Procurar culpados é a reação natural e imediata, quando ocorrem crimes violentos e de grande repercussão. Muitos culpam unicamente o autor pela barbárie cometida, mas também há quem culpe as próprias vítimas pelo mal que lhes acometeu. E os julgamentos, assim como as condenações, são geralmente medidos e concluídos pela “régua” que cada um possui… Mas nem sempre essa “régua” considera os padrões das leis que regem e disciplinam a sociedade em que se vive. No bárbaro crime da adolescente que tirou a vida do seu pai, é muito difícil fazer qualquer prejulgamento: A filha foi criada pelo pai e, pelas informações até agora disponíveis, o relacionamento entre eles era ótimo. Isso permite dizer que a filha “tinha muito do seu pai”…
O que ”deu errado” na educação da filha? Geralmente nem o melhores pais conseguem responder a essa pergunta. Mas tem algo que não muda e nunca poderá ser negado: Os pais são os maiores patrocinadores e os maiores responsáveis pela educação de seus filhos. E mesmo que o filho apresente distúrbios ou doenças mentais, também é obrigação dos pais zelar e conduzir o crescimento dos filhos, com boa saúde, física E MENTAL. A chacina da creche em Saudades, também aqui no Oeste catarinense, no início deste ano tem como autor um menino que, muito provavelmente, tem algum distúrbio mental. E se for isso, certamente uma consulta a um psicólogo ou a um psiquiatra poderia, talvez, ter evitado o pior…
É comum a maioria das pessoas rejeitarem e condenarem com veemência a opção de considerar assassinos e autores de crimes bárbaros como pessoas com problemas mentais, características que os isolam dos seres considerados mentalmente sadios. Ou “normais”. Aquelas mesmas pessoas preferem atribuir o ato ou a vontade de matar ao mau caratismo mesmo, ou a falta de noções de convivência pacífica, ou a inúmeros fatores que levam a pessoa a se considerar um infeliz, ou um pária no mundo: Miséria, pobreza, violência, injustiças, fome aparecem com frequência na origem do ódio que muitos cultivam, silenciosamente…E que acaba desembocando em alguma tragédia inexplicável, e inaceitável…
Porém, quando a barbárie envolve pessoas “de bem com a vida”, com bons padrões de qualidade de vida e educação, membros de famílias com boa renda, aparentemente de estrutura harmônica e sem grandes problemas de convivência…as “explicações” para a barbárie, escasseiam…. Caem na vala comum do “ninguém poderia imaginar uma coisa dessas”. E fica a dor da ausência, mais o vazio de vidas destruídas, ou marcadas, para sempre. Viver, na minha opinião se torna, desde sempre, cada dia mais difícil. Porque o mundo – e as coisas do mundo – não param de se multiplicar, em velocidade cada vez maior, com atrações mais e mais irresistíveis e com inúmeras tentações para “aproveitar a vida ao máximo”, como pregam as “leis” do bem viver e do consumo capitalista…
Essa dificuldade crescente, penso aqui com Tico e Teco, começou desde muito tempo, não sei quando. Talvez tenha começado quando o bicho homem reconheceu que viver em grupo, em tribo, ou em uma comunidade é muito mais fácil e mais confortável, permite “aproveitar melhor” a vida… Nada de anormal nisso, é claro. Mas qualquer conforto tem seu preço, e neste caso, acredito que o preço foi ter que conviver com outras pessoas que, nem sempre, ou quase nunca, pensam exatamente com a gente pensa. Tivemos que aprender a conviver, a ceder, a fazer o que a maioria acha certo e não aquilo que achamos melhor. Tivemos que aprender a dar razão para o outro e, principalmente, reconhecer que, muitas vezes, nossa opção não é a melhor…E a vida é feita de escolhas!
A loucura desse mundo de hoje leva muitos adolescentes – seres que estão naquela que é considerada a mais incerta e desafiadora fase de vida – à loucura e ao suicídio. Há cerca de 15 dias atrás uma ex-Diretora da rede social Facebook apresentou, no Senado Norte-americano, sério arrazoado para acusar o mesmo Facebook de privilegiar a busca pelo seu lucro, em detrimento de proteger a frágil mente em formação de jovens adolescentes. E entre eles os números de suicídio crescem, e preocupam países de praticamente todo o mundo. As palavras duras dessa ex-diretora do Facebook continuam sendo analisadas e, na maioria das vezes, aceitas. E são consideradas graves, principalmente por revelar que “as maravilhas” oferecidas pelas redes sociais escondem armadilhas, arapucas, que deveria e poderiam ter sido excluídas das redes, como forma de não prejudicar, nem entortar ainda mais, ou desvirtuar de vez a formação dos mais jovens…
Também não é para condenar nem colocar toda a culpa nas redes sociais, ou na Imprensa que divulga as tragédias – como também apareceu em declarações de um familiar do policial de São Miguel do Oeste. Mas é incontestável que as redes sociais e a Internet “bagunçaram o coreto”, mais do que já estava bagunçado, da sociedade atual. E colocaram em cheque muitas coisas que eram inquestionáveis, até a pouco. E a autoridade dos pais está entre essas “coisas velhas”. A vontade de ver os filhos se sustentando, fazendo sucesso e sendo reconhecidos como “os caras” é outro grave complicador. É comum, hoje, ver pais fazendo de tudo para o filho virar um astro do futebol mundial, por exemplo… E fazer nada, ou quase nada, para que esse mesmo filho receba, ao menos, educação. Ou que adquira uma profissão, através de estudos…
Na minha infância e adolescência não foram poucas as vezes que ouvi adultos, da minha família e de outros, avisando que “ é de menino que se torce o pepino”…dando a entender que é necessária alguma rigidez, dureza, alguma disciplina, na educação das crianças…Hoje, tal sentença, acredito eu, seria duramente recriminada por muitos educadores. Para eles, isso pode “podar” a criatividade, a iniciativa e o potencial de liderança dos jovens…Não tenho mais filhos para criar. Mas se ainda tivesse estaria nenhum pouco tranquilo com a “missão”…O mundo, apesar das comodidades e confortos tecnológicos cada dia mais “maravilhosos”, não está ficando mais fácil. Só parece que está….E acredito que nada, nenhum avanço tecnológico ou maravilha da Ciência conseguiu, por enquanto, substituir a imprescindível, responsável e enriquecedora educação que pais dão, ou deveriam dar, aos seus filhos.
Quirera Gourmet