Meu amigo Marcão, brilhante filósofo grego-gaudério, foi quem sentenciou, lá nos anos 80 do Século XX: ” Não vou caminhar na rua. Isso engorda. É só ver o perfil das pessoas que caminham…. Todos gordinhos”! Hoje dedicado aos netos, o meu amigo – que não acredita em terra plana – igual a qualquer filósofo moderno, revisou tal conteúdo com base em outro: “Quem fica parado sempre no mesmo lugar é poste”! E assim, embora ainda não façamos incursões filosóficas e culturais em conjunto pelas ruas da campina, ambos aderimos a caminhadas diárias. E da parte que me cabe, elas têm sido muito produtivas!
Particularmente e em princípio, minhas caminhadas visavam baixar a barriga – que antes nunca tive – e que me faz sentir andando como se estivesse trajando aqueles saiotes escoceses! Bem acompanhado pela inseparável companheira, tenho feito saudáveis “pernadas diárias” de uma hora, bem cedinho, pelas tortuosas, íngremes e dificilmente retas vias públicas dessa aprazível localidade do velho Oeste. Porém, com mais de dois meses desse novo vício, sou franco: Não obtive na balança os resultados que programei e sonhei: A barriga até diminuiu, mas não tanto quanto o desejado…
Mesmo assim, aprecio e recomendo a prática, até porque há outros ângulos a serem observados, além da barriga. O mais importante deles é o fato de que agora posso, sem qualquer sentimento de culpa, comer tudo o que der vontade e que for possível mastigar. E se não perdi a barriga, posso me defender com altivez: Não é por falta de dedicação, persistência, esforço e do extremo sacrifício de pular cedo da cama. E nem pela falta do insaciável apetite por doces, é claro! Igual a muitos brasileiros nativos ou importados, penso que se não emagreci como deveria, a culpa disso também NÃO é minha! Faço a minha parte! Tenho até testemunhas: A cachorrada nem late mais quando passamos por eles…
Estou tranquilo, tenho religiosamente cumprido essa audaz e destemida nova saga! Especialmente para um ex – sedentário frequentador de botecos “pés-sujos”, mundo a fora! Neste tempo, que sinceramente já não me dá mais saudades, era comum receber elogios tipo “pau-de-amarrar-tripa”, “ruim de engorda” e “saco sem fundo”, entre outros, pois apetite, graças a Deus nunca me faltou. Mas nunca engordei, nem criei barriga! Agora, sem boteco e de posse de uma até simpática pança (temos que ser otimistas!), as críticas não mudaram. Não por isso me incomodar, mas por me deixar curioso, parti para me questionar sobre o porquê não voltei a pesar os tão sonhados 75 quilogramas.
E tal qual, ou quase tanto quanto, os que contestam vacinas, isolamento ou o uso de máscaras na Pandemia, dei para desconfiar também se caminhar efetivamente emagrece…. Assim, como bom ignorante fui pesquisar e descobri que essa ciência que defende caminhadas para baixar a barriga é originária (veja bem 1) da …China! Só podia né!! E embora adiante que jamais chamei, nem pretendo chamar, qualquer político de “mito”, tenho convicção – mas não tenho provas – de que estimular essas caminhadas lá no fundo, bem lá no fundo mesmo, tem segundas e terceiras intenções, claro que a bordo de alguma conspiração comunista e secreta!
Então, essa ciência de que caminhar emagrece, descobri agora… é “coisa dos chineses”! Tenho até uma convicção bastante lógica: A maioria dos chineses são paus-de-amarrar-tripa, sem caminhar! Gostam de andar, mas de carros e de motos! Para piorar ontem li na Internet uma pastora anunciando que os gordinhos… não serão aceitos no Céu! Á-RRÁ! Os chineses querem, além de derrubar o “mito”, nos ver barrados na porta do céu! Eu até pensei em mandar E-mail para o Trump! Mas lembrei que a estas horas esse elemento deva estar, possivelmente, caminhando de pijama pelos jardins da Casa Branca. No caso dele para desinchar cabeça, não a barriga, depois do chocolate que o Biden lhe aplicou!
Mas, ignorantes da política externa de lado, o fato é que a barriga não baixou como era esperado e rezado. E o único ganho é realmente o desapego de qualquer culpa ao saborear bolos, tortas e sorvetes à vontade. Vícios, vale citar, que nunca tive à época em que gostava de esfregar a inexistente barriga nos balcões de botecos. Isso me anima a continuar caminhando pelas manhãs xanxerianas, mesmo acreditando que essa ciência possa estar a serviço da “China comunista” para derrubar, agora, o “mito”! Porque o Trump já dançou. Me antecipo em informar que tenho. Igualmente, muitos bons amigos gordinhos, mas nenhum chinês! E que tenho o maior carinho e respeito por todos eles!
Daí, além de ficar com um olho na balança também fico ligado, é óbvio, na eventual presença de algum espião chinês a bisbilhotar pelas ruas da campina, ou tentando vacinar a gente! E se encontrar um, vou armado: Levo o celular para denunciar a alguns conhecidos xanxerianos xiitas, fãs do tal “mito”, alertando para outra tentativa desses comunistas chineses, safados, que querem derrubar o despresidente, é lógico! Não sei se isso se encaixa no slogan, Brasil acima de tudo e Deus acima de todos, mas nessa hora devemos estar de olho nos chineses que, embora o “mito” não saiba, também estão comprando o Brasil. Ou, talvez ele saiba, mas prefira vender só para os Norte-americanos!
São também estas pseudo eruditas e maquiavélicas maquinações anticomunistas, legitimamente patriotas (nos dias atuais) que me impulsionam nas caminhadas estético-filosóficas, inclusive moro acima. Minhas convicções quanto à presença de chineses comunistas e socialistas não são ainda suficientes para montar uma apresentação em Power point, mas vou chegar lá! Nem que tenha que pedir ajuda ao Dellagnoll e ao Moro! Creio também que tais práticas me gabaritam a pleitear, quem sabe, o cargo de guru internacional, bem remunerado, de algum vereador fanzoca do “mito” que venha a ser eleito. Nem que tenha que ir morar em Miami.
No resumo da ópera juro que as caminhadas são reais, assim como as assustadoras descobertas – sobre as conspirações da China – que elas têm me oferecido. A filosofia é prosaica e bem conhecida: Num tempo e num país em que Fake News e mentiras deslavadas ganham popularidade e espaços generosos, temos que reagir da forma que for possível, com ou sem barrigas proeminentes, enxergando ou não comunistas escondidos atrás do vaso sanitário. Tudo vale a pena – quando a alma não é pequena – e quando se torna indispensável desenhar que o rei está nu! Ou, em bom português, que a verdade pode demorar, mas sempre acaba por prevalecer sobre a falsidade e a mentira!
Quirera Gourmet