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11/06/2020 às 07:49
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Quirera Gourmet – 11/06/2020

Quirera Gourmet

Das Agruras e Manhas de Namorar nos Bons Tempos

Apesar de muitas vezes ter ouvido de meninas, moças e mulheres a sentença “você tem cara de sem-vergonha”, para me rotular como mulherengo, namorador ou conquistador, infelizmente, isso nunca foi verdadeiro. E continua não sendo até hoje. Se houvesse um ranking de bons namoradores, eu estaria, sempre, na zona de rebaixamento! Não me alegro em confessar esse fato, faço aqui um desabafo, porque eu gostaria de ter sido. Por conta de um par de olhos azuis eu jamais me considerei sequer um cara boa pinta, pois o narigão, bem no meio da cara, desaconselha explicitamente tal pretensão. A fama da “cara de sem-vergonha” me acompanha até hoje, embora eu – friso com isso com veemência – sempre tenha me empenhado em construir outra imagem, bem diferente, que novamente não logrou atingir o sucesso: Sempre me esforcei em ser um “moço de família, respeitador e bom partido! ” Lembro que ouvi muito a máxima: nascer pobre é destino; mas casar com mulher pobre é burrice! Ouvir isso igualmente não me ajudou a arranjar “um bom casamento”, nem dar o tal golpe do baú…

Mas estamos aqui para falar do tempo em que existia ainda o vetusto, paleontológico, e etéreo – porém romântico- hábito do “namoro”, hoje substituído pelo insosso e brega ”ficar”. A ideia é resgatar e protestar a favor da volta do tempo de pegar a mão da menina e dizer, olhando bem nos seus olhos “você é muito bonita”. Só isso.  Ou de mandar um bilhetinho pela amiga pedindo para sentar no seu lado no cinema, na matinê de domingo à tarde. E depois, no escurinho do cinema, sentar mesmo ao seu lado, pegar a sua mão e assistir o filme de mãos dadas, sem roubar beijinhos – no primeiro dia. E sair do cinema, de mãos dadas, pagar um sorvete no Bar Dois irmãos ali no centro. Depois namorar no banco da praça, ou ir à casa dela, ouvir o disco novo do Roberto Carlos que ela ganhou do tio – mas aí, junto com as amigas dela. Ela ainda não tinha falado para sua mãe que estava namorando, tinha que esperar a hora certa para isso. E o pai era brabo!

Mas entre os meus hábitos e manias namorar sempre esteve entre os mais perseguidos, e também era o mais difícil. Tudo por conta de uma barreira chamada timidez aguda e de berço, inseparável, dia-e-noite! Até chegar perto da menina eu mandava bem. Mas na hora de abrir a boca e dizer “você é muito bonita”…ah dava branco, não saía… era o famoso nó-da-garganta. Além de não dizer nada, ficava vermelho “que nem pimentão” – e aquilo era o pior de tudo. Ficava vermelho por tudo e por qualquer coisa. Pior: mais que o vermelho mesmo, o ficar vermelho mesmo, roxo até, me deixava era muito puto da cara, comigo mesmo. Outro problema era quando a menina bonita era irmã ou parente de algum amigo, colega de aula ou vizinho…Em vez de ajudar, inviabilizava completamente o namoro! Preferia, sempre, ficar com o amigo, e não saberia como agir, nem dizer que estava namorando a irmã ou a prima dele. Uma tragédia atrás da outra. Vai daí que para arrumar namorada MESMO, namorar “a sério” demorei um monte….

Os primeiros namoros (ou menos) foram aqueles do modelito “sem ela saber”. Acho que valia como ensaio, ou algo assim. Ah, essas lindinhas! Namorei muitas, elas que não sabem! Se os atuais “pegadores” desconhecem, informo: o “amor platônico” e sem nem mesmo ela imaginar, inspirou navios de poesias e muitos poetas apaixonados. No meu caso poucas poesias, porém, chegaram aos olhos das destinatárias. Era segredo, e ponto! Depois, aí já mais sem-vergonha, participei de outro ritual, impagável no dinheiro de hoje: Ver a saída do colégio! Esse era só para bam-bans, os mais namoradores! E se fosse de carro então, bá! É lógico que não era permitido ir oferecendo carona assim logo no primeiro dia. Primeiro vinham os olhares, “secar a gatinha”. E ser correspondido com um sorriso era motivo de comemoração. Com o devido comentário do inseparável amigo sentado ao lado: ”. Viu? Ela sorriu para ti”! Mas se a menina aceitasse a primeira carona estava sujeita a um triste rótulo: “Maria gasolina”! O palavrão também atingia meninas que só namoravam quem tinha carro. “Aquela nojenta! Só namora os ricos! ” E tinha ainda as trágicas e muitíssimo divulgadas brigas de namorados. Não raramente meninas passavam dias ou semanas chorando ou maldizendo “aquela vagabunda que fica paquerando o namorado das outras! Uma pouca vergonha! ”

Se a (o) distinta leitora (o) não notou, abrimos um parêntese para dizer que lá na segunda metade do Século XX, machismo era tolerado e, em alguns casos até considerado uma virtude! Não para justificar, mas naqueles tempos namorar, para os “guris”, era obrigação, era de lei! Se o fulano não arrumasse namorada, os irmãos mais velhos e os amigos se encarregavam lançar Fake News, muito antes da era digital: “Fulano é namorado de fulana”! E isso corria numa velocidade interplanetária! Imaginem os senhores e as senhoras minhas agruras para namorar. E ainda tinha que pagar aquela do “cara de sem-vergonha”, definição que não consegui identificar a origem, e que ainda hoje volta e meia tenho que ouvir.

Isso, entretanto não me impediu de namorar, por exemplo num hilário domingo de uma fatídica noite em pleno Cine Luz lotado…Fatídica não para mim, mas para três grandes amigos da época. Uma daquelas amigas (para mim) e “namorada” para os outros, recebeu a visita de três primas, lindas, porto-alegrenses. E resolvemos, os quatro casais ir ao cinema, todos juntos. Eu, comportado peguei na mão da minha “namorada”, que era irmã de um amigo, e ficou por isso mesmo. Já os meus afoitos amigos se atracaram a beijos cinematográficos, hollywoodianos, saca-rolhas, aproveitando o famoso escurinho do cinema. E aí deu ruim, foi mal: As meninas estavam bem maquiadas, com batom vermelho, berrante….Terminou o filme e acenderam-se as luzes, cinema lotado! Meus três amigos e suas acompanhantes pareciam maquiados para trabalhar de palhaço no circo! Caras, bocas e pescoços devidamente tingidos de batom… óbvio que a gargalhada foi geral. E desta vez, pelo menos, não fui eu quem ficou vermelho.

E antes que eu esqueça, conto só mais uma: Uma das primeiras namoradas que tive foi bem daquelas mesmo “sem ela saber”! Mas depois criei coragem, ofereci carona e ela aceitou. E não era “maria gasolina”, é minha namorada de hoje, há dez anos, e para sempre. E por causa dela, da Iamara, essas lembranças… Feliz Dia dos Namorados (as) a todos (as)!

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