Nos meus tempos de piá os “exibidos” eram brindados com sentenças do tipo “Quer aparecer? Pendura uma melancia no pescoço” e outras, do gênero. Não sei e nem me interessa saber a idade e a identidade dos jovens autores da façanha de fazer – ao lado da estátua de espiga de milho do Parque Rovilho Bortoluzzi – sexo explícito. E da façanha também de FILMAR e POSTAR na internet a cena – que também não faço questão de assistir, mas imagino de duvidoso gosto. Não vou condenar, nem xingar, os autores da obra. Mas não resisto à tentação de comentar alguns aspectos da juventude, sem esquecer que também fiz nessa idade algumas loucuras – embora nenhuma nesse nível. Começo pela observação que, igual a ontem, o máximo, ou o “irado” hoje para muitos jovens é mostrar a todos que ele é “o cara”…
Há alguns anos atrás fiquei assustado com o surgimento da cultura da ostentação – que advoga o direito de mostrar-se rico e famoso, exibir carrões, joias, dinheiro e até lindas mulheres(!) como provas do status social que a pessoa possui, ou julga possuir. Hoje me acostumei, mas continuo achando uma bar-ba-ri-da-de, no sentido do ridículo que vejo nisso. Para ostentar, exibir, colocar na vitrine sua condição de promover a própria autopromoção a rapeize de hoje perdeu totalmente a vergonha e, junto com ela, o senso de ridículo, a noção do bizarro e do estapafúrdio. É provável que nem saibam o significado dessas palavras. É um direito deles? Sim, mas há controvérsias, pois os autores o fato são maiores de idade e dono dos próprios narizes. Mas, por outro lado, divulgar cenas de sexo explícito nas redes sociais…não sei se tem, digamos, o amparo da lei.
Como já falei, não criminalizo a safadeza dos artistas, vejo mais como uma necessidade de autoafirmação, ou aquele desejo mórbido que habita muita gente, na juventude, de mostrar-se “melhor que os outros”. Esse “olha-o-que–que-eu-fiz-duvido-fazer-igual” é hilário, mas totalmente compreensível e aceitável, se pensarmos em termos de imaturidade. Sabemos, os mais velhos, que há muitas outras maneiras (e menos traumáticas ao olhar dos pudicos) de mostrar-se superior, ou melhor que a maioria. Fazer sexo no milhão e postar na internet é até um claro sinal de pouca criatividade: É óbvio que isso chamaria muita atenção, geraria indignação e iria “causar” – palavrinha que a ostentação lançou, com muito sucesso de venda e de público. “Causar” é exatamente o que o pessoal buscou, e conseguiu – sejamos justos. Resolvida essa parte e sabendo o que eles queriam conseguir, resta discutir o porquê dessa necessidade infernal de “causar”?
Não sou psicólogo, nem psiquiatra, mas são públicos e notórios os valores que a sociedade atual “vende” para a juventude e para o povo em geral. E isso não é “top”, nem moderno, nem é de agora, vem de muitos anos atrás. Vem desde que a sociedade do “ser” deu lugar para a sociedade do “ter”: O que você É interessa muitíssimo pouco, não dá ibope, nem fama ou sucesso. Interessa é o que você TEM, incluindo capacidade, ou a coragem de fazer – e mostrar para todos, é claro. Eu acho o sexo – é bom deixar claro isso – uma das melhores práticas (digamos), ou a melhor de todas as práticas colocadas à disposição de homens e mulheres. Eu prefiro fazer na cama, entre quatro paredes e não gosto de dar divulgação, nem comentar ou expor – menos ainda no parque da Femi. Essa opção, entretanto, precisa ser vista como uma das tais liberdades dadas a todos no momento em que o Criador (ou algo parecido) nos deu a liberdade e a possibilidade da autodeterminação. No popular, é a capacidade e o direito de fazermos o “que der na telha”. E, logicamente, arcar com as consequências dos próprios atos…
Então, não condeno quem fez sexo no Parque da Femi. Primeiro porque quem sou eu para condenar qualquer pessoa? E depois porque advogo sempre a causa de que cada um é dono do próprio nariz ou, no caso, do próprio órgão sexual e do próprio corpo. Note-se que também NÃO estou estimulando alguém a fazer sexo, agora na praça,no bar, em cima de árvores, no supermercado, na farmácia ou no restaurante, bem na hora do almoço… Isso caracteriza ato obsceno, em público, uma contravenção leve, considerando os graves e prejudiciais crimes que nos assolam, diariamente. Talvez se tenha que levar em conta que os atores da cena estivessem turbinados por drogas ou bebidas – o que também não é uma atenuante, mas pode ser uma explicação – meio capenga, mas é. Nos dias de pandemia que nos envolvem, e mesmo que não estivéssemos em pandemia, fazer sexo e mostrar nas redes sociais ainda continua sendo uma manifestação humana – chamada pornografia – que vem desde a antiguidade: São famosos nos livros de História da Humanidade as fenomenais orgias e /ou bacanais que rolavam na Roma dos césares – só para citar um exemplo, pois há muitos outros. E pornografia – vale lembrar – também tem absolutamente nada de moderno, top, ou de “irado”. Basta lembrar que a prostituição, ou, no popular, a putaria, é a profissão mais antiga que se conhece, dizem os experts nos assuntos de pornografia e de profissões.
Para encerrar, se me fosse permitido diria aos autores da obra pornô que fossem aos… livros! As orgias romanas têm interessantes e riquíssimas passagens, elas podem lhes ser muito úteis, mas reparem bem: Quando os romanos partiram para a orgia eles ainda faziam e desfaziam, mandavam e desmandavam, mas já então eram considerados “DECADENTES”. E isso é exatamente o oposto do que prega e preconiza a idolatrada cultura da ostentação! Posentão, leiam!