É Carnaval… Mas a Pandemia acabou também com essa alegria genuinamente brasileira, que alguns condenam. Sempre defendi, defendo, participei e até ajudei a organizar carnavais, porque se alegrar por qualquer motivo – ou por motivo algum – faz bem para a saúde! E é um direito até dos sofredores convictos! Pessoas que condenam o carnaval devem ser os que estão sempre reclamando da vida e vendo, apenas, defeitos em tudo! Festas populares existem em todo mundo, por vários motivos ou sem motivo! E o carnaval é uma das maiores festas populares do planeta. E por popular aqui deve-se entender festa do povão, embora a elite e os mais ricos sempre tenham participado dela.
Se tem bebedeira e sexo nas ruas, ainda mais nos dias de hoje, é bom lembrar que bebedeira e sexo ainda são (muito!) melhores que assassinatos de negros, gays, prostitutas, crianças inocentes…Além de outras vítimas da loucura humana, que nos ataca todo santo dia e parece que ninguém, ou poucos, ainda acham ruim…Não dá para fazer carnaval com o Covid-19 matando quase mil pessoas por dia, no Brasil…Mas aos adversários do carnaval, ainda vale lembrar, senhores fariseus, que bebedeira e sexo também tem todo dia, com ou sem carnaval…E tem bebedeira e sexo é para quem quer, ou quem pode!
Neste ano o carnaval vem casado com o aniversário de Xanxerê, no dia 27, domingo próximo, também domingo de carnaval. Vai, mais uma vez, dar saudades da Escola de Samba Filhos da Terra que animou alguns carnavais por aqui! Escola criada, mantida e animada por uma alegre e sonhadora “mocidade”, uma geração de jovens xanxereenses, então estudantes universitários, à época mais conhecidos como a rapaziada “que estuda fora” – algo que era um luxo, nos anos 1960 a 1980, não por acaso, na vigência da ditadura militar…
A criatividade da nossa rapaziada que então estudava “na cidade grande”, reforçada pelos amigos que continuavam xanxeriando bravamente por aqui mesmo, teve alguns lances folclóricos, dignos de lembrança, por serem típicos e revelarem bem os costumes e características daquela Xanxerê de apenas 25 anos (1979) de existência: Para comprar os instrumentos e financiar parte da cerveja a ser consumida pela escola de Samba Filhos da Terra, em democrática e animada assembleia decidiu-se fazer uma promoção para “arrecadar fundos”…Até aí tudo bem. Mas a promoção escolhida foi um…torneio de Truco! Que rolou com grande adesão e lucros impressionantes…
Mas, feitas as contas – eram necessários no mínimo uns 30 instrumentos, entre surdos, taróis, tamborins e demais “ferramentas” – o dinheiro do torneio de truco pagava apenas a metade. Então, como cidadãos que em breve se tornariam contribuintes municipais nos julgamos no direito de solicitar ao senhor Prefeito Rovilho Bortoluzzi (de saudosa memória) – que despachava ainda no atual prédio da casa da Cultura Maria Rosa – uma “ajuda de custos”, coisa pouca, mas imprescindível para comprar instrumentos! E fomos prontamente e gentilmente atendidos pelo “Seo Rovilho”, ao qual ficamos eternamente gratos!
E assim nasceram os “Filhos da Terra”, escola que ao final de três carnavais (se não me engano) arrebanhou muitas simpatias e congregou umas cem pessoas, mais ou menos. Acabou porque o pessoal começou a se formar, casar e iniciar, de fato, a batalha diária a vida de cada um e cada uma….Foi uma espécie de despedida dos carnavais e de um Xanxerê que até hoje dá muita saudades! No ápice da trajetória dos Filhos da Terra surgiu uma escola concorrente, a Turma Unida de Xanxerê, TUXA, com quem os filhos da terra fizeram até um desfile de rua, em frente à Igreja do circunspecto Padroeiro Senhor Bom Jesus…E o “sambódromo” lotou!
Mas o desfile atrasou por conta de os Filhos da Terra terem enfrentado uma pane seca (que era chamada de falta de gasolina mesmo) no seu único carro alegórico – com rainha da escola e um barril de chope em cima – metros antes de “entrar na avenida”. O carro alegórico era a relíquia da família Ferronatto, uma pick-up importada, relíquia que até hoje roda pelas ruas de Xanxerê. E a pane seca causou um entrevero internacional: Logo após o desfile dos Filhos da Terra, com carro alegórico e tudo e no momento em que a Tuxa entrava no sambódromo, desabou um horrível toró, uma chuva em metro, que acabou com o desfile! Dispersou milhares de pessoas que se juntaram na calçada apara assistir…. E a Tuxa vinha com bateria e uma luxuosa fantasia, segundo consta, mandada vir do Rio de Janeiro. O pessoal da Tuxa até hoje não perdoa a pane seca… Suas fantasias foram arruinadas pela chuva! Imagina o choro, mas nada foi proposital….
Entre os carnavais dos Filhos da Terra – quem viveu sabe disso – no último ano teve ainda uma peça de Teatro, a “República de São Cerê”! A peça contava, em linguagem cheia de ironia e bom humor, passagens da vida dos “estudantes de fora”, lá “na cidade grande”. A peça foi escrita, montada e apresentada pelos integrantes da escola, a partir de fatos e relatos de acontecimentos nem sempre divulgados, envolvendo alguns dos tais estudantes e de seus irmãos mais velhos, na verdadeira saga que era “estudar fora”. Bons tempos!
E para celebrar melhor a saudades de velhos carnavais, esta Quirera Gourmet informa seus leitores (as) que volta a circular somente na outra segunda-feira, sete de março. Um Feliz aniversário, Xanxerê! Muitos anos de vida!
Um bom fim de semana a todos (as)!