(Domenico de Masi – Sociólogo Italiano- é o autor deste texto, publicado no Jornal O Estado de São Paulo, e transcrito no mesmo Estadão por Luiz Zanin Oricchio, com comentários).Destaques, em negrito, de “Quirera”.)
“Neste momento, vocês estão nas mãos de um ditador”, disse ele, argumentando que Mussolini, Hitler e Erdogan também foram eleitos. “Esta ditadura reduz a inteligência coletiva do Brasil. Durante esta pandemia, Bolsonaro se comportou como uma criança, de um jeito maluco. Ou seja, o ditador conseguiu impor um comportamento idiota em um país muito inteligente. Porque é isso que fazem as ditaduras”. Este me parece um fato tão óbvio que às vezes nos passa despercebido. Quando o país é comandado por pessoas tão tacanhas, a tendência é o rebaixamento geral do nível cognitivo da sua população.
É fácil entender por quê. Sob Bolsonaro, Damares, Araújo, Pazuello, Salles, Guedes & Cia, vemo-nos obrigados a retomar debates passados, alguns situados na Idade Média, ou no século 19, como se fossem novidades. Terraplanismo, resistência à vacinação e a medidas básicas de segurança sanitária, pautas morais entendidas como questões de Estado, descaso com o meio ambiente, tudo isso remete a um passado que considerávamos longínquo.
Quando entramos nesse tipo de debate entre nós, ou com as “autoridades”, é como se voltássemos da pós-graduação às primeiras letras do curso elementar. Somos forçados a recapitular consensos estabelecidos há décadas, como se nada tivéssemos aprendido. É como forçar cientistas a provar de novo a esfericidade da Terra ou a demonstrar eficácia da vacinação. Ou defender, outra vez, a necessária separação entre Igreja e Estado, mais de 230 anos depois da Revolução Francesa.
É muita regressão e ela nos atinge. De repente, nos surpreendemos discutindo o óbvio, gastando tempo com temas batidos e desperdiçando energia arrombando portas abertas séculos atrás na história da humanidade. À parte a necessária luta política para nos livrarmos o quanto antes dessa gente, entendo que existe uma luta particular e que depende de cada um de nós: a luta para não emburrecer. Manter a lucidez e a inteligência através da leitura de bons autores e da escrita. Manter viva a sensibilidade pela conversa com pessoas normais e pela boa música. Assistir a bons filmes para contrabalançar a barbárie proposta pela vida diária e pelas redes sociais.
Enfim, mantermo-nos íntegros e fortes para a reconstrução futura do país. Não podemos ser como eles. Não devemos imitá-los em sua violência cega. Não podemos nos deixar contaminar por sua estupidez. Eles passarão. E estaremos aqui, para recomeçar. Provavelmente, o que leva a esse rebaixamento é ódio e ressentimento por levar as pessoas a se sentirem, no fundo, perdedoras (é o caso de todos os bolsonaristas que conheci mais de perto) e ter de encontrar bodes expiatórios para culpá-los. A cultura competitiva, que estabelece, com critérios perniciosos, o que é ter sucesso, faz com que quem entra nesse jogo perverso, sinta-se, no final das contas, sempre um perdedor.
Recebi, de dois amigos diferentes (que nem se conhecem) – Claismar Granzotto, Livreiro de Foz do Iguaçu , e de João Bertoldo Oliveira, Pesquisador aposentado, de Campinas(SP) – esse texto postado acima. Nele estão entendimentos que já apresentei por aqui, ainda em 2020. Mas não, é claro, com a nitidez desse Sociólogo italiano, que conhece muito bem o Brasil e recebeu, em 2010 o Título de “Cidadão Honorário do Rio de Janeiro”. Mas o foco desta nota é o trecho: “Esta ditadura reduz a inteligência coletiva do Brasil. Durante esta pandemia, Bolsonaro se comportou como uma criança, de um jeito maluco. Ou seja, o ditador conseguiu impor um comportamento idiota em um país muito inteligente. Porque é isso que fazem as ditaduras”. E, mais ainda, foco na conclusão de que “Quando entramos nesse tipo de debate entre nós, ou com as “autoridades”, é como se voltássemos da pós-graduação às primeiras letras do curso elementar”. Em muitos momentos, e mesmo sem pós-graduação, desde o início da Pandemia, em conversas on line, ou ao vivo e a cores, já me deparei envolvido em discussões “como se voltássemos às primeiras letras do curso elementar….
Trocando em miúdos, o que o Sociólogo italiano nos apresenta é a sensação – muitas vezes expressada, por muitos de nós – que fica cada dia mais difícil discutir com bolsominions! Porque parece que temos que recomeçar a contar toda a história da humanidade, desde Adão e Eva….E parece muito difícil fazê-los entender raciocínios universalmente aceitos e comprovados, a todos, durante os últimos quatro ou cinco séculos, mais ou menos! Também me chama a atenção a explicação dada: “Provavelmente, o que leva a esse rebaixamento é ódio e ressentimento por levar as pessoas a se sentirem, no fundo, perdedoras (é o caso de todos os bolsonaristas que conheci mais de perto) e ter de encontrar bodes expiatórios para culpá-los”. E, também, não percamos de vista, também, a recomendação: “Manter a lucidez e a inteligência através da leitura de bons autores e da escrita. Manter viva a sensibilidade pela conversa com pessoas normais e pela boa música. Enfim, mantermo-nos íntegros e fortes para a reconstrução futura do país. Não podemos ser como eles. Não devemos imitá-los em sua violência cega. Não podemos nos deixar contaminar por sua estupidez. Eles passarão. E estaremos aqui, para recomeçar!
É bem por aí!