De 1988 a 2013 acompanhei ao vivo algumas importantes conquistas de Xanxerê, assim como outras batalhas ainda em andamento e sem resultado positivo. Por exemplo, em 1988 e agora, atrair empresas e gerar vagas de trabalho continua uma das maiores ou a maior das metas apontadas como fundamentais para acelerar o desenvolvimento e fortalecer a economia, local e regional. Há 30 e poucos anos, a ampliação e melhoria dos serviços de saúde oferecidos pelo Hospital São Paulo também era uma bandeira da comunidade, assim como a duplicação ou melhorias no trecho urbano da BR-282. As duas últimas hoje são realidades. Mas a primeira segue como meta. Nas duas importantes conquistas, a participação comunitária através de entidades e da comunidade, diretamente, foram decisivas e determinantes. E nesta campanha, até agora, essa eficiente “ferramenta de trabalho”- o envolvimento e a participação comunitária – parece esquecida pelos candidatos, lá no fundo do quintal….
Outra reivindicação que já vinha de quase uma década era a conclusão do braço Oeste da via de contorno da cidade – que levou mais de 20 anos para se concretizar. O trânsito de grandes e pesados caminhões pelas ruas centrais exigia da prefeitura permanente operação de tapa-buracos no asfalto. A conclusão do contorno virou novela e só aconteceu depois de muita pressão e cobranças da comunidade. Na área da Educação a Unoesc ainda engatinhava e muita gente reclamava da escassez de cursos superiores aqui e na região, o que motivava um grande êxodo de jovens, que na maioria das vezes nunca mais retornavam ao município. É óbvio que os prefeitos, deputados e administrações têm méritos em tudo o que foi realizado. Compete, porém, lembrar que eles foram eleitos, e são pagos para fazer um bom trabalho.
Também eram muito comuns nas décadas de 1980-90 (e hoje) as reivindicações de agricultores por melhores estradas rurais, e dos moradores de bairros para melhoria de ruas, sem asfalto nem calçamento e quase sempre em condições precárias de trafegabilidade. Outra bronca da comunidade era o atendimento à saúde, com raros postos em bairros, e também por mais vagas em creches. E acompanhando o maior sonho de consumo nacional, a conquista da casa própria era certamente o desejo de muita gente. Naqueles anos, a economia nacional tinha a inflação como a grande vilã. E o salário dava, mal e porcamente para pagar as contas…
Hoje, abrir vagas de trabalho e atrair indústrias virou o maior sonho e a imprescindível alavanca para evitar que a economia local entre em estagnação. O agronegócio, mola que mais alavanca a economia, há décadas, hoje dá mostras de ter atingido a sua capacidade máxima de gerar trabalho e riquezas. A indústria metal mecânica provavelmente foi o setor que mais cresceu, falando-se em indústrias. Um claro indicador disso é o Sindicato dos Trabalhadores da Indústria metal mecânica, de âmbito regional, o maior, em número de filiados, superando o Sindicato dos Comerciários, que liderou por muito tempo.
O último salto da economia de Xanxerê e região foi provocado pela ampliação da Universidade do Oeste, a Unoesc, cujo campus hoje abriga mais de cinco mil acadêmicos, dezenas de cursos e centenas de professores. A instalação da então “Escola Técnica Federal”, hoje Instituto Federal de Santa Catarina atendeu outra reivindicação antiga. E a chegada de Senai, Sesc, Senac e do Sebrae também deu outro status à necessária capacitação e mão-de-obra. Outro avanço importante no agronegócio foi o desenvolvimento da pecuária leiteira, com pequenos, médios e grandes produtores gerando renda, trabalho e impostos.
Estão “no vermelho” algumas pautas ainda importantes, e apenas parcialmente cumpridas e realizadas: O Aeroporto municipal hoje está asfaltado, depois de muita pressão… Mas para a maioria é apenas quase um elefante branco: Não viabilizou linhas aéreas aos grandes centros, e nem mesmo às maiores cidades do estado, hoje interligadas por vias aéreas, também. A sua homologação, pela Anac, virou novela…E um aeroporto ativo e operante é indispensável a qualquer município disposto a atrair investimentos! A rede de esgoto, parte dela, está instalada nas principais ruas do centro da cidade. Mas não há captação, nem tratamento dos dejetos. A obra também já é considerada uma mini série, em vias de virar novela, das seis…. Da mesma forma, o braço Leste do contorno viário está concluído, mas faltam obras secundárias.
Com cerca de 50 mil habitantes – segundo estimativas – pode-se dizer que Xanxerê cresceu significativamente nos últimos 20 pu 30 anos. A construção civil mostra mais de uma dezena de loteamentos, há grandes condomínios em construção, e há quem diga que está sobrando imóveis, tanto residenciais como comerciais ou industriais. Não se pode ignorar, nesse momento, o panorama da economia nacional. Promessas governamentais de provocar um novo boom econômico e milhares de novas vagas de trabalho que – diziam os governantes – viriam com as reformas da legislação trabalhista e da previdência…eram Fake News! Nada aconteceu…
Bem pior que não ter havido a alavancagem na geração de trabalho e da própria economia – previstas e garantidas pelos últimos dois governos – é não se ver no horizonte nacional nenhum movimento governamental (e nem qualquer intenção disso) que sinalize um novo crescimento econômico. O atual governo na economia resume seu “trabalho” na venda de estatais e na cessão de recursos naturais a grandes conglomerados mundiais, de países do primeiro mundo. Os grandes empresários e a grande imprensa, maiores críticos dos Governos do PT, quando o país viveu seu último bom momento na economia, parecem que agora perderam a voz. Ou o gato comeu a língua!
