos e familiares de amigos, e não me arrependi. E alguns dos criticados, tempos depois, vieram me agradecer…
Aqui no Oeste principalmente, mas em Florianópolis também, embora não com tanta ênfase, as pessoas preferem só ler elogios, mesmo falsos, do que críticas, mesmo que justas e verdadeiras. Parece que os ares Oestinos abrigam uma epidemia de um vírus chamado “deixa para lá, você só vai se incomodar”. Esse aviso, em forma de caridoso “bom conselho”, cansei de escutar. E “os caras” não se cansaram, ainda, de me falar, apesar de ter que admitir: Hoje são em número bem menor…Mas estou ficando velho e com cada vez mais vontade de dizer o que tem que ser dito, preferencialmente sem precisar xingar, o que nem sempre consigo. E me sinto muito bem escrevendo assim! Certa vez um político veio agradecer um elogio que lhe fiz. Ele ouviu como resposta que o agradecimento era desnecessário pois, se fosse o caso, poderiam vir críticas, também… e vieram! E ele veio reclamar também das críticas. Disse-lhe apenas: Eu avisei. Somos amigos até hoje. E mesmo ele estando fora da política, tem todo meu respeito!
Escrevi essa arenga para avaliar Quirera Gourmet e meus dez meses de “munheiro”. Confesso que a situação é muito parecida com o que aconteceu, em 1989 – trinta anos atrás – quando comecei a escrever no Jotaxis, o saudoso Jornal de Xanxerê, uma coluna chamada X-Bugre: Muitos leem, muitos gostam, muitos não gostam – e não sei dizer quem é maioria. Mas sou grato e acho muito importante que leiam, é claro. Mesmo que não concordem com nada ou com quase nada. Para mim basta dar opinião, dizer o que penso, algo que considero fundamental. E inadiável! Não estou, nem estive em busca de fama, prestígio, ‘não canto para agradar’, nem sou – já disse isso muitas vezes – candidato a nada. Também não busco “fazer a cabeça”. De ninguém! Meu negócio também já não é mais a madrugada, como foi – e era bom! Meu negócio é escrever, com todas as letras que não gosto do que, há uns seis anos, vejo nesse país! E escrevi também para avisar que para 2021… não há previsão de mudanças !
Quirera Gourmet