Mesmo sem dedicar nenhum minuto de tempo para acompanhar e analisar as estratégias e o marketing aplicados pelos candidatos nesta campanha, senti que existe algo de novo sob esse céu da Dinamarca: Ao cruzar por cabos eleitorais de diversos partidos, embandeirados a distribuir santinhos nas ruas de Xanxerê, de todos eles ouvi a surpreendente e educada pergunta, ao oferecer o santinho: ”O senhor aceita”? Nunca foi assim, em eleições anteriores. Ninguém perguntava se você aceitava ou não, simplesmente estendiam a mão e ofereciam, sem qualquer consulta prévia. Para observadores desatentos essa precaução de “o senhor aceita” pode parecer pouca coisa, mas não é! Mostra simplesmente que os candidatos passaram orientação aos cabos eleitorais no sentido de “não forçar a barra”, porque provavelmente sabem que a rejeição do eleitor aos políticos nunca foi tão grande…
Não sou defensor da abstinência ou do voto em branco. Omitir-se ou se ausentar da eleição é ato de covardia, de anticidadania, de sentir-se acima e “muito melhor do que esses políticos”. Ninguém é melhor nem pior que eles, os políticos, até porque foram os eleitores – com ou sem o seu e o meu voto – que os elegemos. Parece que o brasileiro se julga um ser perfeito, acima do bem e do mal, e muito acima de erros e acertos, normais em qualquer ser humano. Votar em péssimos políticos não leva ninguém para o inferno, mesmo que algumas igrejas e seus porta-vozes preguem isso aos seus incautos fiéis…. Votar errado é uma contingência, faz parte e serve, sim, para o aprendizado indispensável de eleitores! O que não acho corajoso, nem digno, é virar as costas e dizer “não voto em ninguém”, ou “voto em branco”. Se você vive num município, num estado e num país, o mínimo que se exige de você, cidadão, é cumprir os seus deveres, incluindo participar e votar! Ao não votar em ninguém dá-se a entender que essa pessoa é santa. E que nunca pecou……E que a culpa, como sempre, ”é dos outros”! Pura covardia. E inaceitável soberba!
Sou curto e grosso em analisar a qualidade da nossa política e dos nossos políticos: A maioria está contaminada, talvez irremediavelmente, pelo vírus da corrupção. E a minoria digna e honesta que “sobra” não consegue se sobressair,se fazer ouvir, porque a história é escrita pelos vencedores… E no Brasil, até agora, a corrupção, a enganação e os golpes militares (em geral, mas não só, os civis também), venceram! Então, hoje os corruptos traçam os caminhos seguidos pela maioria dos governos. Se o distinto leitor esqueceu, eu lembro: O maior período democrático que esse país viveu foi de 1988 – ano da promulgação da Constituição em vigor – até 2014, quando um governo legitimamente eleito foi derrubado por um golpe que contou “Com o Supremo, com tudo”. E envolveu a elite econômica e empresarial, a grande imprensa, o Judiciário, o Legislativo, e até – pasmem, mas é verdade – a Ordem dos Advogados do Brasil. Além, é claro, da maioria da população que gentilmente e com efeito manada aceitou acusações em provas e crimes inexistentes. Como a tal “pedalada fiscal” – uma piada jurídica, vergonhosa, que hoje ninguém mais quer lembrar. Em tempo: O governo Dilma andava mal, mas isso nunca foi motivo para derrubar governos legítimos, de direita, alguns deles para lá de calamitosos. E todos “pedalavam”….
À época poucos tinham a coragem de chamar de golpe, e quem falasse essa palavra era chamado de comunista, petralha ou esquerdopata. Hoje, são raríssimos os que ainda têm coragem de negar que foi um golpe e que não havia qualquer motivo para se apear Dilma Roussef da presidência. Desde que o golpe se consumou, este país deitou a rolar ladeira abaixo, com amplo apoio, isso não se pode negar, dos que se consideram honestos – e quase santos, eleitores! Poucos ainda reconhecem, mas elegeu-se, sem mais nenhuma dúvida, o pior presidente (que nem merece esse nome) que esse país já elegeu…De 2014 para cá, ao contrário do que diziam a Imprensa, a elite econômica, os políticos e boa parte da incauta e enganada população (“É só tirar o PT que melhora tudo”) as coisas só pioraram. Nem a Pandemia – uma chance de ouro para apaziguar os ânimos entre governo e a nação, unindo a população em torno do objetivo comum de minimizar os efeitos da Covid19 – serviu para esse desgoverno ao menos amenizar a crise. Ao contrário: Continuamos ladeira abaixo! E daqui há duas semanas esse mesmo eleitor irá às urnas para escolher prefeitos e vereadores.
E vai votar um eleitor desanimado e revoltado com.… os Políticos… Mas com ele mesmo e com os demais eleitores, não! Eles, eleitores (nós), não somos culpados, a culpa sempre é só dos políticos, estes seres extraterrestres que, agora, todos condenam e em quem NINGUÉM votou! O eleitor brasileiro, nós, na maioria das vezes somos levados na conversa e apoiamos os piores políticos que existem. Prova disso? Há exemplos todos os dias… É só olhar em volta: Semana passada pegaram um SENADOR, escondendo dinheiro na cueca. Ele jura que é inocente. E muita gente acredita! Ontem (22/10) um candidato a vereador em Sergipe, também carregava dindin na cueca, e foi rpeso… O eleitor brasileiro, sem dúvidas é um santo vivente! Santo, mas por não conseguir (e em muitos casos, não gostar de) enxergar mais que dez centímetros adiante de seu próprio nariz! E vamos às urnas como se nada disso que está aí fosse culpa de nós mesmos, os eleitores!
“Ah, mas eu não votei nesses corruptos”…mesmo que esse covarde “dar de ombros” seja verdadeiro, há que se considerar outras verdades: A maioria dos votos válidos determina quem ganha a eleição, e quem ganha a eleição deve governar para to-dos, não apenas para os que votaram nele. Então, todos, incluindo os que não votaram nesse governo, ou nesses políticos, devem sim admitir que têm sua parcela de responsabilidade pelo que fazem os “nossos representantes”! Eles não são ET’s! Se estão no poder é porque tiveram muita “gente do bem” depositando votos neçles. E isso anula tentativas de culpar – única e exclusivamente – os políticos. Nós, os eleitores, temos muito, ou tudo a ver, com o que está acontecendo. E não votar ou votar em branco, com certeza, não irá ajudar a melhorar coisa alguma!
Posentão, esse “o senhor aceita” parece ser apenas mais uma falsa reverência de políticos espertalhões, “lisos”, loucos de medo de que o eleitor, finalmente, comece a enxergar mais de dez centímetros adiante da ponta de seu nariz! Infelizmente, acho que isso não vai acontecer, ainda!
Um bom fim de semana a todos (as)!