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14/01/2021 às 06:00
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Quirera Gourmet – 14/01/2021

Quirera Gourmet
Por: Flavio Carvalho

Um Novo Cenário Na Política Xanxereense

Quem conhece a história política de Xanxerê sabe que por aqui dois grupos formados à época da ditadura militar – MDB e ARENA, herdeiros do PSD e da UDN, respectivamente (isso em todo o Brasil) – sempre se digladiaram pela conquista da administração municipal. Com um placar folgado de vitórias do grupo que saiu da Arena, depois PPB, depois PDS, depois PP também de várias siglas, que englobam o PFL, depois DEM, depois PSD e outros, de menor expressão.

Uma Exceção

Aqui, mesmo com a presença do PT – que coligou apenas uma vez na eleição a prefeito, e não venceu – com Bruno Bortoluzzi e Paulo Boita – os prefeitos saíram quase sempre do mesmo grupo político, considerado a direita, na política da Campina da Cascavel. A única exceção foi a eleição de Julio Bodanese / Sady Marinho, em 1992. Curiosamente, com a maior votação percentual, até hoje, dada a um candidato a prefeito. E a única vencida pela oposição ao chamado grupo político dominante. O grupo teve quatro grandes líderes, vencedores de épicas eleições: Rovilho Bortoluzzi, Doílio Moschetta, Hélio Winckler e Avelino Menegolla. Destes, Rovilho e Winckler tiveram dois mandatos cada e Menegolla, três.

Divisor de Águas

Ou seja: Em Xanxerê as maiores lideranças políticas sempre estiveram abrigadas na ‘herança’ da Arena e do MDB, depois PMDB e depois MDB de novo. Do PMDB e de alguns partidos “nanicos” surgiu também o PSDB, que elegeu o Ex-prefeito Bruno Bortoluzzi. Mudaram-se os nomes dos partidos, mas os agrupamentos de pessoas e lideranças foram praticamente sempre os mesmos. Porém, tudo leva a crer que a bipolarização sofreu duro golpe na eleição de 2020, mesmo com a vitória de Martarello e Biasus (PSDB/PMDB), numa eleição totalmente diferente…. Para começar, seis candidatos a prefeito, nunca aconteceu, nem antes, nem depois da ditadura de 1964/88. E o resultado desta eleição mostrou surpresas. Para constatar isso, basta analisar os números.

Ex – Pequenos Partidos

Totalizaram 35.687 os eleitores aptos a votar para prefeito e vereadores em Xanxerê, dos quais 74,83% efetivamente votaram, com 25,17% de ausentes. Martarello, o eleito, somou 35,66% dos votos (8.892). Não tenho essa conta, mas acredito que deva ser o menor percentual de votos a eleger um prefeito. Meu foco, porém, são os votos dos demais candidatos: Wilsom Martins (PSL): 21,23% dos votos (5.293); Edson Marció (PODEMOS), 14,84% dos votos (3.699); Adrianinho (PT) teve 14,35% dos votos (3.578) e Leandro Vigo (PL) obteve 12,38% dos votos(3.087). E Ezequiel Mello (PTC) somou 1,54% dos votos (384). Para um município onde o prefeito sempre se elegia com 45% a 55% dos votos, e onde os dois mais votados geralmente totalizavam mais de 80% dos votos, essa pulverização – entre PSDB, MDB, PSL, PODEMOS, PL, PT e PTC não pode ser desprezada. Ela mostra um novo perfil de eleitor.

Mudou de Cara

Daqui para frente, ao menos PSL, PODEMOS e PL não são mais partidos “pequenos”, apesar de terem disputado a eleição para prefeito aqui pela primeira vez. Mesmo sem o PT, se estivessem coligados os três novos totalizariam 18.372 votos, mais que o dobro do candidato vencedor, que fez 8.892. Note-se, ainda, que no grupo de apoio a Martarello e Biasus estavam simplesmente TODOS os ex-prefeitos ainda vivos – algo também inédito em Xanxerê. Juntos, e ainda com apoio do Ex-deputado Gelson Merísio, conseguiu-se 35.66% dos votos. Não estou aqui desmerecendo os ex-prefeitos, nem quem quer que seja. Todos conquistaram importantes avanços para Xanxerê, e têm muitos méritos! Mas o eleitor municipal mudou de cara. Isso ficou bem claro….

