Bons tempos aqueles em que a Femi acordava Xanxerê, e transferia a cidade para o parque de exposições Rovilho Bortoluzzi, num corre-corre alucinado e único. De 1982 a 2022 lá se foram quatro décadas, e muita água. Aquele mundo, naquele modelito, quase desapareceu e é óbvio que a Femi por si só não tem mais a magia de mobilizar e turbinar a Campina como acontecia antigamente…Inovar e propor desafios são situações da moda, hoje, e certamente vão desfilar seus ‘corpitchos’ na Femi 2022, encarando ainda a desvantagem de algumas recentes festas canceladas ou adiadas.
Olhando assim por cima dá impressão que não se tem mais clima para Femi, mas acredito que seja uma falsa impressão. Toda e qualquer comunidade gosta e se esforça, quando se trata de expor, colocar na vitrine, o que tem de melhor, as suas qualidades e o seu orgulho! E deve existir, ainda, aquela velha proposta de “fazer maior e melhor que a anterior”. E quem é xanxereense – raiz ou nutella – sabe que a Femi ainda é a maior vitrine que a economia local conseguiu armar. E já dura 40 anos. Nenhuma outra iniciativa – a não ser a festa do Padroeiro Senhor Bom Jesus da Coluna, acredito – teve vida tão longa…
É tentador pensar em definir alguém, uma mulher com 40 anos de idade para dar seu testemunho sobre Xanxerê e as Femis que assistiu ou participou. Não foram 20 edições porque duas ou três foram canceladas, na conta de tornado, pandemia e não sei se mais algum problema. Mas as que aconteceram certamente têm muita história para contar, também. Pena que – igual a muitas coisas importantes por aqui – ninguém se preocupou em armazenar imagens e documentos que mostrassem um pouco de cada uma. Seria, já, uma bela atração…
Falar em memória preservada num país onde sequer se tem um Ministério da Cultura é querer um pouco demais, né não? Porém se formos balizar as coisas com base no que acontece hoje no país,…benzódeus! Vai sobrar muito pouco para contar ou mostrar! E Xanxerê já esboçou nos anos 90 uma frágil e pouco duradoura tentativa de resgatar a história, gravando depoimentos dos mais antigos e recolhendo testemunhos, fotos, reconstituindo fatos marcantes…Não sobreviveu, sobrou nada… mas merecia estar forte e atuante até hoje, quando novamente se volta a valorizar a reconstituição de fatos históricos…
No final dos anos 1980, mais ou menos ao mesmo tempo em que duas administrações estaduais do então PMDB governaram a Santa e Bela, Xanxerê deixou de sediar uma série de escritórios de supervisão e coordenação microrregionais de órgãos do Governo do estado, logo que “o PDS” retomou o poder. Os órgãos, sob a ”justificativa oficial” de aproximar mais o governo da região e dos oestinos, foram na verdade úteis cabides a correligionários, cabos eleitorais e do PMDB, exatamente igual ao que faziam o PDS, a Arena…
Com a posse de Vilsom Kleinnubing no governo de SC tais “repartições” fecharam e, por óbvio, as “ extinções” foram profundamente lamentadas por quem perdeu a teta. Sumiram “coordenações regionais” da Cidasc, Ipesc, Epagri, Casan, Delegacia de Polícia, Receita estadual, entre outras. Os peemedebistas da hora buzinaram forte: “Xanxerê, a cidade da Lá tinha! Tinha Cidasc, tinha Ipesc, tinha…”! O Chororô mudou coisa alguma, mas rendeu muita discussão entre os eternos adversários políticos locais: PDS e PMDB…
Para o bem e para o mal os tempos da Cidade da Lá tinha ficaram para trás e ninguém mais lembra…Na rota de aproximar governos e governados, a era Luiz Henrique ainda ressuscitou um pouco essa história com a criação de outro grande guarda roupa cheio de cabides, desta vez batizado de Secretaria do Desenvolvimento Regional. Às vezes penso que “certas passagens” da política e da história da Santa e Bela Catarina não recomendam – digamos – que se resgatem os fatos…às vezes melhor que caiam no esquecimento mesmo! Cidade da Latinha, por exemplo, não tem mais. E que fique assim mesmo!
Não restam dúvidas que iniciativas como a Femi não podem cair no esquecimento, muito menos serem ignoradas pela história. Trata-se no caso da Femi da maior e a mais bem-sucedida iniciativa, empreendimento, esforço e realização coletiva de uma comunidade que, infelizmente, não possui muitas histórias de sucesso semelhantes. E nem maiores! Bem ou mal, Festa Estadual do Milho foi o melhor resultado de esforço coletivo que Xanxerê logrou conseguir, nos seus 67 anos de município…
Por mais que possa parecer – e parece mesmo – um evento que, nos moldes em que vinha sendo realizado tenha poucas chances de sucesso, hoje, nada impede nem inviabiliza que a Femi se reinvente, se recrie e se repaginize! Não sei se há outros casos semelhantes com feiras se repaginando, mas está aí um desafio que certamente pode cativar muitas e boas cabeças pensantes. Especialmente a rapaziada ávida por construir o novo e encarar paradas inéditas. Mãos à obra!
Um bom final de semana a todas(os)!