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12/04/2021 às 07:50
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Quirera Gourmet – 12/04/2021

Quirera Gourmet
Por: Flavio Carvalho

A Saída do Colégio!

Dos “tempos de piá” nas ruas barrentas de Xanxerê, se você fosse para a aula de sapato novo sempre tinha um ou vários legítimos amigos pentelhos para vir “batizar seu pisante” zero bala. Metiam o pé na lama e limpavam a sola no seu sapato brilhante, e novinho em folha! Um legítimo cacoete de piá pançudo e metido, louco para arrumar uma briga, pra sair no tapa e mostrar quem era bom de braço! E quando dois valentes admiradores de Éder Jofre ficavam se mirando, olho no olho, igual ao mocinho dos bangue-bangues do Cine Luz, para ver quem dava o primeiro soco, tinha até um tipo de juiz, para estimular o começo. Esticava o braço deixando a mão aberta entre os gladiadores e anunciava: “Quem cuspir primeiro é o mais valente”! Volta e meia a mão saía melecada de saliva, mas a intenção era tirar a mão rapidinho, para a cusparada acabar lambuzando a cara do adversário – e o pau comer solto! Deve ter si aí a origem a expressão ”te pego na saída”!

Você Vai Ver!

Nas “saídas” da aula em frente aos colégios aglomerações da gurizada eram de lei, normalmente para assistir algum duelo a socos pontapés, cascudos, cusparadas e “tapões na orelha”. E se um maior resolvesse bater em algum menorzinho, sempre tinha o amigo do baixinho para provocar o grandão: “Porque não bate num do teu tamanho”? E fechava o tempo, de novo. Quando alguém levava umas porradas de alguém mais forte, quem apanhava reagia com grave ameaça: “Vou contar tudo pro meu pai! ”  Ou, pior: “Você vai ver! Vou contar pro meu irmão mais velho, ele vai te pegar! Você vai levar uma surra, pra ver o que é bom”! As brigas formavam uma roda de proteção aos bons de braço, ninguém podia se meter. E se um dos pugilistas recebia reforço de alguém, o outro também tinha um guarda-costas, para ficar igual. Eram brigas democráticas, bater em mais baixinho, menor ou pular em dois contra um, sempre tinha troco, por algum justiceiro de plantão! Alguns xingamentos eram motivos de ódio mortal: Chamar de fidapê era um desses. Nossas mães já naquele tempo eram sagradas!

Guri Educado

Vários amigos fizeram fama, naqueles anos de afirmação pela força do braço e pontaria dos socos. Os bons de braço eram temidos e respeitados – igual aos mocinhos rápidos no gatilho, ninguém queria arrumar encrenca com eles. E os mais brigões, não raramente escondiam dos amigos do colégio e das saídas de aula um detalhe caseiro: Se aparecesse em casa com um olho roxo ou arranhão, ou mancando de uma perna, não raramente era “homenageado” pela mãe, armada de certeiras varas de vime, ou de marmelo. “Brigou na rua? Tomara que não tenha apanhado, porque de qualquer jeito vai apanhar em casa” – era a lei de muitas famílias. Brigar na saída do colégio dava fama na rua. Mas em casa geralmente rendia alguns vergões vermelhos, na bunda e nas pernas! Lá em casa era assim. Brigar na rua era coisa de moleque, não de “guri bem-educado” – o sonho de todas as mães – daquela época, esclareço! E os muito bem-educados colhiam bullying, antes dele ser descoberto…

A Mãe e as Irmãs

Nunca fui bom de braço, desde piá já era da paz! E que lembre também nunca tive correr de algum valentão, “para não levar uns cascudos” – o que também era comum nas saídas de colégio. Quem não era bom de braço – diziam – tem que ser bom de corridas! E os mais velozes frequentemente corriam até ficar numa distância segura, paravam, e reiteravam sua coragem, gritando para o brigão: “Sua mãe é uma vadia! Vou comer a sua irmã…”, além de outras pesadas agressões do gênero. E não ficavam sem resposta: “Amanhã eu te pego, seu viadinho”! E geralmente a briga se estendia por dias, mas só nas saídas. Ou até o pai de algum deles ser chamado “ na direção”, do colégio…Os reincidentes pegavam suspensão de alguns dias ou de uma semana – e corriam o risco de serem expulsos do colégio – algo gravíssimo: Nos anos de 1960 era só duas as opções de estudo, só tinha o Joaquim Nabuco e o La Salle. Mas as expulsões eram raras, só adotadas quando tanto pais como diretores e professores chegavam a conclusão que “aquele ali não tem mais jeito! Não gosta de estudar”! E o valentão das saídas abandonava os estudos, mas era obrigado a trabalhar, arrumar emprego. E muitos gostavam, era o que queriam!

