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11/05/2021 às 07:45
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Quirera Gourmet – 11/05/2021

Quirera Gourmet
Por: Romeu Scirea Filho

O Brazil com Z! E os Brasileiros, com S!

Pertinente, a observação que ouvi no final de semana: Aumentou bastante o número de pessoas pedindo dinheiro e ajuda, nas ruas, nas portas de agências bancárias – acredito que no Brasil inteiro, ou pelo menos na Campina da Cascavel, em cujas ruas a gente circula quase todos os dias. Lembro dessa ferida social, lamentável, e sinalizadora de que as coisas andam nada bem, comparando com o tempo de inflação nas alturas, três ou quatro décadas atrás. Pessoas pedindo ajuda eram bem mais numerosas, e naqueles tempos não existiam “ferramentas” sociais direcionadas a dar algum amparo as famílias mais pobres. Hoje existem programas e ações, públicas e de voluntários, que procuram amenizar as dificuldades.

Turismo & Miséria

E mais que despertar solidariedade, pessoas pedindo ajuda não nos permitem esquecer que os brasileiros – e o Brasil, um dos países com mais recursos naturais do mundo, passa uma bruta vergonha com isso. Principalmente quando se quer, também, incentivar o turismo, que já é uma importante fonte de recursos e de geração de vagas de trabalho. Atrair o turista com uma crescente legião de pedintes nas ruas de certa forma é um retrato desse Brasil que construímos, até agora: Muitos interessados em ganhar dinheiro promovendo o lazer de quem tem dinheiro sobrando, para gastar em turismo…E pouquíssimos interessados em socorrer ou ajudar, de alguma forma, os que vivem na miséria, sem dinheiro nem para comer.

Culpa do Governo

E outros tantos acreditam que estes últimos existem porque “não querem ou não gostam, de trabalhar”… Mas nem sempre é assim! Embora tenhamos, também, admitir que existem, em qualquer país, uma parcela de povo que não quer mesmo e nem vai trabalhar, mesmo passando dificuldades até para conseguir alimento. A humanidade, no planeta inteiro, na maioria dos países, infelizmente “se acostumou” a conviver com gente passando fome e vivendo na miséria. Li em algum lugar que em média, até uns 5% das populações dos países jamais estão satisfeitos e sempre reclamam – dia sim, outro também – dos governos de seus países, acusando-os de serem os únicos culpados de suas desgraças, ou de seus problemas.

“Não Gostam de Trabalhar”

E sempre culpar os outros – incluindo governos municipais e estaduais, os mais próximos –  a gente sabe, é outro dos esportes favoritos dos brasileiros em geral. Daí que culpar os pedintes por suas próprias dificuldades igualmente sempre “está na moda”. E é o mais fácil. Dizer que alguém está na miséria porque é vagabundo e não gosta de trabalhar não apenas nos “livra” do compromisso moral de ajudar quem precisa, como nos confere uma aura de razão e inteligência, por não se estar “incentivando a malandragem”, como se diz por aí, muitas vezes. Sei e reconheço que existem os que não querem, não gostam, não sabem e não vão trabalhar, mesmo! É sua opção de vida, e dificilmente vão mudar de opinião! Mas esses são uma minúscula minoria!

Escravos & Filhos

Mas também existem muitos nos quais não se trata deles não gostarem de trabalhar. Existe até hoje no Brasil e inclusive na Santa (Bela e Rica) Catarina, ocorrências criminosas de trabalho escravo, praticamente em todos os anos. Aqui no estado, especialmente nas atividades ligadas à produção de cebola e na extração e erva-mate, mas não apenas nestas. Perguntei, há tempos, para trabalhadores da extração e erva mate, os “mateiros”, sobre suas origens, sobre seus pais e avós – e alguns sequer sabiam dizer seus nomes completos, ou quem eram seus antepassados, de onde eram. Sabiam que, iguais a eles, eram analfabetos. E analfabetos também seriam, ou serão, os seus filhos, que não irão frequentar uma escola…

Pobre, na Faculdade?

A expressão é preconceituosa e chula, feia mesmo. Mas “analfabeto de pai-e-mãe” continua sendo um xingamento bem comum até hoje. E revela uma realidade do Brazil e dos brasileiros – que muitos nem gostam de falar, muito menos tocar no assunto. Porque o Brazil com Z é o que vai a Miami, Paris Londres e Nova Iorque. E parabéns a eles por conseguirem chegar lá! Mas esse povo não olha “com bons olhos” aqueles outros brasileiros (com s) que são netos de tirador de erva, e bisneto, e tataraneto, de escravos…Dia desses o atual ministro da Economia do desgoverno que nos assola criticou esses descendentes de escravos (não usou esses termos, mas é como se tivesse dito) que agora resolveram querer “fazer uma faculdade”!

Pode Matar. Tem de Sobra…

O Ministro Paulo Guedes levou um tsunami de críticas pesadas, algumas recheadas com certeiros palavrões. Mas isso não fez, nem fará, a mínima diferença. Porque infelizmente é esse mesmo o pensamento de boa parcela da população, especialmente de parte da elite econômica e financeira do país. Essa mesma parcela da população também acha que tem gente demais – ou melhor – que tem pobre demais no Brasil… E, portanto, se de vez em quando a polícia, sempre em nome da lei, é claro, invadir lá uma favela qualquer e crivar de balas de fuzis, meio a esmo, umas vinte ou trinta pessoas – incluindo alguns bandidos, se for possível, “não vai ter problema algum”…São capazes até de argumentar que “pobre tem sobrando, não farão falta alguma”!

Saudades e Jacarezinho

Neste domingo assisti o programa de TV domingueiro de maior audiência no pais – algo que raramente faço – e acompanhei, triste e emocionado, reportagem sobre a chacina cometida em Saudades, semana passada, onde foram mortas três inocentes crianças e duas bravas trabalhadoras. Matéria de uns dez minutos ou quase isso. Mas, sobre a chacina na Favela do Jacarezinho, no Rio de Janeiro, onde pelo menos 28 pessoas foram mortas – pela Polícia Civil – sendo que até ontem pelo menos 13 delas foram identificadas como pessoas honestas, sem qualquer envolvimento como crime, o tal programa líder de audiência pouco, ou quase nada, mostrou ou disse! Pior que isso é que ninguém se importa com o pouco caso da TV.

É Fake!

E nem com o pouco caso das pessoas em geral! Nos meus 60 e muitos anos de estrada fui, e continuei sendo até tempos atrás, um ferrenho e inveterado defensor da “boa índole do brasileiro” médio, do brasileiro em geral. Mas nos últimos meses, ou nos últimos dois anos, para ser mais exato, esse meu conceito começou a desabar e hoje, posso dizer sem medo, é mais ou menos uns 20% do que já foi. E olha lá! Tenho lido, visto e ouvido tanta barbaridade de brasileiros em geral que, mesmo resistindo a essa tendência, não posso negar que comecei a ter certeza que esse cantado e decantado bom brasileiro, o tal brasileiro bonzinho, extrovertido, bem-humorado, bola para frente e até a hoje famosa “gente do bem” não passam, todos, de uma baita farsa! É Fake! Fuja!

 

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