Mesmo que só por enquanto, a possibilidade de o Ex-presidente Lula disputar a eleição presidencial de 2022, mais a repercussão do pronunciamento do líder petista, provocaram visíveis movimentos do governo federal. Mais que uma demonstração da insegurança do governo – afinal, Lula segue indiciado pela Justiça e ainda vai responder aos processos anulados em Curitiba – pequenas mudanças são visíveis, como Jair Bolsonaro usando máscara, em público, e sua declaração de que faz “o que povo manda”… revelam indisfarçável medo do petismo e de Lula. Medo, talvez, pelo discurso que cortou na carne muitas lideranças propensas a retirar o apoio a Bolsonaro, face, especialmente, às crescentes críticas no combate ao Corona Vírus por parte do governo.
No domingo (14/01) a grande imprensa já dava como certa a saída do Ministro Pazzuello da área da saúde, que não estaria mais servindo de “para-choque para Bolsonaro”, segundo disse a Jornalista Natuza Néri, da Globo News. Essas incríveis palavras mostram que o governo não procura, nem quer, um competente ministro da saúde. Procura por um mero “para-choque”, para que “as críticas não caiam direto no colo de Bolsonaro”, como ouviu (e disse) a Jornalista, segundo ela, de apoiadores próximos ao presidente…Nada de novo: O presidente quer é preservar sua imagem, que anda despencando nas pesquisas (que poucos divulgam), e não combater a Pandemia com algum traço de eficácia e competência.
Também no domingo, o nome de uma cardiologista de São Paulo foi sugerido e logo descartado, para substituir Pazuello. Ela teria manifestado ao presidente ser favorável ao isolamento social e contrária ao uso de medicamentos como a cloroquina e ivermectina no tratamento precoce. O presidente e a indicada ao ministério da saúde teriam concordado apenas sobre a necessidade da vacinação. Ontem, apoiadores do Centrão teriam concluído que a troca de Pazuello por alguém que concorde com Bolsonaro, ”seria trocar seis por meia dúzia”. Ou seja: as críticas ao governo não iriam diminuir, pois o novo ministro deve seguir as “orientações epidemiológicas do Dr. Jair”…
Outro sinal de que o pronunciamento de Lula na entrevista coletiva (que repercutiu na imprensa do mundo) acertou nos fundilhos do governo são reações nas redes sociais de bolsonaristas radicais. Eles voltaram a assacar Lula com os conhecidíssimos – mas já nem mais aceitos por muitos – adjetivos “ladrão”, “cachaceiro” e “corrupto”… Caso Lula fosse tudo isso, não haveria sequer motivos para caluniá-lo, de novo, sem provas. Fazem isso por medo de Lula. E alguns por saberem muito bem que uma eventual candidatura de Lula, hoje, seria muito difícil de ser vencida. Isso, face principalmente aos péssimos resultados obtidos em dois anos pelo atual governo. E não por méritos da oposição, ou da esquerda. E a eleição ainda está longe, acontece (se acontecer) somente em outubro de 2022…
Atento observador da política brasileira, lembro que no início de sua administração, o despresidente tinha como críticos e oposicionistas exclusivamente os petistas. Hoje, a oposição está em muitos partidos… Líderes dos demais partidos, assim como políticos com mandato, filiados e simpatizantes de siglas que não apoiaram a eleição de Bolsonaro, inicialmente se calaram e adotaram o discurso fácil e oportunista de apoio ao novo governo…E fizeram isso ignorando sinalizações, já a partir da escolha dos seus ministros, de que Bolsonaro não teria o mínimo preparo, nem político, nem de liderança, para administrar o Brasil. Se, ao menos, tivesse escolhido um ministério de respeito, com especialistas, ou nomes experientes nas respectivas áreas, a esperança de um bom governo poderia sobreviver.
