Há alguns anos, ao ouvir pela primeira vez pessoas duvidar da eficiência e pregar que vacinas na verdade inoculavam doenças, atribuí isso a cabeças com parafuso a menos, muito mal informadas ou ignorantes, mesmo. Não dei importância, porém jamais consegui entender a aceitação dessa estapafúrdia e ridícula “descoberta”, por um inacreditável percentual crescente de indivíduos, muitos deles alfabetizados. Sabem ler, escrever e fazer contas. Se não fossem as vacinas, provavelmente pessoas com esse entendimento talvez nem tivessem nascido. Sem as vacinas é temeroso dizer que existiria a metade da população mundial, hoje. Sem as vacinas teriam morrido milhões de homens, mulheres e crianças, incluídos aí, provavelmente, ancestrais de todos nós. Ou seja, nem nós nem os que negam a validade das vacinas teriam sequer nascido.
Também há uns cinco ou seis anos atrás quando me falaram que tinha gente tentando provar, a sério, que a terra era plana, pensei se tratar de alguma seita ou religião (está na moda), dessas que plantam, também, o fanatismo e o medo do demônio, para atrair, subjugar e escravizar almas inocentes. Tudo em nome da salvação da alma pecadora e impura. E tudo dito por líderes religiosos súbita e improvavelmente “ungidos por Deus”, mesmo que não tenham documento ou qualquer prova desse súbito poder. Do nada se arvoram donos da verdade, vendem passaportes para o céu. E têm linha direta, on line, 24 horas, com Deus, ele mesmo, em pele e osso. Eles são os únicos que podem livrar dos pecados e garantir o paraíso, na vida eterna, mediante módicas doações, em espécie, à igreja! Não sou praticante, mas sou católico. E sempre achei o maior disparate, um absurdo, que na Idade Média, a Igreja Católica vendesse “vagas” no céu. Porém, igrejas querer fazer a mesma coisa hoje, em pleno Século XXI, não é admissível, nem acreditável. Mas muitos creem cegamente nisso. Na Idade Média, ao menos, essa venda era feita mais às claras, sem falsos milagres nem subterfúgios para convencer o pecador. Bastava o pecador fazer sua (generosa) oferta e ficava tudo acertado, ali mesmo na hora. E com papel passado, não era só no fio do bigode, ou nem isso, como acontece por agora, nesses obscuros tempos.
Essa onda, moda, neurose ou loucura mesmo, de se restabelecer a insanidade, o irracional, o inacreditável e o totalmente falso, mentiroso, ou a ignorância enfim, segue crescendo, com exemplos diários. Acho até bom a gente começar a pensar que isso não é tão somente delírios de “algumas cabeças com parafuso a menos”. Um desses exemplos hilários aconteceu meses atrás quando manifestantes pedindo a volta ao regime militar, da ditadura, na Avenida Paulista, foram agredidos a cacetadas pela Polícia Militar. E reclamaram! Outros pregam a Democracia, mas querem fechar o Supremo Tribunal de Justiça e o Congresso. Duas instâncias sem as quais não há a mínima possibilidade de se ter sequer uma ameaça, ou um ensaio, de Democracia. Não me importo que venham a considerar esse raciocínio um exercício de arrogância, ou de preconceito contra pessoas desprovidas de conhecimento. E de informações indispensáveis, de educação, cultura e de discernimento, entendimento, de como giram as engrenagens deste mundo. Pode até ser que seja. Porém, na condição de alguém que se vê como possível alvo do negacionismo, tipo uma alma “a ser convertida”, me adianto: Não vou aguentar calado a suprema ignorância de muitos! Por tudo o que meus pais, meus professores e a vida me ensinaram, na escola e fora dela, é um verdadeiro absurdo calar diante de tanta, e arrogante, ignorância!
Arrogante porque não trazem provas, nem argumentos minimamente válidos, para tentar nos fazer acreditar em tantas besteiras. Querem, simplesmente, negar os fatos, as leis, a Ciência, a História. E nos entupir, socar goela a baixo, um amontoado de asneiras, mentiras, sofismas, fake news…. Como se fossemos, nós, os ignorantes! A Terra é plana! vacinas não funcionam! Democracia com militares no poder! Democracia sem Legislativo e sem Judiciário! Igreja que garante o reino dos céus! Hitler era comunista! O nazismo era de esquerda! Não existiu Ditadura militar no Brasil, nem tortura, nem mortes sob tortura! O Papa Chico é comunista! E as mais recentes, porém não as últimas: “Cloroquina Cura Covid 19”, e “ Esse governo acabou com a corrupção”!
Não se pense, porém, que esse negacionismo galopante ou essa ignorância animal, sejam frutos, exclusivamente, de “uma benção” brasileira, ou uma realização desse desgoverno “que acabou com o comunismo”. Não, o certame de idiotização é muito maior! E podemos dizer que o Brasil está disputando as primeiras colocações do ranking, que é mundial! O planeta terra, a absoluta maioria dos países, anda pasmo, estupefato, apavorado e sem querer acreditar no que está vendo acontecer no Brasil, isso nos coloca na liderança do negacionismo e da nova ignorância mundial. Brasileiros que vivem no exterior estão se vendo sem palavras para tentar explicar a pessoas daqueles países, o que enfim anda tocando no “Bailão do Jair”. O Brasil virou piada. A tão mal falada Nicarágua teme que daqui há alguns meses, brasileiros comecem a se refugiar por lá. Coisa feia, papo sério!
No último domingo o programa “Fantástico” revelou pesquisa onde nada menos que 9% dos entrevistados, todos brasileiros, dizem que não pretendem tomar a vacina contra a Covid19. A Globo, como sempre ignora e faz olhar de paisagem, não investiga o porquê de tanta gente negar a eficiência da vacina. Há “interesses”, já dizia Brizola, em manter o povo no obscurantismo, no desconhecimento, na ignorância. Se pesquisar entre esses 9%, com certeza teremos brasileiros alfabetizados e talvez até donos de diplomas de curso superior, doutores ou quase, entre eles. Mas essa pauta não interessa à grandiosa imprensa brasileira. Aqui, há muito tempo, descobriu-se que a ignorância pode ser – e pelo jeito será – um grande negócio. Ela está em franco desenvolvimento, há um “boom” de ignorância. Quer um exemplo? Então tá: Em apenas breves anos no Brasil o negacionismo já elegeu até o (des) presidente!