Ouvi que o provável momento de retrocesso da inteligência humana – o mundo andando para trás, voltando para as cavernas ou coisa pior – pode estar relacionado ao fato de muita gente estar falando, dando palpite, em tudo. É verdade e também é interessante essa possibilidade, abstraindo-se o fato de que todos temos o direito de nos manifestar, é claro! O “tem muita gente” martelou numa tecla já bem batida: Que a Internet fez e ainda vai fazer, inovar, atrasar, mudar, promover ou condenar, na sociedade. No caso, todos sabíamos que somos “muita gente”. O que não sabíamos era a opinião dessa “muita gente”. Opinião que julgávamos mais esclarecida, mais bem informada e especialmente, mais bem-intencionada quanto à realidade e ao futuro dos brasileiros.
Muita gente ganhou sua voz e vez com a Internet e passou – com toda a razão – a guerrear por aquilo que (bem ou mal) lhe disseram que é bom! Aí apareceram – como numa cabeça d’água – revelações de sentimentos que pareciam em vias de extinção: Racismo, preconceito, arrogância, ignorância política, ódio às mulheres, negros, artistas, professores, gays, indígenas, pobres, ambientalistas, intelectuais, jornalistas…E a lista só cresce! Reverter esse quadro de ódio é um dos caminhos, e talvez seja o único caminho…É difícil, muitas vezes, entender certos raciocínios e principalmente julgamentos, feitos por pessoas tidas como civilizadas ou, no mínimo, bem educadas. É brabeza, mas temos que tentar conter respostas nos mesmos baixos níveis das pedras arremessadas contra o conhecimento e ao uso da razão… Sãp difíceis na alegoria “reconhecer os próprios erros”. E com uma capacidade enorme em causar indignação e provocar reações de decepção e incredulidade…
Aprendi no Jornalismo que na esfera política, partidária ou da vida em geral, deve-se pensar com a cabeça, não com o coração – nem com o fígado! Tanto o amor exagerado, infinito, como o ódio incontido, cego, – sentimentos comuns a todos – não devem dar pitacos em assuntos políticos. Mas dão. Política partidária principalmente, deve ser feita com a cabeça, a inteligência e o compromisso único de ajudar a coletividade, não só os amigos, a categoria ou grupinhos. Infelizmente, isso está há anos luz de distância da nossa realidade. Mas é a luz no fim do túnel. Um exemplo de fazer política com o coração é sentimento de querer fazer justiça com as próprias mãos, a ferro e fogo, do jeito que der. Ou de matar, crucificar a classe política inteira, sem exceções. São sugestões para demolir tudo o que está aí e começar do zero, algo utópico, impraticável e não muito inteligente: Em muitos casos semelhantes, a solução foi consertar o que está errado, ou que não funciona. Tudo bem planejado e pensado, com a cabeça, não com o fígado!
Nisso de dar palpite em tudo, saber de tudo e sair atirando pedras nas redes sociais a vítima da vez é o médico Dráuzio Varella – porque ele foi dar um abraço numa presidiária, gay, que há anos não recebia visitas, nem um abraço. Varella respondeu na mosca ao observar aos seus críticos que ele é médico, não juiz. E que não pergunta a presidiários porque eles foram condenados, não é para isso que ele trabalha com detentos há décadas, faz apenas sua função de médico. Mas acredito que as pedras atiradas em Varella têm outra causa: Suas críticas ao atual desgoverno, cujos apoiadores e seguidores se dizem democratas – DESDE QUE NINGUÉM critique o desgoverno. Se criticar, chovem xingamentos, ameaças e agressões. Engraçado – se não fosse um retrocesso – que esse mesmo pessoal foi e continua sendo feroz e desbocado em suas críticas a tudo que venha do PT, Lula, Dilma e outros. Aplicam a máxima “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”…Eles podem criticar, xingar, mas não admitem uma palavra contrária ao que pensam. Em Xanxerê também temos “belos exemplares” da espécie.