As grandes estrelas do ministério eram o Ministro da Economia, Paulo Guedes – escalado, como todos anunciaram e sabiam, para vender tudo o que pudesse ser vendido; o Ministro da Justiça, Sérgio Moro, naquelas alturas ainda herói nacional, por ter mandado Lula para a cadeia, e impedido sua candidatura à presidência. Com Moro, o objetivo era faturar popularidade: Ter um herói na trincheira, qual político não quer? E mais o Ministro da Saúde Henrique Mandettta, mais conhecido, até então, por ser um crítico feroz do SUS, que queria privatizar. E por ser um fiel representante da classe médica brasileira, revoltada com a presença de médicos cubanos no Brasil, que trabalhavam ganhando bem menos que os brasileiros, e aceitavam trabalhar nos confins do país, onde médicos brasileiros nem queriam ver na frente.
Mesmo assim, Moro e Mandetta bateram de frente com um presidente autoritário, sem qualquer habilidade de negociação, e “se achão”… A ponto de querer interferir em investigações da Polícia Federal – para proteger seus filhos – o que tirou Moro do Ministério. E por querer saber mais de Ciência e que os cientistas, Bolsonaro botou Mandetta para correr do governo, de onde este saiu atirando, e até hoje continua mandando bala. Sobrou o Guedes, que Bolsonaro também cogitou em mandar às favas. Mas não mandou porque brigaria com o “Deus Mercado”: Guedes está vendendo o Brasil a preço de banana e rapidamente, conforme o combinado com os neoliberais, bancos e os mais ricos. Bolsonaro sabe que se tirar o Guedes, seu governo não dura duas semanas.
E nesse entra-ministro-sai-ministro também se incluem ministros militares, bem próximos ao presidente, na campanha e no início de seu governo. Alguns pediram o quepe e voltaram aos quartéis. Pressionado pela Pandemia – que ele, em pele e osso, insistiu em negar durante todo o ano de 2020 – Bolsonaro ainda viu o crescimento da inflação, incluindo a disparada dos preços dos combustíveis, dos alimentos básicos e o colapso no sistema público de saúde, conforme previsto e anunciado pelo próprio Mandetta. Chegando aos 300 mil mortos e se aproximando de ser o país com maior número de mortes causados pela Covid, o Governo Bolsonaro descobriu, esses dias, que está muito atrasado na compra de …vacinas. E a culpa dessa gritante incompetência – falando sério – não é de Pazzuelo. É de Bolsonaro mesmo, em pessoa, ao vivo e a cores…
Com sua popularidade desabando nos últimos dias – na mesma proporção em que aumenta o número de vítimas da Covid – Bolsonaro viu seu nome ser associado a outro adjetivo, bem mais grave que “bêbado”, ou “ladrão”…As redes sociais estão cheias de “Bolsonaro genocida”… Ao mesmo tempo não param os protestos e as críticas pelo atraso, tanto na compra como na aplicação e vacinas. E no início do ano o presidente viu os Norte-americanos mandarem de volta para casa o Ex-presidente Trump, maior ídolo e uma espécie de “esteio psicológico” – de Bolsonaro e de seus filhos! Agora, para piorar, vem o Faccin – que nas gravações obtidas da Lava Jato foi saudado por Dellagnoll com um vergonhoso “uhú, ahá, esse é nosso” – anular todas as condenações de Lula. E mandar recomeçar os processos na Justiça Federal de Brasília.
Pior ainda: em discurso considerado histórico, Lula destruiu, moeu, fez picadinho do Governo Bolsonaro – e isso muita gente viu, muitos aplaudiram e muita gente pensa da mesma forma…. Diante disso, não fiquei impressionado, nem estranhei, achei até muito natural brasileiros e alguns xanxereenses convocando e participando de carreata de apoio a Bolsonaro e ao seu governo, no último domingo, mas com reduzido número de participantes. E num momento, devido à Pandemia, completamente impróprio – impossível não ver isso! Manifestação explicável, facinho, facinho: É que a coisa para os lados do governo – isso também é bem fácil de se enxergar – está cada dia mais feia! Porém mais feio está o combate à Pandemia, com o agravante: Procura-se um novo ministro da saúde. Missão dele? Servir de para-choque às críticas dirigidas a Bolsonaro…Enquanto isso mais de mil brasileiros perecem, todos os dias…Mas, “E DAÍ”???