É interessante, curioso, acompanhar o andamento dos processos de impeachment abertos para investigar irregularidades e crimes do Governador catarinense, Carlos Moisés da Silva, dois deles já aceitos pela Assembleia Legislativa de SC – um sobre aumento de salário de procuradores e outro sobre a rumorosa compra de respiradores, ainda não entregues. Interessante e curioso porque é dado como certo que as decisões sobre os processos em andamento devam ser tomadas somente em 2021.Motivos? Bom, existem alianças e coligações partidárias municipais envolvendo o PSL, partido de Moisés, com o PP, MDB, DEM e outros partidos com representação na Assembleia. Não vi, até agora, alianças do PSL com PT, PDT, PSOL, PCdoB e outros considerados de esquerda. Mas também não duvido que existam.
Um tiroteio, agora, contra o governador poderia causar dissabores e percalços na campanha. E se o julgamento de Moisés ocorresse agora, um eventual afastamento ou cassação de mandato do governador poderia prejudicar, ou respingar, em candidatos a prefeito dos grandes partidos do estado. Tais conveniências e “jeitinhos” políticos só mostram uma coisa: A classe política continua considerando a opinião pública, os catarinenses, como um bando de imbecis, ou no mínimo, um pessoal fácil de ser levado na conversa, manipulado ou enrolado, para atender os “elevados” interesses de deputados e dos seus partidos políticos. A famosa atitude “me engana que eu gosto” segue sendo uma lei, na política catarinense…
Ainda na Assembleia legislativa, a Rádio Corredor – hoje um dos mais sérios veículos de comunicação no estado – debate a inclusão ou não da Vice-governadora Daniela Reinehr no pacote do impeachment do governador. Se ela fizer parte do impeachment e ele fosse aprovado antes da metade do mandato – que dá em janeiro de 2021, haveria uma nova eleição direta para governador e vice. Se Daniela não for incluída no pacote e se cassar apenas Moisés, depois da metade do mandato (janeiro em diante), ela assumiria o governo. Porém, se Daniela for cassada junto com Moisés depois da metade do mandato, a Assembleia escolherá o novo governador, em eleição indireta, onde só os deputados estaduais votam. E nesse caso também já é dado como certo que o atual presidente da Assembleia, Deputado Júlio Garcia (PSD), seria eleito governador.
Garcia foi o primeiro gerente da agência do Besc em Xanxerê, na década de 1970, e é considerado “cria política” do Ex-senador e Ex-governador biônico Jorge Bornhausen, um dos maiores caciques da velha política brasileira. A “ficha política” de Garcia inclui aposentadoria no Tribunal de Contas, onde foi conselheiro. Garcia também foi aposentado pelo Besc, antigo banco do estado, absorvido pelo Banco do Brasil depois de quebrar. Quebrou devido, digamos, a suposto uso político de sua grana, para, de novo, supostamente, um atual senador ganhar eleição ao governo do estado. De novo, como pode-se observar, políticos catarinenses tratam os eleitores catarinenses como um bando de inocentes úteis, ou parvos. E, olhando meio enviesado, até dá para enxergar a que eles, os políticos, podem estar certos…
Olhar enviesado significa lembrar que esses atores seguem atuando ao vivo e a cores no cenário político e são reeleitos a cada eleição. Santa Catarina poderia adotar aquele famoso lema de governo, atribuído a Ademar de Barros, governador de São Paulo na década de 1960: “Esse rouba, mas faz”! Sobre Garcia, na eleição de 2018 ele fez de tudo para concorrer a governador pelo PSD, missão que acabou ficando com Gelson Merísio. Dizem que Merísio teve que fazer um “hercúleo esforço” para convencer Garcia a candidatar-se a deputado estadual. E este moedor de Quirera não tem dúvidas: Em 2022, Garcia será o governador dos catarinenses.
A outra realidade da política catarinense, “os novos políticos”, tem no Governador Carlos Moisés e na Vice-governadora Daniela Reinehr, seus maiores expoentes. Moisés, o dos respiradores, e Daniela já frequentaram páginas e manchetes pouco elogiosas. Ela por meter o pé na jaca já nos primeiros meses de governo, ordenando gastos superiores a R$100 mil, mensais, para equipar e morar na residência oficial de vice-governadores (Santa Catarina trata bem seus políticos), disponível na parte alta do Bairro de Coqueiros, em Floripa, considerada zona residencial privativa de gente muito rica. Moisés e Daniela, Daniela e Moisés, ao que consta, também não conseguiram manter uma relação de amor, nem de amizade.
No início deste ano Daniela reclamou que para conseguir falar com Moisés tinha que mandar ofício! É que também no início do mandato, Moisés demonstrou algumas sérias desavenças como jeito de governar do seu padrinho, o (des) presidente da república, responsável por sua vitória nas urnas, e se afastou do Míster Cloroquina…. Enquanto isso Daniela segue fazendo juras diárias de amor ao seu padrinho-presidente. Vai daí que também existe uma batalha surda nos tribunais em Brasília tentando manter Daniela montada no cargo de Vice-governadora., caso Moisés caia do cavalo. É óbvio que essa possibilidade “não tem a simpatia”, vamos dizer assim, da ala fiel e Jorge Bornhausen & Julio Garcia e Cia Ltda – que não são dos fracos!
É com esse cenário político estadual que eleitores dos 295 municípios catarinenses escolhem, em novembro, seu prefeito e vereadores. Não quero ser pessimista, mas também não consigo acreditar que “essas coisas” não irão influenciar na eleição municipal. Também não concordo nem alardeio a tese de que “nenhum político presta”. Primeiro porque generalizar sempre é uma errada. E depois porque embora sejam minoria, ainda acredito que existam políticos corretos, honestos e, principalmente, que desempenham suas atividades com total transparência! O problema destes políticos é que (ao contrário dos “outros”) poucos conseguem se eleger. E aí, senhoras e senhores eleitores, a culpa NÃO É dos bons políticos. Então, antes de apontar culpados SÓ entre os políticos, devemos lembrar que “alguém” vota neles! Né não???