Maria Gasolina

Poucos anos depois da fase das brigas, as saídas de colégio ganhavam um status bem mais atraente – e menos belicoso: era a hora da paquera – de ver a saída dos “brotos” ou “gatinhas” do colégio, geralmente do Costa e Silva, porque o La Salle ainda só tinha marmanjos! E aí o machismo (que nem tinha esse apelido, ainda) se expandia: Filhos de pais mais liberais, ou mais bem de vida, digamos, geralmente era brindados com um costume comum, na época: Aprendiam a dirigir, mesmo sem ter documento, nem idade para isso… E convidavam os mais amigos – “a pé”, para acompanhá-los. Os lindões,  Eram os “pãos”! E ficavam gloriosos ao volante, para ver as “gatinhas” ou as “minas” – com destaque, sempre, para as “novas na cidade”! E os caroneiros todos sabiam em quem o titular da boléia “estava de olho”, ou de “de rolo”, ou já tinha “pedido pra namorar”. Isso dava um status daqui até Xaxim. E as minas também sofriam: Se topassem uma carona para ser levada até em casa – mas só até a esquina, onde a mãe não visse – corriam o gravíssimo risco de serem mal faladas pelos (as) invejosos (as): Viravam “Maria gasolina”! Os preconceitos e o politicamente correto também eram ilustres desconhecidos…

Quartas, no Sofá!

Porém, os anos 60 e 70, de saudosíssimas lembranças para os, digamos, mais antigos, não eram fáceis de lidar! Mesmo assim, tenho zero inveja dos “ficantes” de hoje. Não trocaria aqueles românticos e bizarros tempos pelos atuais, jamais! Até porque eles eram muito mais engraçados, tinham grande suspense, desafios, expectativas, sem falar nas fossas, quando se levava “um fora”!… E eram tempos mais perigosos, também! Toda menina “filé” ou “muito gatinha” tinha um pai e/ou irmãos que eram umas feras! E geralmente, para “engatar o namoro” tinha que ir na casa dela, falar com pai ou mãe…Não tinha essa de “chegar chegando”, igual hoje! Normalmente, quando o namoro era “autorizado”, os encontros restringiam-se às quartas-feiras, no sofá da sala, com cunhadinhos (as) de testemunha – mais conhecidos por “velas”, ou “vasos”. E nos finais de semana, uma voltinha, ou um sorvete, ou, depois de algum tempo, cineminha ou boate – mas com hora marcada para chegar em casa! Vida dura! Mas inesquecível! Não sei se a gente era mais feliz. Mas era muito emocionante, sem dúvidas!

Liberou Geral!

Da parte que me cabe, o grande medo era o que hoje pode ser comparado a um verdadeiro e arrasador terremoto: Engravidar a menina! Deus me livre e guarde! Tinha que casar! Na época, apesar de já existir, por aqui ninguém usava ou sabia o que era um preservativo, ou camisinha…. Muito menos a pílula, que surgiu e fez revolução na década de 60, junto com a minissaia. Naquela Xanxerê não lembro de ter ouvido falar em pílula ou camisinha. O que rendia casamentos por gravidez, ou a menina fugir de casa – para casar, ou sumir da cidade! O moralismo radical da época, acredito, liberou geral de tal modo que hoje aqueles tempos parecem ficção, mas não eram! Porém salvamo-nos todos, acredito. Ou a maioria, meninos e meninas. Hoje respeitáveis cidadãos, pais, mães, avôs e avós que admitem: Não precisa mais casar… se um pai ou mãe exigir a realização de “casamento na igreja” estará arriscando perder o genro, a nora e até o (a) filho (a). E os que mais serão contrários são os próprios noivos, o casal! Nesse quesito, concordo: Hoje é bem melhor! Pais não são “proprietários” de seus filhos, penso eu. Cabe apenas ensiná-los a voar, e rezar para que não caiam do galho!

É isso aí, bicho!

 

 

 

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