Rir, para não chorar, e fotografar o rei nu, é a política de Quirera Gourmet, por hora. Desenhar, pintar e bordar os absurdos (e vexames) deste “novo Brasil” e também da Terra plana, é o que temos para o momento. Navegamos em uma longa e inédita entressafra de inteligência – que sumiu, desapareceu, não existe mais, nem no mercado interno, nem no externo. Tamanha escassez provoca efeito dominó ainda não bem percebido, a começar pelo total esgotamento, amplo geral e irrestrito do manancial de vergonha na cara!
Os humanos, definitivamente, estamos em franca e poderosa decadência, em queda livre rumo não ao fundo do poço – que nem existe mais – mas às profundezas grotas, das cavernas pré-históricas. E isso já é visível no cotidiano, ao depararmos com legítimos exemplares de Tiranossauro Rex e outros, que abundam no mundo real e virtual – e multiplicam-se nas redes sociais. Exibe-se a estupidez e o negacionismo com a mesma audácia e irreverência de quem bota a bunda pelada na janela, para alguém passar a mão nela!
Então é hora de largar as cenas do momento para as cobras. Delete-se qualquer crítica, vontade de reclamar, ou mesmo de contrapor argumentos lógicos, racionais e universalmente aceitos, numa inútil tentativa de sugerir a volta ao uso da razão e do bom senso. E não se pense que estejamos rumando para a anarquia, pois esta tem lógica, e um profundo desprezo pela ignorância. Vamos às cavernas! Navegamos às escuras e no infinito breu da noite que nos rodeia. É tudo fora de foco, bem longe da ultrapassada realidade.
Acredito que essa enorme (e elogiável) predileção de humanos por cães e gatos, entre outros bichos – por exemplo- nada mais é do que um claro sinal do descrédito com que humanos enxergam os ditos… humanos, nossos irmãos! E estou prestes a acreditar que Deus criador – ele mesmo, o cara que tanto se invoca, para tudo e por todos – tenha desistido de sua criatura! Estou convencido que extrapolamos todos os limites da imbecilidade e da idiotia até hoje conhecidos, dimensionados, avaliados e disponíveis. E repito: Somos uns boçais! Espera-se que ao menos, se consiga dar vida decente aos animais…
E veja bem número dois: Se nós, humanos, tivéssemos “dado certo” enquanto criaturas geradas (e bem nutridas) à imagem e semelhança de Deus, a estas alturas não existiriam mais crianças morrendo de fome e de frio, aos milhares, todos os dias. Uma vergonha! Mas vergonha na cara nem existe mais, o que sobreviveu e anda lépida e fagueira é a falta de vergonha! A desfaçatez, a cara-de-pau, assim como a bunda pelada na janela são “top”, ou “gourmet”, coisa de “gente fina”.
Não por acaso estas mal traçadas Quireras são coroadas como Gourmet. E Quirera porque até o modesto e simplório milho picado virou coisa de gente fina. Todo mundo virou gente fina – e não me pergunte como, nem porquê. Virou e pronto, acabou! Não explicar causas e porquês é cláusula pétrea do negacionismo. É “da hora” e “de boas”! Explicações são demonstrações de inteligência e, portanto, caíram em completo desuso, tem prazo de validade vencido. E seu destino é o ferro velho, ou a reciclagem.
E tem mais: essa derrocada, isso é óbvio, deve ser debitada na conta do Comunismo – o mal que afundou e exterminou a vida inteligente, rica e, logicamente capitalista. Só comunistas brasileiros tem a coragem de querer, por exemplo, manter de pé a floresta amazônica – o maior manancial de riquezas naturais que ainda existe! E que precisa ser transformada em dólares, antes que o fim do mundo chegue. Não restam mais dúvidas o capitalismo – e não o comunismo, foi quem construiu esse maravilhoso novo normal.
Mas isso não nos basta. É preciso privatizar o SUS, pois gente pobre – que sequer tem dinheiro para comprar remédio deve, definitivamente, deixar a vida para quem consegue pagar suas contas. Os que passam meio ano viajando pelo mundo! E usam a outra metade do ano para explorar humanoides que precisam trabalhar duro, para viver. Os capitalistas, os mais ricos, estes sim foram feitos à imagem e semelhança de seu Deus. Estes não são os “que não deram certo”. Eles são a prova que Deus existe. E se chama dinheiro!
O fracasso deste “resto da humanidade”, contudo, não deve ser alardeado por aí, a torto e a direito. Manter esse povo na ignorância e incentivar, catapultar, investir pesado, na nova cultura, a da ignorância, é fundamental. É na verdade até mais que fundamental, é imprescindível! Porque urge eleger governos e governantes absolutamente parvos e obscuros…Gente que nunca fez nada na vida além de fazer nada mesmo! Tais governos e seus energúmenos líderes populistas se assemelham aos ignorantes, e isso lhes garantirá muitos votos! Os ignorantes se reconhecem, e se aliam na ignorância!
Volta e meia, para disfarçar a bancarrota, é necessário conceder à plebe ignara alguns falsos lampejos de falsa inteligência. Como, por exemplo, fazer marola fingindo que a seleção brasileira – a pátria de chuteiras – vai se negar a entrar em campo, para protestar contra quase meio milhão de mortos – e outros tanto a caminho disso – que muitos ainda tentam negar, sob alegação de que a matemática é… comunista! Mas o Deus dinheiro é bem maior. E no frigir dos ovos a pátria de chuteiras pega sua mala de dinheiro e se cala.
A decadência, igual a edifício em implosão, ergue falsas catedrais, disfarçadas na poeira da destruição. Não se pode alardear a decadência, é necessário destacar as catedrais erguidas pela ignorância, retratos desenhados, cuspidos e escarrados do novo normal. É a vitória da mediocridade e do ridículo, sobre a inteligência e sobre o vetusto uso da razão. O negacionismo venceu e o obscurantismo domina o cenário. A Ciência e o saber, daqui a pouco, valem porcaria nenhuma. Salve a ignorância! A mais recente criação lançada nas passarelas da era do negacionismo, para deleite e desfrute de todos!
Quirera Gourmet