Reconhecer a própria ignorância, dizia-se antigamente, é o primeiro sinal que existe inteligência…”Só sei que nada sei”, disse um grande Sócrates. Mas reconhecer e não querer sair da ignorância ou, ainda, ostentar e ter orgulho dela e disseminar ignorâncias para buscar mais adeptos e se sentir mais seguro…aí já é novidade do Século XXI, depois da peste! Nunca aceitei o elogio de “inteligente”, pois se fosse deveria, pelos padrões atuais, estar podre de rico. Mas concordo que procuro me situar entre as pessoas razoavelmente bem informadas. O que também é sinal de inteligência e, mais que isso, uma necessidade, hoje!
Nos tempos de Faculdade de Jornalismo um cartaz no mural sintetizava bem, e dizia muitas palavras, sobre a informação: “Todo homem bem informado é um homem perigoso”! Sou da paz, prefiro adiantar, se alguém associar esse perigoso a violências ou ameaças. E acho que ser um homem perigoso, hoje, é inicialmente apenas não ser mais um parvo ou uma maria vai com as outras. Ou uma pessoa fácil de ser enganada, e essas são muitas – conforme revela monstruosa disseminação de Fake News. Em boa hora o Google lançou essa campanha, com o título desta nota. Saber de onde saiu a informação, qual é a sua fonte? A confiabilidade das fontes é um dos fundamentais cuidados, um requisito pétreo, do bom trabalho repórteres e Jornalistas. Mas não só.
No popular, essa formalíssima pergunta “qual é a sua fonte” pode, às vezes, ser traduzida por um prosaico “quem te contou”, muito popular nas conversas entre amigos e rodas de bate papos. A informação é, senão a principal, com certeza uma das mais importantes matérias-primas que movem o mundo, hoje. Sem informação não se faz nada – pelo menos as coisas bem-feitas! E a ostentação da própria ignorância tem seus alicerces bem firmes – as fundações desse castelo de cartas – em informações falsas, em meias verdades, ou em verdade alguma, ou seja: A ostentada ignorância está baseada em informações falsas…
Também nos atuais tempos de peste a pergunta “quem te contou” chega a ser politicamente incorreta, pois induz que se matricule o perguntador na famosa e numerosa tribo dos “leva-e-traz”: Quem me contou foi fulano, que ouviu a história do beltrano… e entramos no ilusório e fantástico mundo da fofoca, outra arapuca usada para pegar repórteres e jornalistas. Por isso mesmo estes quando aprendem a profissão são ultimados a, sempre, checar as informações, antes de divulga-las. E de preferência, checar com as fontes que a divulgaram e também além delas, se houverem outras instâncias a conferir.
Mas voltando ao começo, hoje ostentar – não a inteligência e sim a ignorância – pode ter virado “top” porque os absurdos ditos ao vento chamam muito mais atenção que as verdades, especialmente as verdades bem conhecidas, que não mais são “novidades”. Chamar a atenção é ostentar, e isso é o que conta. O conteúdo perdeu a liderança. É comum ver nas redes sociais especialmente pessoas discutindo sobre temas sobre os quais, a rigor, elas sabem quase nada. Ou nada. Mesmo! Ou então defendem cortar as mãos do homicida que causou uma chacina…Elas sabem que cortar as mãos do homicida é crime, e que não se pune um crime cometendo outro. Mas dizer isso – as pessoas acreditam – vai “causar” reações
Mas o que interessa não é dar opinião que de alguma forma enriqueça ou contribua para o debate. O que interessa é “causar”, não passar despercebido. E aí toda a ignorância que se puder reunir numa cabeça, e/ou toda a informação pela metade ou menos, passa a valer, muito. Esse “Causar” é outro status construído em cima de ignorâncias, muito frequentemente. Antigamente a “norma culta” era não ostentar sabedoria, como teria recomendado Sócrates. A modéstia era vista com bons olhos, hoje, não é mais. Hoje a moda é ostentar, mas não a sabedoria, a ignorância! Uma total inversão das coisas: Ao invés de não ostentar sabedoria, a norma é ostentar a burrice. Mas isso, em muitos casos significa “causar”. Daí, pode!
Muitos brasileiros sabem, entendem, enxergam que o atual desgoverno acha que sabe tudo, para começar. E ostenta ignorância com ministro (recém apeado do poder) defendendo a terra plana, e veja bem 17: Ministro das relações exteriores, para envergonhar mais ainda o país, mundo a fora! Isso é ignorância. E acredito ser desnecessário dizer o que significa apoiar a ignorância. Vender ou deixar destruir a Amazônia – o maior patrimônio ambiental do Planeta, hoje, é outra ignorância universal, indiscutível. E muitos sabem dessa verdade. Mas preferem seguir apoiando o governo, o que os torna cumplices!
E isso é ostentar a ignorância! É colocar a burrice na vitrine…Para mim essa ostentação de ignorâncias machuca especialmente quando vem de pessoas com as quais tenho relações de amizade. E pelas quais sentia orgulho de ser seu amigo, pois sempre as tive como cidadãos moralmente honestos e civicamente corretos. Infelizmente – e com grande tristeza, reconheço – tive que rever. Não por algum tipo de purismo, rigor ou excesso de seletividade. A gente “passamos da metade da vida”, digamos assim, e começamos a nos tornar mais exigentes, mas seguimos sendo imperfeitos…
Penso assim porque simplesmente não consigo, não me sinto bem e jamais “assinaria em baixo”, ou endossaria posições de quem vive na mesma trincheira – e apoia – pensamentos e atitudes preconceituosas, retrógradas, negativistas, fascistas… Elas, as pessoas, sabem que estão fazendo isso! Mas fazem de conta não saber que sabem. E fazem de conta não saber que muitos outros também sabem. Não sei se são motivados pela vergonha de reconhecer erros e voltar atrás. Ou talvez façam isso pelo prazer de sentir-se em comunhão com os pensamentos de grande parte, da metade, ou da maioria das pessoas que os rodeiam. De qualquer forma, e “de boas”, eu prefiro ficar (bem) longe de ignorantes que ostentam ignorância, ou que não tem limites para “causar”, nem para ostentar ignorâncias da moda.