Pertinente, a observação que ouvi no final de semana: Aumentou bastante o número de pessoas pedindo dinheiro e ajuda, nas ruas, nas portas de agências bancárias – acredito que no Brasil inteiro, ou pelo menos na Campina da Cascavel, em cujas ruas a gente circula quase todos os dias. Lembro dessa ferida social, lamentável, e sinalizadora de que as coisas andam nada bem, comparando com o tempo de inflação nas alturas, três ou quatro décadas atrás. Pessoas pedindo ajuda eram bem mais numerosas, e naqueles tempos não existiam “ferramentas” sociais direcionadas a dar algum amparo as famílias mais pobres. Hoje existem programas e ações, públicas e de voluntários, que procuram amenizar as dificuldades.
E mais que despertar solidariedade, pessoas pedindo ajuda não nos permitem esquecer que os brasileiros – e o Brasil, um dos países com mais recursos naturais do mundo, passa uma bruta vergonha com isso. Principalmente quando se quer, também, incentivar o turismo, que já é uma importante fonte de recursos e de geração de vagas de trabalho. Atrair o turista com uma crescente legião de pedintes nas ruas de certa forma é um retrato desse Brasil que construímos, até agora: Muitos interessados em ganhar dinheiro promovendo o lazer de quem tem dinheiro sobrando, para gastar em turismo…E pouquíssimos interessados em socorrer ou ajudar, de alguma forma, os que vivem na miséria, sem dinheiro nem para comer.
E outros tantos acreditam que estes últimos existem porque “não querem ou não gostam, de trabalhar”… Mas nem sempre é assim! Embora tenhamos, também, admitir que existem, em qualquer país, uma parcela de povo que não quer mesmo e nem vai trabalhar, mesmo passando dificuldades até para conseguir alimento. A humanidade, no planeta inteiro, na maioria dos países, infelizmente “se acostumou” a conviver com gente passando fome e vivendo na miséria. Li em algum lugar que em média, até uns 5% das populações dos países jamais estão satisfeitos e sempre reclamam – dia sim, outro também – dos governos de seus países, acusando-os de serem os únicos culpados de suas desgraças, ou de seus problemas.
E sempre culpar os outros – incluindo governos municipais e estaduais, os mais próximos – a gente sabe, é outro dos esportes favoritos dos brasileiros em geral. Daí que culpar os pedintes por suas próprias dificuldades igualmente sempre “está na moda”. E é o mais fácil. Dizer que alguém está na miséria porque é vagabundo e não gosta de trabalhar não apenas nos “livra” do compromisso moral de ajudar quem precisa, como nos confere uma aura de razão e inteligência, por não se estar “incentivando a malandragem”, como se diz por aí, muitas vezes. Sei e reconheço que existem os que não querem, não gostam, não sabem e não vão trabalhar, mesmo! É sua opção de vida, e dificilmente vão mudar de opinião! Mas esses são uma minúscula minoria!
Mas também existem muitos nos quais não se trata deles não gostarem de trabalhar. Existe até hoje no Brasil e inclusive na Santa (Bela e Rica) Catarina, ocorrências criminosas de trabalho escravo, praticamente em todos os anos. Aqui no estado, especialmente nas atividades ligadas à produção de cebola e na extração e erva-mate, mas não apenas nestas. Perguntei, há tempos, para trabalhadores da extração e erva mate, os “mateiros”, sobre suas origens, sobre seus pais e avós – e alguns sequer sabiam dizer seus nomes completos, ou quem eram seus antepassados, de onde eram. Sabiam que, iguais a eles, eram analfabetos. E analfabetos também seriam, ou serão, os seus filhos, que não irão frequentar uma escola…
A expressão é preconceituosa e chula, feia mesmo. Mas “analfabeto de pai-e-mãe” continua sendo um xingamento bem comum até hoje. E revela uma realidade do Brazil e dos brasileiros – que muitos nem gostam de falar, muito menos tocar no assunto. Porque o Brazil com Z é o que vai a Miami, Paris Londres e Nova Iorque. E parabéns a eles por conseguirem chegar lá! Mas esse povo não olha “com bons olhos” aqueles outros brasileiros (com s) que são netos de tirador de erva, e bisneto, e tataraneto, de escravos…Dia desses o atual ministro da Economia do desgoverno que nos assola criticou esses descendentes de escravos (não usou esses termos, mas é como se tivesse dito) que agora resolveram querer “fazer uma faculdade”!
O Ministro Paulo Guedes levou um tsunami de críticas pesadas, algumas recheadas com certeiros palavrões. Mas isso não fez, nem fará, a mínima diferença. Porque infelizmente é esse mesmo o pensamento de boa parcela da população, especialmente de parte da elite econômica e financeira do país. Essa mesma parcela da população também acha que tem gente demais – ou melhor – que tem pobre demais no Brasil… E, portanto, se de vez em quando a polícia, sempre em nome da lei, é claro, invadir lá uma favela qualquer e crivar de balas de fuzis, meio a esmo, umas vinte ou trinta pessoas – incluindo alguns bandidos, se for possível, “não vai ter problema algum”…São capazes até de argumentar que “pobre tem sobrando, não farão falta alguma”!
Neste domingo assisti o programa de TV domingueiro de maior audiência no pais – algo que raramente faço – e acompanhei, triste e emocionado, reportagem sobre a chacina cometida em Saudades, semana passada, onde foram mortas três inocentes crianças e duas bravas trabalhadoras. Matéria de uns dez minutos ou quase isso. Mas, sobre a chacina na Favela do Jacarezinho, no Rio de Janeiro, onde pelo menos 28 pessoas foram mortas – pela Polícia Civil – sendo que até ontem pelo menos 13 delas foram identificadas como pessoas honestas, sem qualquer envolvimento como crime, o tal programa líder de audiência pouco, ou quase nada, mostrou ou disse! Pior que isso é que ninguém se importa com o pouco caso da TV.
E nem com o pouco caso das pessoas em geral! Nos meus 60 e muitos anos de estrada fui, e continuei sendo até tempos atrás, um ferrenho e inveterado defensor da “boa índole do brasileiro” médio, do brasileiro em geral. Mas nos últimos meses, ou nos últimos dois anos, para ser mais exato, esse meu conceito começou a desabar e hoje, posso dizer sem medo, é mais ou menos uns 20% do que já foi. E olha lá! Tenho lido, visto e ouvido tanta barbaridade de brasileiros em geral que, mesmo resistindo a essa tendência, não posso negar que comecei a ter certeza que esse cantado e decantado bom brasileiro, o tal brasileiro bonzinho, extrovertido, bem-humorado, bola para frente e até a hoje famosa “gente do bem” não passam, todos, de uma baita farsa! É Fake! Fuja!