63,34% não “Aos Mesmos”

Somadas as votações dos cinco candidatos derrotados temos 63,34% de eleitores que não votaram no prefeito eleito, Oscar Martarello. Adianto que não estou diminuindo nem menosprezando a vitória dos eleitos. E parabenizo novamente o Prefeito Oscar Martarello por declarar, logo após a apuração, que vai ser prefeito de todos. Ele precisa e merece ser, foi eleito para isso! Mas o foco aqui é outro: A velha polarização entre Arena e MDB e seus herdeiros, tem tudo para ter começado a desaparecer. Isso também é explicável por já termos mais de 30 anos da Constituição – e 15 eleições, considerando-se uma a cada dois anos…. Não chego a dizer, já, que o povo estaria mudando sua forma de definir o voto. Mas com certeza sinaliza que os xanxereenses pelo menos já descobriram que é possível não “votar sempre nos mesmos”. Um comentário, aliás, muito ouvido, nas eleições de 2020.

Satisfeitos

Não conversei com os candidatos que disputaram com Martarello e Biasus. Mas acredito que todos saíram satisfeitos com os resultados: Wilsom Martins, Edson Marció, Adriano de Martini e Leandro Vigo fizeram expressivas votações, todos com mais de 12% dos votos. O destaque dos 21,23% de Martins deve considerar seus dois mandatos de vereador. Foram oito anos de dedicação – e de combativa campanha é claro, para a eleição de 2020. Para mim a maior surpresa foram os 3.699 votos, ou 14,84%, dados a Edson Marció. Um empresário de sucesso, com boa participação comunitária, porém inexperiente nas artes e nas manhas da política. E um ilustre desconhecido na política partidária municipal. Já Adrianinho e Vigo ficaram dentro do previsto e não decepcionaram. O PT, diante das eternas tentativas de culpa-lo por todos os males do Brasil, elegeu dois vereadores. Porém, ficou abaixo dos tradicionais 20% dos votos que geralmente fazia. E o PTC de Ezequiel Mello, pelas características e condições de sua campanha não fez feio, com seus 384 votos. Se não sumir, e insistir, elege um vereador, na próxima.

Tratos

Também dá para dizer que ainda é cedo, mas goste-se ou não disso, Martins e Marció saem da eleição credenciados como prováveis candidatos a prefeito, em 2024 – que fica logo ali. E essa perspectiva ou possibilidade pode, desde já, estar causando suas consequências, mesmo que nesse ano – graças a Deus, para muitos – não tenha eleição. Mas no ano que vem, vai ter! E a eleição para presidente, governador, deputado e senador já começou a “ser amarrada” antes da eleição para prefeito e vereador. Há quem diga que a eleição da mesa da Câmara é uma “amostra” disso…Com eleição ano sim, outro não, o calendário político brasileiro parece calendário de safras agrícolas: Quando não se está plantando, nem colhendo, é hora de dar uns tratos no solo, corrigir e adubar a terra para a próxima safra ser vitoriosa….

Tomara!

Só para concluir – como costuma frisar um grande amigo – acredito, tomara, que essa despolarização seja positiva para o desenvolvimento da consciência política do cidadão e do eleitor xanxerense. Aqui, como no Brasil inteiro, disputava-se eleições municipais como se fossem mera final de campeonato de futebol, onde o nosso time tem que ser campeão, mesmo que jogue mal e não agrade sequer sua fiel torcida. Na bipolarização, se você é a favor de um, automaticamente será contra o outro. Esse modelito mostrou que está “fazendo água”… E política deve ser bem mais que isso, não é apenas uma final de campeonato. Com vários partidos e vários candidatos para optar, o eleitor pode começar a analisar as coisas em outra perspectiva, na base de prós e contras de cada candidato. E optar por um não vai mais significar ser contra os demais, nem votar “naquele que vai ganhar”. Um voto mais consciente e mais ‘pensado’ pode estar a caminho. Tomara!

(Correspondências para Quirera Gourmet: romeujornal@gmail.com)

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