Fica mais fácil a cada dia encontrar barbaridades cometidas, na Imprensa escrita e falada tradicional e nas redes sociais – por profissionais de Comunicação – contra a Língua Portuguesa. Até entendo que se dê pouca atenção a isso porque até a qualidade dos conteúdos como a escolha de pautas da imprensa brasileira em geral – com raríssimas exceções – anda muito abaixo da crítica. Mas tudo tem limites… E quem quiser pode me xingar do que achar melhor, mas, 1) o idioma é minha ferramenta de trabalho. E escrever corretamente é o mínimo que se pode exigir de alguém que se diz profissional, Jornalista. E 2) num tempo em que se fala tanto em pátria e cidadania, fica bem feio menosprezar, maltratar e pisotear o idioma da nação, a tal “Língua Mãe”!
Mais: Acredito que não se consiga dar crédito, por exemplo, a um profissional que escreva “oço” assim, com cedilha. Não chegamos a tanto, ainda. Mas estamos a caminho. Daí que resolvi não me importar em ser chamado de chato, ou perfeccionista, ou de “sabe tudo”. Quero apenas contribuir, e não tenho medo de ser acusado de acusações. Temos que lembrar, ainda, que não é porque o negacionismo está em alta, ou porque vivemos num país onde o despresidente renega e combate a Ciência que podemos, agora, rasgar também o dicionário e a mandar a ortografia “praquele lugar”. Aos que simplificam tudo, chamam pandemia de gripezinha e acham que a Terra é plana e que “ninguém mais liga para essas coisas”, eu digo: Certas coisas nunca saíram (e nem vão sair) de moda, nunca! E saber escrever corretamente, assim como acreditar na Ciência, são duas delas. E a Terra ainda é redonda!
O fato é que o antigo “mal traçadas” linhas decaíram e podem hoje serem chamadas (lamentavelmente) de “estraçalhadas linhas”. E isso dói na vista, no ouvido e na alma…. Dói mais ainda quando o (a) autor (a) ou responsável por escrever tudo errado, e em linhas tortas, ostenta a rara (no Brasil) condição de ‘proprietário’ de diploma de curso superior. De Comunicação ou de outra profissão… vejam bem que quem vos fala sabe e reconhece seus próprios (e muitos) erros. E não estou pregando a perfeição. Estou, apenas, defendendo mais qualidade (e um pouco de respeito ao nosso idioma) nas agora trucidadas linhas. A impressão muitas vezes é que não se está nem aí. E esse é o caminho para escrever – e termos a tristeza de ter que ler, daqui há alguns parágrafos – osso com cedilha! Isso entre outros absurdos, cujo nome correto é ignorância!
Por questão de ética não citarei alguns exemplos, péssimos, que andei colecionando – com a intenção de mostrar absurdos diários, especialmente em sites de notícias. Porque citando o exemplo seria fácil se chegar aos autores. E não estou aqui para disseminar ódio a quem quer que seja…Mesmo assim, achei necessário, talvez útil e didático mesmo – sem querer dar “uma de professor”, comentar sobre essa desgraça. Apenas para alertar alguns (as) caros (as) colegas que a credibilidade – que todos querem – exige como pontapé inicial ao menos escrever com alguma proximidade da norma correta, ou culta. É o mínimo. E convenhamos, para quem trabalha na área, isso não é “coisa do outro mundo”! Se alguém sabe nem sequer “manejar” sua enxada….
É fácil se deparar, ou ser atropelado, por catastróficas gafes primárias de advogados, médicos, engenheiros e outros diplomados em universidades, cometidas contra a Língua Portuguesa. Muito feio isso, também. Mas para Jornalistas, acho intragável, inaceitável e horroroso mesmo! Falo de erros crassos, inadmissíveis e inaceitáveis. Afinal, trata-se da nossa (nobre) ferramenta de trabalho. É claro que reconheço a precariedade do nosso ensino – em que pese o enorme e louvável esforço da absoluta maioria dos professores – mas nem isso serve para justificar, nem explicar. E ainda mais hoje, escrevendo em computadores, todos, equipados com corretores ortográficos eficientes! E oferecendo dicionários on line para tirar qualquer dúvida!
Quando entrei pela primeira vez na redação de um jornal, lá no início dos anos 1980, era comum se ouvir gritos, na sala com umas 40 máquinas de datilografia, com perguntas do tipo: “Fulano, paralisação é com z ou com s”? E adianto: Ninguém, tinha vergonha de fazer perguntas assim…Talvez porque naqueles dias a soberba não era moda. E a humildade ainda sentava nos ombros de quem começava na profissão. Mas já naqueles bravos tempos havia os que “não davam bola para isso”. E dos que conheci, sou testemunho: Nenhum deles foi muito longe na profissão … Porém, não me atribuam papel de revisor ou de censor, e muito menos de inquisidor…Aos mais novos, gostaria que entendessem isso como um “quem avisa amigo é”!
Já que tirei as estraçalhadas e as mal traçadas para dançar, cumpre também estender esta catilinária aos assuntos ou, para as inacreditáveis pautas que temos por aí, em geral, incluindo em telejornais de tevês abertas. E essa pratica lamentável – e generalizada – também é velha, mas está piorando, muito! Assisti numa rede de TV catarinense neste final de semana a incrível matéria de um cachorrinho, em Chapecó, que foi flagrado roubando um ursinho de pelúcia da loja onde lhe servem ração e água! Daí fiquei imaginando a descomunal carga de interesse público que uma notícia dessas pode ter… Que é notícia, não há dúvida! Não é todo dia que cães de rua roubam ursinhos! Agora, quanto à relevância ou interesse social da notícia…. E vejo aí uma indisfarçável preguiça de se procurar (e tem, muitas!)pautas que tenham uma importância social um pouquinho só, maior!
Daí essa bronca não é mais com os bravos “repórteres de rua”, é um pouco mais acima, é com seus “chefes de redação”. E talvez, a orientação venha do (mau, para mim) hábito de copiar péssimos exemplos. Ou de “ordens superiores”… Sem pensar muito, que tal investigar por exemplo, quantas pessoas cuidam e se (pre)ocupam, na cidade, com cães de rua? Tem um baita exército! Ou tentar estimar quantos cães foram retirados das ruas por essas bravas pessoas? Ou que tipo de zoonoses esses animais podem transmitir? Assuntos derivados – e de interesse social – sempre existem, e são facilmente visualizados. Resta, então, imaginar ou atribuir esse descaso com as pautas ao descaso, ou a, digamos, falta de vontade mesmo. Isso para não escrever uma palavrinha que o bom Jornalismo não aceita: Preguiça. Mental e física! Depois, quando a audiência for para as cucuias, caberá, apenas, reclamar com o Bispo de Palmas! Sites são extremamente úteis e práticos, sem dúvidas. Mas a qualidade da informação é outra que não sai de moda…