Em ato realizado no auditório da Unoesc e transmitido via Internet, na sexta feira (16/04), o Prefeito de Xanxerê, Oscar Martarello e o Vice, Adenilso Biasus, prestaram contas sobre os primeiros cem dias da administração municipal. Após rápida explanação de ambos, um vídeo mostrou obras de pavimentações de ruas, recuperação de espaços públicos, ampliação do distrito industrial, entre outras. E destacou ações de combate ao maior pico da Pandemia que, conforme palavras do Prefeito, fez o município conviver com um intenso clima de terror, nunca registrado antes, em toda sua história: Xanxerê teve fila de espera na UTI do lotado Hospital São Paulo, e lamentou de três a cinco óbitos diários, por vários dias. E se a situação hoje é menos grave, nada permite que se baixe a guarda, porque a pandemia está longe do fim!
O Prefeito Martarello não citou na Live, mas o grande aumento de casos da Covid 19 o levou declarar naqueles dias – emocionado e com ampla repercussão na mídia – que Xanxerê estava pedindo socorro. Com apoio de órgãos públicos e da comunidade a grave situação foi enfrentada e contornada, especialmente a partir da instalação e hospital de campanha, e de um grande empenho de servidores municipais, de órgãos públicos e do Hospital São Paulo. O combate à Pandemia foi, com razão, enfatizado na prestação de contas: Foi o tema principal da imprensa e a principal preocupação da sociedade, especialmente em março. E é justo dizer que foi a primeira “prova de fogo” encarada e vencida pelo novo governo municipal, mesmo com a lamentável perda de mais de 100 xanxereenses. E apesar do intenso trabalho com a Pandemia, a Administração mostrou que não se restringiu a essa missão.
Também é justo reconhecer que prestar contas do que foi feito com os recursos municipais é algo positivo, mesmo que isso seja um direito assegurado, por lei, a todo o cidadão. No item transparência uma informação do prefeito merece destaque: fazendo-se uma conta proporcional ao número de habitantes, per capta, os recursos públicos disponíveis no município têm valores inferiores que municípios, tanto de maiores, citando Chapecó, como menores, a exemplo de Faxinal dos Guedes, disse o prefeito. O Cidadão Oscar Martarello também é empresário, e desassociou a baixa arrecadação à uma eventual baixa carga tributária, ou à sonegação de tributos. Ele enfatizou que é preciso fazer a arrecadação crescer, com estímulos a investimentos por parte de empresas locais. E anunciou novas vagas para empresas com a ampliação do distrito Industrial.
A transparência no uso dos recursos pode se tornar – em mentes bem-intencionadas – sólida e utilíssima ferramenta de trabalho para bons governos. Mas a exemplo da famosa sentença que faz referência “à mulher de César”, nesse caso, igualmente, “não basta apenas ser honesto, é preciso também parecer honesto”. Digo isso porque faltou apresentar os importantes números de recursos recebidos e aplicados, no período. Não assisti a Live na íntegra, mas na parte que vi, nada de Receitas & Despesas…. Algo que – imagino eu – deve estar disponível a todos os (as) xanxereenses no site da prefeitura. Porém, considerando-se que nem todos conseguem ou buscam acessar via Internet, não custava ter apresentado os números… Igual ao que a mulher de Cesar teria feito, imagino eu…Números às vezes falam mais que as palavras. Noutras falam menos. Mas sempre são imprescindíveis. Esperamos que nas próximas prestações de contas sejam bem destacados. Afinal, eles resumem e, supostamente mostram toda a realidade.
Acredito que o prefeito foi correto e justo ao isentar de culpa pela baixa arrecadação o empresariado local, sem dúvidas majoritariamente parceiro e apoiador das administrações municipais, desde sempre. Mais que isso, o prefeito foi feliz também ao agradecer o esforço de todos. Mas, talvez, exatamente para esses mesmos “todos” tenham faltado mais algumas palavrinhas, estas sem nada a ver com a mulher de Cesar, ou com quem quer que seja: É notório que sonegadores existem, aqui e no Brasil inteiro! E em reconhecimento a quem paga – regiamente e em dia – os seus impostos, acredito que anunciar algum arrocho em cima de uma minoria eventualmente má pagadora de impostos (digamos), e que não contribui com o município, ou contribui menos do que a lei determina, seria muito bem-vindo! E Justo! Os tempos de amizades e compadrios, mesmo em cidades do porte de Xanxerê não podem mais existir, não nos dias atuais!
Não fiquei tão surpreso com a baixa arrecadação da prefeitura de Xanxerê. Fiquei muito mais surpreso por lembrar que lá em 1993 ela já era uma dura realidade… E o “panorama econômico” daqueles dias era bem mais precário que o atual, acredito. Até pouco tempo atrás, o tamanho da economia e de Xanxerê, e as amizades – tradicionais em cidades pequenas – produziam “vistas grossas” em casos (somente comentados “à boca pequena”) de favorecimentos, bem seletivos, é claro. E normalmente associados aos “amigos do rei” – empresas que apoiaram, de alguma forma, a vitória dos eleitos. Adianto-me a dizer que não faço aqui nem insinuações, nem acusações a quem quer que seja. Mas, igual a acreditar em bruxas (e voltando de novo ao Império Romano), tenho a dizer: “Yo no Creo! Pero que las hay, las hay”! E quem conhece e/ou acompanhou alguma das administrações municipais até aqui, sabe que isso é, ou era, verdadeiro. E nada raro: Em qualquer lugar existem os bons e os maus cidadãos. E bons e maus administradores!
Na repercussão da prestação de contas li a reclamação: não se falou na conclusão, início de coleta e de tratamento, da rede de esgotos da cidade – que começou a ser implantada há três administrações… ou, há mais de doze anos! São apenas 100 dias, mas gato escaldado tem medo de água fria. E eu pelo menos, não ouvi mais nenhuma informação sobre os últimos capítulos da novela. Em Xanxerê – veteranos na área sabem disso – demoramos mais de 20 anos para implantar cerca de cinco quilômetros do braço Oeste da Via de Contorno do perímetro urbano…Um Km a cada quatro anos…. Não ouvi outras cobranças, por obras, mas elas devem ter acontecido. Embora duas das demandas mais lembradas tenham sido citadas do vídeo: Recuperação de estradas do interior e pavimentação de ruas. Também se destacou, na saúde, a grande redução das filas de espera por exames.
No resumo da ópera, tirando a ausência de números, a prestação de contas (mesmo sem contas!) foi importante sinal. Para mim, principalmente por se esperar que tal prática vire uma rotina trimestral ou semestral. Porque nos dias em que estamos também não basta apenas ser mais que a mulher de Cesar e parecer honesto. É preciso se antecipar para, também, estimular os xanxereenses a estarem completamente informados sobre onde são aplicados os recursos. E isso não é favor: Fiscalizar poderes públicos – especialmente a prefeitura da cidade onde se vive e trabalha – é , mais que um direito, uma obrigação do cidadão e da cidadã! Exatamente como é dever do prefeito e da administração informar a população, corretamente e com detalhes, sobre o uso de recursos que chegam aos cofres municipais! Se cada um fizer a sua parte, “as coisas”, com certeza, vão andar melhor!
Quirera Gourmet