Motivos variados e alguns certamente com poucos propósitos de pensar e agir pela coletividade levaram mais de 21 mil catarinenses a disputar uma vaga de vereador (a), nesta eleição de 15 de novembro de 2020. São cerca de quatro mil a mais, no estado, do que em 2016. E com aproximadamente 33,7% de mulheres, contra 31,7% na última eleição. Defendo e defenderei sempre a maior participação das mulheres na política, por vários motivos. O principal mesmo é porque os homens fazem da política mais um motivo para exercer um hoje totalmente decrépito e decadente machismo. E também por acreditar que homens na política é algo que não tem dado resultados satisfatórios. O placar aponta 7 a 1 para a corrupção. E a prova disso é o inédito e altíssimo descrédito da maioria da população na política atual, onde predominam os homens. Não acredito que todas as mulheres sejam santas, ou totalmente na política, como prova a deputada federal pelo Rio de Janeiro que “adquiriu” uma indesejável tornozeleira eletrônica. Mas os homens, a gente já viu no que dá. É hora de mudar…
Mesmo discordando de vereadores com altos salários não tenho dúvidas de que o vereador, quando atuante e ciente do seu papel na sociedade, cumpre um papel muito importante, em qualquer município. Ele personifica, talvez como nenhum outro político, nem mesmo prefeitos, o legítimo representante da comunidade onde vive. Embora possa se aceitar que o imobilismo e o comodismo de muitos vereadores, hoje, diminui a importância e desvaloriza seu mandato, o vereador é o primeiro e o mais próximo “recurso” a quem o cidadão deve e pode recorrer. Acontece, infelizmente, de muitos vereadores depois de empossados serem mais fiéis aos desejos do prefeito do que de seus eleitores. É como se tivessem sido eleitos com o voto do prefeito, não de seus eleitores, amigos e simpatizantes. Esse é outro triste vício que precisa terminar, se quisermos de fato construir um país mais decente!
Se fosse vereador um dia, por exemplo e viessem cidadãos, meus eleitores ou não, pedir qualquer providência necessária ou justa que o prefeito se nega ou ignora, sem dúvidas eu organizaria uma comissão – ou uma multidão – e iria para frente da prefeitura, ou até o gabinete do prefeito, pressionar. É esse o papel do vereador, que jamais deveria abrir distanciamento da comunidade, ao contrário: Deve andar sempre em sintonia com ela. Mas infelizmente o que mais se vê é o vereador, especialmente os da “base do prefeito” tentar passar pano nas ações cobradas pelo cidadão. Ou seja, em vez de defender as demandas do povão, defende as posições do prefeito, alega que não tem recursos, que não dá para fazer, ou simplesmente não quer fazer aquilo. A isso chama-se vereador do prefeito, não da população. E se realmente o prefeito não tem condições de atender aquela demanda, o vereador deve procurar outros caminhos, talvez junto à própria comunidade, para atender a demanda.
Óbvio que o vereador é o que é,hoje, porque está inserido no balaio de gatos que virou a política partidária atual, no Brasil. Mas nunca é tarde para torcer, rezar e cobrar que vereadores sejam, fundamentalmente, porta-vozes da comunidade, e não paus-mandados do prefeito. Tenho várias tristes lembranças de vereadores eleitos, aqui em Xanxerê, amigos meus, que se tornaram frustração e decepção. Tem casos, inclusive, de suplentes de vereadores que assumiram a vaga por um mês (para “pegar experiência”) e, imediatamente, “arrumaram” viagem a Brasília para faturar uma polpuda diária. E sob a descarada desculpa de ir “garimpar recursos”…. À época ironizei e chamei vários, que adotaram a mesma “tática de trabalho”, de vereadores federais… O mal desse pessoal é que a eleição sobe à cabeça. E passam a “se achar” senadores do Império Romano! Dos tais vereadores federais, nenhum deles ainda está em atividade, hoje. Nem tenho lembrança de alguns dos recursos garimpados terem chegado ao município…
Nas minhas andanças e escrevinhações de repórter colecionei algumas passagens nada edificantes de vereadores. As mais escabrosas envolvem mudanças de opinião – e de votos para eleição do presidente da Câmara – daquelas que se enquadrariam em “casos inexplicáveis”. Mas têm conhecidas, “em off” explicações com, digamos, inesperadas trocas de gentilezas, regalos, agrados e presentinhos. Tudo, é claro, sem nenhuma conotação de “compra de passe”, ou de voto. Foi só mudança de opinião, mesmo, dizem…algumas da noite para o dia. É célebre o caso de vereadora que foi dormir presidente da Câmara e acordou ex-presidente. Aconteceu, daquela vez, que na calada da noite um companheiro de partido da vereadora, por influência, dizia-se à época, da Lua cheia, mudou de opinião, e de voto! Existem outros casos, de repentina renúncia do mandato, inclusive, que permanecem um mistério! Tem um outro que teria sido agraciado com um belo carro…Mas é claro que ninguém tem provas. São as tais más línguas desse “povo linguarudo”, que – sempre é bom lembrar – paga o salário dos vereadores!!
