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13/05/2020 às 09:31
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Quirera Gourmet- 13/05/2020

Quirera Gourmet

A ignorância, o deus mercado e a gloriosa vanguarda do atraso…

A teimosia ignorante da insistência em minimizar a gravidade da pandemia que já exterminou mais de 10 mil vidas de brasileiros começa por achar que isso é pouco. O Brasil tem mais de 100 milhões de habitantes, alguns milhares não farão falta, dizem essas pessoas. Elas não raciocinam em termos de seres humanos, de vidas, de homens e mulheres que tinham os mesmos direitos de viver do que qualquer um de nós. Para eles mortes não movimentam a economia e então, não interessam. Se são vidas, não são números, e os números são o que mais interessa, para aquelas pessoas. A sociedade humana e a sociedade brasileira abrigam pessoas que não têm mais a noção de humanidade. Ser uma pessoa com valores humanitários, que valoriza a vida, a existência de todos e de cada um – acima do dinheiro e de bens materiais – caiu de moda.

No Brasil, “esse tipo” de gente humanitária é, para muitos, sinônimo de comunista. E comunista aí é uma palavra que virou xingamento, palavrão. E a maioria que a usa esse palavrão desconhece seu significado, daí chama-los de ignorante é justo…. Defender a vida, não o dinheiro, ou os números dos economistas de plantão, a serviço do Deus mercado, é sinônimo de atraso, ou de comunismo. O moderno, top, chique, gourmet, capitalista de primeiro mundo e até o politicamente correto, agora, é ganhar dinheiro, muito dinheiro, e fim de papo. Se você tiver que exterminar uma tribo indígena ou devastar sua terra – fonte de seu sustento, isso importa n-a-d-a ! Indígenas já foram extintos aos milhões e ninguém precisa deles. Eles é que precisam de nós… Pérolas desse tipo são facilmente garimpadas por aí até entre muitos mestres e doutores. Imagina então entre considerada “a arraia mais miúda”. Daí, também é justo considerar ignorantes alguns doutores – só para ficar bem claro que ignorância NÃO é privativa de iletrados, ou de analfabetos.

Os que combatem o isolamento, não usam máscaras, minimizam a gravidade da pandemia e relativizam a morte de milhares de brasileiros na verdade fazem isso – embora não reconheçam – por causa do di-nhei-ro! Grandes empresários, aqueles que foram ao STF com o despresidente, eles também comandantes de sindicatos de poderosos segmentos industriais, deixaram isso bem claro. O despresidente, seu porta-voz naquela mal disfarçada visita, chegou a dizer que se a normalidade não voltasse logo, a economia brasileira iria entrar em colapso! Ele, segundo consta, não ficou vermelho ao emitir tamanha mentira: Com perdas muito maiores que a economia brasileira, países europeus com a pandemia sofreram muito mais que o Brasil, e sequer mencionaram essa possibilidade, que não existe. A mesma coisa vale para economias mais frágeis que a do Brasil. Ninguém entrou e nem vai entrar em colapso. Existem grandes perdas esperadas e naturais, mas falar em colapso pura é má-fé ou ignorância mesmo. Talvez sejam as duas!

Acumular perdas e prejuízos sabidamente não está na cartilha, ou no catecismo, do deus mercado. Nossos empresários, catarinenses, brasileiros gostam de ser vistos e vangloriados porque “geram empregos” ou, pior ainda “dão empregos”. Alguns até consideram que esse fato os levará direto para o céu, sem escalas. São capitalistas da idade da pedra, fariseus. Sequer admitem a possibilidade de pensar que esse papo de gerar empregos é, sim, mais uma história mal contada. Na verdade, (e sabem disso) eles vendem vagas de trabalho. Vendem em troca da mão-de-obra fornecida pelos trabalhadores (e essa palavra também tem forte cunho comunista, para eles. Preferem “colaboradores”), mediante pagamento de salários raras vezes justos. Não se fala mais, no Brasil, das diferenças de salário pagos aqui e em países europeus, para citar um exemplo. E neste Brasil a grande imprensa sempre defendeu e vai defender, sempre, só os patrões! Patrões gastam com publicidade, trabalhadores, não! Mais uma vez, quem manda é ele, o dinheiro!

Falo em capitalistas da idade da pedra pois em países com uma política menos voltada ao favorecimento dos mais ricos, os mesmos capitalistas evoluíram. E não empobreceram. Não falam mais essa balela de “dar empregos” e ser, por conta disso, fortes candidatos a irem para o céu. Fala-se a verdade, sem floreios: Contratam mão-de-obra, paga-se e bem para que homens e mulheres produzam bens e serviços que, comercializados, trarão merecidos lucros e riqueza aos empresários capitalistas. Mas as verdades não param por aí: Eles, os capitalistas modernos, sabem e reconhecem que, sem trabalhadores bem pagos e tratados como pessoas humanas, não como números, suas empresas

estarão condenadas ao insucesso. Empresa precisa funcionar como máquina, com tudo planejado (inclusive as pandemias), e para isso, todas as peças devem estar em perfeitas condições de trabalho. E aí incluídos salários justos e proteção ao trabalhador e à sua família. Famílias que dependem do salário do trabalhador, assim como a família do empresário depende dos lucros da sua empresa.

Não estou aqui ousando dar aulas de economia nem de capitalismo, ou de empreendedorismo. Seria muita areia para o meu caminhãozinho…. Tento, por teimosia e para dar minha opinião, tentar mostrar que aqui neste Brasil, o que muitos chamam de moderno, na verdade é a vanguarda do atraso…Mais? Tem e muito: É comum empresários ainda defenderem o tal estado mínimo e as práticas do neoliberalismo, que foram exaustivamente testadas em muitas economias mundo a fora, e que hoje estão sendo, se já não foram, completamente colocadas de lado. E tudo sob o mais completo silencio criminoso da grande imprensa e dos sapientíssimos economistas a serviço do deus mercado. Ao mesmo tempo, por morar aqui no velho Oeste, lembro que sempre escrevi e briguei para mostrar que mesmo aqui, no interior do mato onde moro e um lugar que defendo, pertinho de onde o vento faz a curva, ainda tem gente que pensa com os miolos, não com os números, nem com o deus mercado!

Observação: Não cobro mais: Há 132 anos atrás a economia desse país ainda vivia do trabalho escravo…

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