Não tenho filhos, nem familiares, em idade escolar aqui em Xanxerê. E considero que a difícil decisão sobre a volta ou não às aulas presenciais, nessa grave hora da Pandemia, deva ser exclusiva de pais e mães dos alunos, dos professores e dos representantes eleitos, que possuem autoridade – e responsabilidade – sobre a saúde pública de uma comunidade. Se tivesse filhos menores, jamais permitiria sua volta às aulas presenciais num momento como o atual, mesmo que as aulas reiniciassem! Ajudei a criar três filhas e sempre tive como lei o lembrete “prevenir é melhor que remediar”. Parabéns ao prefeito Oscar Martarello e a todos que o assessoraram nessa correta decisão de adiar para primeiro de março o retorno das aulas presenciais. Decisão dura, impopular, mas correta e de grande responsabilidade! Um líder de verdade aparece nas horas mais difíceis. E governar não é esperar, ou buscar apenas e sempre, o às vezes irresponsável aplauso! Até porque… agradar a todos, nem Jesus Cristo!
Óbvio que não dispor de aulas presenciais é um pesadelo para pais e mães de crianças ou menores de idade. Bons pais e mães precisam trabalhar – e trabalham, muito, para sustentar, educar e dar estudo aos filhos. E muitas vezes não tem quem cuide das crianças, no horário de aulas. Mas tenho certeza que para a maioria a saúde dos filhos é a maior preocupação. Estudos podem ser repostos, condições financeiras também podem ser recuperadas. Vidas, não! E uma vida, todos sabemos, “não têm dinheiro que pague”. Poderia escrever muito sobre o acerto da medida, mas não vou fazer isso. Porque tenho certeza que o passar dos dias, o tempo, infelizmente, será mais uma vez o senhor da verdade! Chorar e lamentar a perda de um filho menor de idade, ou iniciando a vida deve ser a maior de todas as dores….
Já escrevi aqui a frase de Millôr Fernandes que considero um lema, e repito: Jornalismo é oposição. O resto é armazém de secos e molhados. Também sou adepto, porém, da linha de Jornalismo que não pende sempre para o mesmo lado, nem para o do “contra”, nem para o “favorável”. E Quirera Gourmet sempre vai ser coluna de opinião, sem atrelamentos! Assim, elogiar uma autoridade, de qualquer esfera de governo, não significa, aqui, “assinar em baixo”, aprovar, sempre, todas suas decisões. Cada caso é um caso e as críticas, quando forem necessárias vão aparecer! Mas neste momento o Prefeito Mascarello merece elogios! Digo isso porque reconheço, também, as inúmeras dificuldades, e as razões, de muitos pais. Porém o momento – de uma forma ou de outra – é difícil para todos. E todos, indistintamente, temos que nos sacrificar, nos “virar nos trinta”!
É curioso ouvir pessoas, mais uma vez, sentir prazer em, além de não ajudar, prejudicar e conturbar o debate e a busca da solução menos traumática e mais prudente, em horas como as atuais. Tem muita gente condenando o adiamento da volta às aulas. Gente que nem possui filhos estudando, que nunca entraram numa sala de aula lotada de crianças, e que têm horror de professores, aos quais costumam chamar de vagabundos, porque fazem muitas greves! Essas mesmas pessoas reclamam da qualidade do ensino, mas jamais vestem a pele de um professor, para ver “como é bom”! Se com greves – por salários justos e melhores condições de trabalho – o ensino brasileiro não é nenhuma Brastemp… Imagine como seria com professores “domesticados”, trabalhando com salários miseráveis e com a “síndrome de vaca de presépio”, que só balançam a cabeça para concordar com governantes! Sem comentários.
Falo isso, também, porque já tentei ser professor, há uns 30 anos atrás. Aguentei por três meses e pedi demissão pois, como disse aos alunos e à direção a Faculdade, não conseguiria ser um professor que finge ensinar, para alunos que fingem aprender! Eu, aprendi: Dar aulas não é para “qualquer um”! A profissão de professor é reconhecida, no mundo inteiro, como a mais nobre DE TODAS! Menos aqui no Brasil onde muitos descarados (talvez fracassados nos seus estudos) e negativistas, tem o desplante de xingar professores de vagabundos e de palavrões bem piores. A difícil profissão de professor no Brasil é tão desprezada por governos – e por muitos pais de alunos e por ignorantes – que hoje são raros, pouquíssimos, os jovens dispostos a seguir a carreira e encarar o desafio de ensinar! Professor aqui – todos sabem – ganha pouco, não é reconhecido, e chega a ter que puxar dinheiro do seu bolso para desempenhar a contento as suas obrigações! Vagabundo, para mim, é quem xinga professor!
Elogiei e vou seguir elogiando muitas ações dos governos do PT. E não tenho receio algum em dizer isso! Muitas ações, mas não todas. Quando vejo professores fazendo greve por melhores salários, xingo e aponto um canhão também contra Lula, Dilma e seus governos: Um país onde professores precisem (quase anualmente) fazer greve por melhores salários, é um país que não está trilhando o caminho certo para seu desenvolvimento. Porque um país assim não reconhece nem dá o devido valor para a educação e para a formação de seus cidadãos, e, portanto, para um futuro melhor para toda a nação. Os governos do PT fizeram bom trabalho na área de ensino profissionalizante, e abriram importantes universidades. Mas os professores, e seus salários…Ó! Mudou nada! E isso foi um erro imperdoável!
É óbvio, também, que em governos anteriores aos do PT nada se fez nesse sentido, ou quase nada! Se houvessem neste país parlamentares decentes e realmente preocupados em construir um país soberano, eles fariam uma lei, definitiva, nacional, um Estatuto da Educação! Para nunca mais passarmos a vergonha de ver professores em greve por.…melhores salários! E esses baixos salários, no país inteiro, expulsam daqui nossas melhores cabeças pensantes e as mais brilhantes inteligências! Durante os dois mandatos, Lula teve altos índices de aprovação, mas não soube aproveitar o momento para reverter esse erro histórico, secular, inadmissível, de o Brasil não valorizar, como deve ser valorizada, a educação! Seria uma luta impopular, pois nunca se valorizou professores, por aqui. E por isso também aplaudo, de novo, Millôr Fernandes: ”O futuro do Brasil tem um enorme passado pela frente”!
Não quero, nem gosto de acreditar nisso, mas é a pura verdade: Não se investe, a sério, em educação e em professores neste país, porque não há o mínimo interesse em formar cidadãos responsáveis, conscientes de seus deveres e de seus direitos. A ideia sempre foi cultivar a burrice e criar muitos ignorantes – fáceis de manipular. E de comprar seu voto! E a consequência, os resultados a longo prazo dessa “política” (chamada obscurantismo) é exatamente o desgoverno que assistimos hoje, a fazer m* todo dia. É a soma de séculos de desprezo e menosprezo à Educação e aos professores! E alguns tem a cara-de-pau de se declarar surpresos, catatônicos, indignados com tanta ignorância que hoje nos assusta, e deve piorar! Ignorância de todos os governos anteriores, do desgoverno atual e de significativa parcela do povo… Desprezar a educação e chamar de vagabundos os nossos professores…dá exatamente nisso aí!
Quirera Gourmet