Mesmo com muitas “misteriosas reviravoltas”, cabe reparar que a função de vereador não raramente revela alguns bons políticos, embora nem todos, que iniciaram sua carreira em atuações no legislativo municipal. Em Xanxerê mesmo a maioria, ou quase todos ex-prefeitos vivos e atuantes começaram como vereadores. É lógico que começar como vereador não garante sucesso, nem carreira promissora, mas é como ser piloto de kart, buscando correr na Fórmula 1. E tem um fato, por aqui profundamente infeliz e desastroso, para o resgate da História do município, que um dia ainda há de ser contada, com detalhes. Um muito bem conhecido ex-vereador, imitando Rui Barbosa em relação à história da escravidão no Brasil, mandou (ele mesmo, sem autorização de ninguém) destruir toda a papelada (oficial da Câmara) que registrava, de 1954 até 1970 e poucos, ou 1980, todos os trabalhos do Poder Legislativo do município. Porque ele mandou fazer isso, pelo menos oficialmente, é outro mistério….
Igual a qualquer instância da política brasileira, as Câmaras de vereadores guardam excelentes e péssimos exemplos. No final do século XX três vereadores de três partidos de oposição ao então prefeito tiveram que ameaçar a entrar na Justiça (ou entraram, não lembro bem) exigindo que o prefeito pagasse…seus salários! Os três na época foram chamados por um certo Jornalzinho conhecido como Jotaxis, de “Os três Mosqueteiros”. É que eles “incomodaram” tanto o soberano prefeito com suas críticas e seus votos contrários à administração que o chefe do Executivo municipal, num arroubo de imperador e como último recurso, suspendeu o pagamento de seus salários por uns três meses. E só os salários dos três, dos demais, pagou…É lógico que a medida não tinha respaldo de leis e teve que ser abandonada, se não me engano, por ordem judicial…os três vereadores em questão ainda estão por aí, embora afastados da política. São eles: Gilberto Teston, Carlos Colatto e Enori Barbieri.
De qualquer forma, é preciso acreditar que a nova “safra” de vereadores que sairá das urnas fará toda a diferença e esteja afinada – mais do que a qualquer outra instituição, ou autoridade – às demandas da população, da comunidade. Não acompanhei os trabalhos da atual Legislatura xanxerense, portanto não me sinto apto a fazer qualquer análise. Já para a próxima pretendo estar ativo e atento! Mas é visível que o exercício da vereança serviu como estímulo para alguns dos atuais buscar voos mais amplos, o que é perfeitamente natural. E igual a toda eleição, os votos computados nas urnas serão a resposta fiel e sem disfarces de como a maioria da população avalia seus mandatos. Vereador, faltou dizer isso, não tem vida fácil. Nem durante a campanha, a mais acirrada, sempre, e nem depois de eleito, quando os assédios, das mais diversas espécies, infernizam e tentam de toda forma atrapalhar a vida dos “nobres colegas”. São os tais ossos do ofício, e também cabe ao vereador aprender a lidar com eles…
Quirera Gourmet