Conversas com amigos da minha geração, os da faixa dos 60 e muitos, são recheadas de lembranças e passagens de nossas vidas. Temos, certamente mais histórias já vividas do que ainda a viver, o passado é mais volumoso que tudo o que poderá acontecer no presente e no futuro… A não ser que descubra a tal fonte da via eterna. Ao mesmo tempo, no decorrer dos dias, semanas e meses, notícias dão conta de amigos com graves problemas de saúde, ou pior, sem esperanças de viver ainda muitos anos. “Está chegando a nossa vez”, resumiu, lacônico um amigo da nossa faixa etária. E é verdade. Falando nisso, dia desses observei a um velho amigo que a gente deve é ser feliz…se não por algum fato concreto, pelo simples fato de continuar por aqui, vivos, “por mais uns dez ou quinze anos, talvez, não muito mais que isso”, acrescentei… Meu amigo concordou, mas assustou: Não tinha, pelo jeito, feito essa conta, ainda. A lembrança que me ocorre quando penso nos dias que se foram é daqueles anos, dos 14,15, 16, quando os 18 nunca chegavam. Eu queria fazer 18 logo, para poder ir ao Cine Luz, nos domingos à noite…
Acredito que lido bem com essa estória de morrer. Sempre repeti que a morte é a única certeza que temos durante toda a vida. A pessoa que vi mais de perto chegar ao fim da vida foi meu pai. E mesmo sabendo que ele estava indo embora, eu não acreditava. Pensava que poderia ocorrer um milagre, ou que sua doença repentinamente fosse embora, assim como apareceu. Só acreditei mesmo quando ele se foi. A morte, embora triste, tem fortes ingredientes de mágica, de mistério, de inacreditável, imponderável…por mais que ela seja reta e certa, a gente não quer acreditar que ela vá ocorrer. Mas nunca falha, infelizmente. Fica aquela curiosidade sobre o que virá depois, Pisciano, eu li que os nascidos nesse signo são conhecidos como “velhas almas”, pois já teriam passado, em outras encarnações aqui na terra, por todos os demais signos. Assim, os de peixes quando morrem não reencarnariam mais aqui na terra, passariam para outro nível. Sei nada mais sobre esse outro nível, e meus conhecimentos sobre o pós-morte são bem modestos. Melhor esperar para ver…
Ao mesmo tempo em que se pensa no fim, impossível não pensar no que fizemos e deixemos de fazer por aqui. Para os que não desenharam projetos faraônicos, esse exercício acho que é mais fácil. Costumo resumir que fiz o que me foi possível fazer, com as armas e as condições que dispunha. Poderia ter feito mais, sem dúvidas, mas a gente, para fazer e acontecer, não depende apenas da gente – como se diz por aí. Tem muitas pessoas que fizeram rigorosamente tudo certo, mataram muitos leões, venceram muitas batalhas, mas acabaram perdendo a guerra. Ou morreram frustrados por não ter alcançado o grande objetivo que traçaram para sua vida. Nunca fui de sonhar grande, de desenhar heroicas conquistas, nem de reinventar a roda. Me contento com o que consegui, mas não vou dizer que me sinto realizado por isso. Porém, digo que me sinto satisfeito com o que consegui, graças a Deus! Acredito que para ser feliz a gente não precisa de muita coisa, nem de uma montanha de dinheiro, nem nascer em berço de ouro. Para ser feliz, na minha opinião, primeiro é preciso conseguir decifrar o mundo e entender a vida. E lutar, muito, sempre, com as armas que estiverem nas nossas mãos…
Não somos seres perfeitos e nem acho que a busca da perfeição deva ser meta ou objetivo de quem quer que seja. Para mim a meta é ter uma vida saudável, honesta, transparente e feliz, sem perder a lembrança que viemos do pó e ao pó haveremos de voltar. E que daqui não se leva nada. Portanto, para mim o importante é viver, bem, o tempo que a vida nos propiciar. E reclamar sempre menos da vida, reconhecer mais a graça de estarmos aqui, vivos e ativos, enquanto pudermos. Não acho errado, nem invejo quem viveu para pensar e sonhar grande, mas essa não era a minha história, e cada um faz a sua… E gosto muito da minha. Se pintar uma chance para fazer mais, é claro que vou gostar e me dedicar, como sempre fiz, para me dar bem, com as armas que tenho. Enquanto isso, saudemos e agradeçamos a vida! E, “às estas alturas do campeonato”, é muito bom relembrar as conquistas, grandes ou pequenas, os momentos de felicidade, as reuniões de família e de amigos que ficaram guardadas na galeria dos troféus da nossa alma. Passagens simples e felizes, que soam com grandes festas, momentos inesquecíveis…
Guardo, com especial carinho, por exemplo e entre muitos, os tempos de rodas de viola no “Bar do Clóvis”, na esquina da Avenida Brasil com Olavo Bilac, bem no centro de Xanxerê. Inclusive aquela em que bateu a recém-chegada à cidade Rádio patrulha da PM… Mandaram que parássemos de tocar (e a gente não “fazia barulho”, cantava e tocava afinadinho). Educadamente informamos a verdade ao “Seo Guarda”: Morávamos (a maioria dos sete ou oito projetos de boêmios, todos na faixa de 20 e poucos anos) quase todos ali ao redor, pertinho do bar. E argumentamos ao policial não acreditar que alguém havia ligado para reclamar do barulho, pois nossos pais e mães sabiam que estávamos ali, tomando uma Antárctica bem gelada, de Joinville, na roda de samba do Bar do Clóvis (cujo nome oficial era “Roda Viva”, se não me engano) …Para nosso espanto, o guarda aceitou nosso “arrazoado” e liberou “até a meia noite”, … e o samba não parou! Tais lembranças são verdadeiros tesouros. Só não cito quem eram os amigos, muitos ainda bem vivos e saudosos que nem eu, com medo de esquecer algum, ou vários. Mas que foi muito ótimo, não temos dúvidas!
Ao lembrar de amigos que já se foram, alguns mais novos que eu, acredito que ser lembrado, de alguma forma a gente sempre será. Mas será que isso é mesmo importante? Gosto muito de letras de sambas que falam da vida e da morte, mas com bom humor: “Quando eu morrer;/não quero choro nem vela/quero uma fita amarela/gravada com o nome dela” (“Fita Amarela” – Ari Barroso). Ou desse clássico do samba, que ainda vai ficar na memória por séculos, pois diz em palavras simples a pura realidade: “Sei que amanhã/ Quando eu morrer / Os meus amigos vão dizer/ Que eu tinha bom coração/ Alguns até hão de chorar/ E querer me homenagear/ Fazendo de ouro um violão/ Mas depois que o tempo passar/ Sei que ninguém vai se lembrar/ Que eu fui embora/ Por isso é que eu penso assim/ Se alguém quiser fazer por mim/ Que faça agora…Me dê as flores em vida/ O carinho, a mão amiga/ Para aliviar meus ais/ Depois que eu me chamar saudade/ Não preciso de vaidade/ Quero preces e nada mais. (“Quando eu me chamar saudades”- Nelson Cavaquinho).
Essa é a vida! E ela é maravilhosa! É muito bom estar aqui!
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