Voltando a Xanxerê, sua condição de polo econômico microrregional, que atrai 14 municípios e reúne cerca de 150 mil habitantes, anda meio esquecida. Os municípios de Abelardo Luz, Xaxim e Ponte Serrada, especialmente, também mostraram significativo crescimento econômico nos últimos anos. Em tempos não muito distantes foram feitos levantamentos e estudos sobre os potenciais econômicos da região do Alto Irani, buscando especialmente novos nichos de negócios, ou o fortalecimento dos já implantados. Tais estudos, ao que se saiba, não resultaram em ações efetivas, nem renderam dividendos econômicos, nem sociais.
E a região é particularmente deficiente em empreendimentos e atrações nas áreas de esportes, cultura e turismo, embora existam bons potenciais a serem explorados. Muito pouco ou quase nada se buscou fazer nas três áreas para tentar se reverter o quadro de escassez de ações governamentais ou privadas, e da falta de investimentos, ou de programas de incentivos que possam quebrar o marasmo e a estagnação que predomina. Apesar do elogiável e hercúleo esforço de algumas instituições e de pessoas físicas que se dedicam, da melhor maneira que conseguem, a promover a cultura, o esporte e o turismo.
Sou crítico contumaz, mas tento ajudar, não destruir. E também gosto de “sentar do outro lado do balcão”, e enxergar os avanços e as melhorias conquistadas. Uma prática útil e necessária – principalmente em uma campanha para eleger prefeitos e vereadores. Criticar o que se julga deficiente, ou ausente, ou falho, é relativamente fácil, pois os problemas ficam bem visíveis e óbvios. Mas reconhecer o que se fez – e aqui em Xanxerê isso sempre aconteceu quando a comunidade esteve envolvida na luta – também é justo e muito útil. Até porque muitos só enxergam o que é falho, inadequado, insuficiente, ou errado…
O envolvimento da população, no exemplo mais recente foi a consolidação dos serviços de cardiologia do Hospital Regional São Paulo, que catapultou Xanxerê à condição de referência macrorregional em Cardiologia, no grande Oeste. Mas é inegável que todas as vitórias em termos de obras e serviços vieram a partir do engajamento e da luta da comunidade. E incluo nessa comunidade os vários (ativos e operantes) clubes de serviços e associações de voluntários, talvez a característica mais marcante da comunidade xanxereense! E essa marca – o trabalho voluntário- é talvez o potencial que mais precise de reconhecimento e de incentivos. Em situações de calamidade, para citar o exemplo mais visível, são os primeiros e os que mais se mobilizam. Sempre!
Não acompanhei sempre, nem todos os atuais candidatos em suas falas e pronunciamentos de campanha. Mas naquelas que assisti, vi pouca ou nenhuma referência / compromisso de candidatos em firmar uma parceria franca e aberta com a comunidade. Convidar os xanxereenses a participar e fiscalizar o executivo municipal é demonstração de maturidade – e de excelentes intenções – de todos e de qualquer um dos candidatos. Até agora não vi notícia disso, tomara que tenha acontecido. Ou que venha a acontecer. Cumpre frisar também que essa atitude abriria, em Xanxerê, uma nova era de prefeitos e administrações lidarem com algo importantíssimo – e mais ainda nos dias atuais: As críticas, da comunidade e da imprensa – a desatrelada! Nesta década mesmo um prefeito xanxereense prometeu solenemente respeitar e ouvir as críticas da imprensa. Mas foi só assumir e ouvir as primeiras para sair correndo reclamar, dos donos dos meios de comunicação. Muito feio, isso!
Realizar obras, serviços e programas é o óbvio que se espera de qualquer prefeito. Porém, buscar unir a comunidade em defesa das suas próprias demandas, manter-se em permanente sintonia fina com ela, prestar contas, sempre, e mostrar total transparência, faria toda a diferença! Até agora não escutei, nem vi candidato algum lembrando disso. Esqueceram do povão? Convocar e firmar uma honesta, sincera e produtiva parceria entre prefeitura e população é imprescindível a qualquer administração que queira ter êxito!…. Ou não precisa? A impressão até agora é que todos têm um coelho (ou uma criação eles) na cartola. E vão resolver todos os problemas com suas varinhas mágicas…. Parece que estão menosprezando (ou ignorando) a capacidade de mobilização, de pressão e de representatividade de instituições e dos próprios xanxereenses…. Muito revelador, isso. Para não falar em, digamos, ausência de …humildade!
Quirera Gourmet