Notícias sobre agroindústrias gaúchas e paranaenses em relação à prevenção contra a Covid19 dão conta, frequentemente, dos problemas encontrados dentro dos frigoríficos. Isso sempre na imprensa dos dois estados…Já em Santa Catarina, com frigoríficos das mesmas empresas, nada ou muito pouco se fala, embora se saiba que há problemas. Basta lembrar que os primeiros casos, aqui no Oeste, surgiram num frigorífico de Ipumirim, mas a notícia foi imediatamente abafada, ninguém repercute, nem comenta “essas coisas” na imprensa regional. Na mesma Ipumirim, o mesmo frigorífico da JBS teve suas atividades temporariamente suspensas por ordem do Ministério Público, notícia também que “ninguém deu bola”. A suspensão foi determinada porque cerca de 20% dos trabalhadores testaram positivo… Aqui no Oeste, pela grana que agroindústrias investem na imprensa em geral, e por “relações amistosas” entre diretores de agroindústrias e donos de veículos de comunicação, notícias desse tipo – graves, pois envolvem a saúde pública – tem baixíssima repercussão, quando não são omitidas. A Agroindústria é importante? É, muito importante! Mas reconhecer seu valor jamais deve significar negar ou omitir informações, mesmo desfavoráveis a ela, ou ruins!
No Paraná, que é líder na produção de frangos no Brasil, a imprensa não deixa de noticiar problemas nos frigoríficos. Aqui também não se questiona e se faz “olhar de paisagem” para municípios pequenos, como Ipuaçu, Entre Rios e outros, que fornecem muitos trabalhadores para frigoríficos e apresentaram alta incidência de casos positivos, relativamente ao seu pequeno número de habitantes. No Rio Grande do Sul, também se noticiou várias vezes problemas nos frigoríficos, e isso chegou a ser noticiado pelo Site G1, da Rede Globo. Repito: As agroindústrias têm importantíssimo papel na economia de todo o Oeste catarinense e do estado de Santa Catarina. E também são importantes no Rio Grande do Sul e no Paraná. Mas lá, os fatos não são varridos para debaixo do tapete, pelo menos não como aqui…O que eu questiono e sempre questionei, e não vou deixar de fazer, é o tipo de Jornalismo que, nesse caso, prioriza apenas a economia. Vidas humanas, saúde pública e também a verdade dos fatos, ao que parece, estão sempre em segundo plano. Lamentável! Quem tiver dúvidas sobre isso, recomendo acessar sites de cidades gaúchas e paranaenses, sedes de agroindústrias. Publica-se a notícia, sempre com a insubstituível e indispensável posição da empresa!
As notas anteriores estão relacionadas à notícia de que na China, embalagens de carnes de frango oriundas de Santa Catarina, mais precisamente da Autora de Xaxim, teriam apresentado teste positivo para a presença do Coronavírus. De cara a reação mais forte e justificada é de que se trata de uma manobra para tentar forçar a queda nos preços, tática muito comum nos mercados, no mundo todo. Além disso, se o vírus estava na embalagem – ninguém falou que estaria na carne – em princípio o risco seria menor, uma vez que hoje se recomenda que qualquer embalagem com alimentos seja higienizada, antes de ser aberta ou estocada. E carnes de galinha teoricamente sempre são cozidas ou assadas, antes do consumo. Assim, é mais que razoável que se enxergue segundas intenções na notícia vinda da China. Querer “levar vantagem em tudo” não é nem nunca foi uma invenção privativa dos brasileiros e do Brasil. É uma (velha) prática eminentemente capitalista. Assim como a tentativa de se comprar qualquer mercadoria pelo menor preço possível – e vender pelo maior, também são, digamos, “mecanismos muito usados” para lucrar mais, ganhar mais dinheiro. Vai daí que seja justíssimo enxergar na notícia a famosa e mundial Fake News, mais uma praga do Século XXI!
Mesmo assim, também é indispensável que a informação seja apurada e que os cuidados nos frigoríficos sejam reforçados. Não por acreditar na notícia chinesa. Mas por saber que a China tem mais de 1,4 bilhão de habitantes, o que o torna um país com um mercado consumidor disputadíssimo, por indústrias de alimentos de países do mundo inteiro… Deixar de vender para a China, hoje, é um péssimo negócio, tanto para as agroindústrias catarinenses como para a economia do Oeste inteiro. E tanto empresários chineses como empresários brasileiros tem pleno conhecimento disso. Vale lembrar, ainda, que recentemente membros do desgoverno brasileiro fizeram graves acusações à China, relativamente ao surgimento da Pandemia – algo que ainda precisa ser devidamente comprovado, pois há várias outras versões sobre a origem do vírus. A sorte do Brasil na repercussão das acusações feitas – devidamente rebatidas pela embaixada da China no Brasil – é a tradição do Governo Chinês de, até o momento, não misturar acusações e assuntos políticas com assuntos comerciais. De qualquer forma não interessa a ninguém, hoje, no mundo todo, arrumar encrenca com a China. A não ser para Donald Trump e para os Estados Unidos, envolvidos em guerra aberta com a economia chinesa. Por ela estar se alastrando e tomando conta de mercados que, até a pouco, eram privativos dos Norte-americanos. Nesse ponto, até o próprio agronegócio já deve ter sinalizado ao desgoverno que é inteligente arrumar confusão e conflitos com a China…
Enquanto Jornalista nunca deixarei de criticar omissões, manipulações, distorções ou mentiras cometidas na imprensa brasileira, seja ela nacional, estadual ou local. Sei que é uma batalha difícil, quase impossível de ser vencida, e que pode render algumas dores de cabeça ou “alugações”, como renderam e rendem…. Mas esse também é o papel do Jornalista, são os tais ossos do ofício… e como não sou filho de pai assustado, nem criei, por enquanto “papas na língua” e não pretendo mudar minha linha de pensar e de escrever, vou continuar bem assim! Durante muitos anos trabalhei tentando harmonizar interesses de patrões com o rigor da verdade nas notícias publicadas, e isso nem sempre foi possível. Mas durante todos meus anos de trabalho na reportagem, sempre defendi que os interesses comerciais, financeiros e outros, dos donos das empresas de comunicação, não tivessem qualquer interferência nas informações publicadas. Nem sempre isso foi possível, reconheço. Mas nunca deixei de batalhar pela a isenção e a favor da rigorosa veracidade das notícias que produzi. E isso tem nada a ver com orgulho, ou busca da perfeição. É apenas e tão somente o compromisso em falar a verdade, um dos pilares da atuação de qualquer Jornalista que preze sua profissão e seus objetivos! Informar, da melhor maneira possível, e sempre fiel à realidade dos fatos! Acredito já ter dito isso dezenas de vezes, mas vai de novo: Enquanto Jornalista, “não canto para agradar”!