As gentes que se queixavam da vida antes da Pandemia devem agora estar estressadas. A vida já não andava lá aquelas coisas, aí veio o Corona vírus e estacionou o bode bem meio da sala, que é para ficar com saudades do que, antes, parecia ruim. O tal do novo normal trouxe o bode no pacote, de máscara, álcool gel e uma ordem expressa para não aglomerar, e muito menos ficar distribuindo beijos e abraços. Os mais idosos reclamam que não podem mais dar uma voltinha, nem viajar, nem visitar comadres e compadres. A galera da balada – desde sempre estressada com bafômetro e blitz na madrugada – agora quer ir morar em Marte. E a piazada mais miúda – sem aulas nem creches – pira o cabeção de pais, mães e avós. Com essas circunstâncias, mais as anteriores, manter o bom humor é trabalho dobrado. Xingar e procurar culpados – esportes muito populares neste Brasil, só deixa a vida com cara mais feia ainda. Sem falar que – dizem – provoca caspa e unha encravada!
Manter o bom humor pode começar pela constatação de que ainda estamos vivos, embora muitos nem liguem para isso. E outros, pior ainda, nem lembram desse “detalhe”. Outra observação que pode ajudar é a de que ao contrário das apocalípticas previsões iniciais, o mundo não parou suas engrenagens. E a vida continua… morreram e continuam morrendo muitas pessoas, em todo o planeta, infelizmente. São pessoas portadoras, ou não, de “outras morbidades”, que certamente estariam bem vivas, não fosse a Pandemia. Se conformar com a morte de pessoas é mais fácil quando as pessoas não são amigas, nem familiares. Mas quem perde pai, mãe, irmão, filho ou algum familiar com que convivia jamais vai esquecer que um novo vírus invasor, desconhecido e desprezível, botou o mundo inteiro, literalmente, de calças na mão. Toda a nossa inteligência e a nossa paradisíaca tecnologia se resumiram em fabricar, às pressas, uma vacina que, se Deus quiser, vai funcionar conforme a ciência promete. Manter o otimismo, e o bom humor, principalmente daqui para frente, também vai ajudar muito.
Apelar para Deus é o comportamento mais adotado, bem mais que usar máscara e adotar todos os cuidados recomendados pela ciência. Mas é bem provável que nem Deus, nem a ciência, cada um no seu quadrado consigam, sozinhos, nos livrar da doença. Desta e de outras… O melhor mesmo é apelar para os dois ao mesmo tempo, não por duvidar de Deus, ou da ciência. Trata-se de “cercar o frango”, e também o bode da sala. E esse cercar inclui obrigatoriamente cada um fazer seu dever de casa! Precisamos manter a guarda, promover o bom humor e cuidar também da saúde mental: Tico e Teco devem estar em constantes atritos e desavenças…Essa vontade de encontrar um culpado, além de não resolver coisa alguma, enche a cabeça da gente de minhocas. E pessoas com a cabeça cheia de minhocas são mais um grave risco à integridade física – delas mesmas e dos que as cercam. Proclamar muita calma nessa hora pode até irritar, mas é preciso! Mais que nunca, é preciso fazer …o que é preciso. E ponto!
Acredito que o famigerado novo normal deva exigir, como pré-requisito à sua adoção na prática, uma dose cavalar de paciência. E esse artigo, antes ainda da Pandemia, já era bem escasso nas prateleiras e gôndolas da vida. Daí que vem outra palavrinha nova, para a situação: Reinventar! A gente tem que reinventar a paciência e o bom humor. Afinal, o mal que nos aflige está no mundo inteiro, em todo o planeta, não apenas na nossa cidade, estado ou país. Antes da Pandemia era bem difícil apontar uma situação, uma necessidade ou costume, ou mania, que estivesse preocupando absolutamente todos. Todos, ou quase todos, precisam trabalhar comer, dormir, tomar banho e fazer suas necessidades diariamente, isso no mundo inteiro. Mas essas condutas eram as únicas globalizadas, talvez junto com viajar pela Internet. Mas fora elas, não havia nada mais que nos colocasse literalmente no mesmo barco. Agora temos: A Pandemia! E muitos otimistas acreditaram que a Pandemia traria avanços. Mas, ao menos por enquanto eles não apareceram. Então só resta dizer: Paciência!
Uma das minhas boas descobertas na faculdade de Jornalismo aconteceu numa aula de Antropologia, quando o professor avisou que o único animal que, por querer e gostar, deitava-se ao sol num calor de quarenta graus era o bicho homem! Nem os camelos que vivem no deserto fazem isso, garantiu ele. Há os que ficam no sol por necessidade, mas ficar torrando, de graça, debaixo do sol ao meio dia, só nós mesmos! É que nos deram o poder de fazer o que bem entendemos, e aquilo que nos dá prazer fazer, tudo e sempre sob nossa conta e risco, vale lembrar. Mas a escolha é nossa, assim como os riscos dela. Só que até esse poder de autodeterminação que o Senhor das Esferas (num momento de distração, eu acho) nos concedeu, também ficou prejudicado com a Pandemia. Porque a nossa atitude – a de ignorar os riscos – acaba por colocar em risco muitas outras pessoas, não apenas nós mesmos. Então nesse caso, “pegar sol ao meio dia” já não é mais apenas um “problema nosso”. É de todos, juntos! Mas não reunidos…
Não há mais dúvidas que “sairemos dessa”, penso aqui com meus botões. O principal desafio é fazer a boiada, nós todos, agirmos exatamente como uma boiada, ou seja: ter o mesmo comportamento. Evitar riscos desnecessários e tomar todos os cuidados. Até porque a perda da vida pode, ainda, não ser o pior: As novas sequelas que surgem a toda hora em pacientes que deletaram o Corona vírus também espalham medos e inspiram mais cuidados. Ninguém quer se curar da doença, mas ficar com alguma “lembrancinha dela” para o resto da vida! Se conseguirmos (e vamos conseguir) sair dessa Pandemia estaremos provando a nós mesmos que conseguimos, sim, ser pessoas solidárias – mesmo que seja numa tragédia. E que não somos tão desumanos e tão cruéis “com os outros” – como muitas vezes deixamos transparecer. Esse, talvez, pode ser o grande avanço trazido pela Pandemia. E se for, poderemos comemorar lembrando que existem males que vêm para o bem! Entretanto – e por enquanto – basta que tomemos todas as precauções, que não desanimemos. E que consigamos preservar o bom humor!