A Pandemia desmanchou muitos tradicionais “points” de reunião e encontros de amigos (as) por desaconselhar aglomerações de qualquer objetivo. O cotidiano on line, que já era a opção de muitos antes do Covid 19, evoluiu de preferência para recomendação politicamente correta. Conversar ‘olho-no-olho ao vivo e a cores’, agora só em situações rigorosamente pessoais e intransferíveis, igual a ir ao dentista, ou ao médico. A conversa on line, antes uma modernidade e um status em favor da eficiência, virou normalidade consolidada. Uma rotina rapidamente incorporada por quase todo mundo. Então, mesmo que às vezes não se apresente assim, a Pandemia mudou radicalmente pelo menos um hábito: O de conversar e interagir com outras pessoas ou com grupos.
E ao mesmo tempo isso reforçou aquela velha impressão de que, se quisermos, podemos sobreviver isolados, iguais ou parecidos com uma ilha. Não que tenhamos deixado de conversar e participar de tribos, famílias, clubes, patotas e ‘galeras’, mas essa “convivência” se modificou. E navegar na Internet ganhou ainda mais força e adesão – agora não mais por rapidez, eficiência e praticidade, mas também por recomendação médica e sanitária. Ou por medo de morrer. Se usar a rede mundial de computadores antes era recomendável, agora essa modalidade de convivência e de se relacionar e interagir com o mundo tornou-se – por quase dois anos – um hábito compulsório, para preservar a saúde individual e coletiva, pública e privada.
Então, se antes a Internet já era a rainha da cocada preta dos dias que rolam, depois da Pandemia, nem se fala! Ou melhor, só se fala – e se faz, e se vive – através dela. Se antes ou há alguns anos atrás era ‘top’ ostentar um carro importado ou uma casa nova, hoje o suprassumo do sucesso é ostentar – seja lá o que for – na Internet! E não é preciso ter uma mansão, nem um Camaro zero bala: O foco é ostentar! E para isso é preciso apenas estar conectado para mostrar! E esse “mostrar pode ser traduzido por escandalizar, apavorar, horrorizar, mentir a torto e a direito, inventar! E….tudo isso cabe na pasta “criar”! O ato de ostentar não exige veracidade ou honestidade, e nem sabedoria ou engenhosidade! O ato de ostentar exige que você chame a atenção. E, é lógico, contabilize milhares de clics ou curtidas!
Vai daí que cultura, conhecimento, estudo, sapiência e até os mínimos conhecimentos gerais sobre qualquer coisa viraram coisas supérflua, inútil e pouco usadas, estão “muito batidas”, no frigir dos ovos. Vale é ostentar! E aí é que a velha porca torce o rabo: Pode-se inclusive ostentar a própria ignorância, o próprio desconhecimento da realidade e da vida – que segue seu rumo. Você pode dizer que a terra é plana e que vacinas causam doenças, e isso vai render mais curtidas do que dizer que a terra é redonda e que as vacinas, por muitos anos, salvaram milhões de vidas humanas. Isso todo mundo já sabe e ninguém mais dá bola, não é novidade!…E Isso NÃO é ostentar. É dizer mais do mesmo. Mas dizer que a terra é plana, ou que quem discorda de suas ideias é comunista, aí sim: Isso é ostentar! Mesmo que ostente que você é um legítimo energúmeno, uma anta, não interessa! Provoca e chama atenção. Então, ostenta, entendeu? Tá oquei?
Eu confesso que aderi: Aqui da minha própria e incipiente ignorância, e na humilde condição de mero estagiário da carreira de energúmeno, tenho me esforçado para entender algumas coisas. Por exemplo: Como é que alguém sem ensino superior e o sem famoso diploma – que passaram a valer quase nada – consegue ter aprovação de uns 20% da população, mesmo e inclusive homenageando a si mesmo – sem diploma, nem curso superior, com a Ordem do Mérito Científico, uma das mais cobiçadas comendas e honrarias de um país com mais de 200 milhões de habitantes! E mais: Ninguém, na prática, esboçou qualquer reação. E a ostentação dessa autocondecorarão (o agraciado deu medalha a si mesmo) rendeu milhares de curtidas. Para completar, um grupo de 30 dos mais renomados e respeitados cientistas recusou-se a receber a mesma honraria, porque um deles foi excluído da lista, acusado de se recusar a defender remédio que não cura, nem é recomendado para curar a Covid-19!
É óbvio que conceder honraria e medalha para si mesmo é uma novíssima forma de exibir ostentação, não existe nada mais original, nem mais brega, nem mais ridículo ou risível. Mas é exatamente isso que gera a ostentação, por parte de estagiários de energúmenos e aprendizes de ignorantes. Uma nova virtude a ser cultivada e, da parte que me cabe, algo que pretendo buscar com todas minhas caraminholas pensantes e carentes de ostentação! Isso é Top, tá oquei? Se o despresidente do nosso querido país, o líder da nação de 200 milhões de almas conseguiu, com pouco trabalho e nenhum escrúpulo, porque é que eu não posso conseguir?
Nessa saga de buscar a ostentação, custe o que custar, já está claro que vale tudo. E aguarda-se para os próximos dias outras criativas e inescrutáveis, inimagináveis iniciativas do gênero – o que também não deixa de ser uma temeridade. Mas cabe tentar adivinhar, é um grande desafio prever o que poderá ainda acontecer, depois de alguém se auto condecorar? O elemento pode se auto conceder uma vaga no céu, garantida, com firma reconhecida e papel passado pela chefia das milícias. Ou talvez se auto proclamar, antecipadamente livre e inocente de qualquer acusação de genocídio, ou de improbidade administrativa, ou de desvio de recursos públicos através de rachadinhas. As opções são muitas. Mas é preciso ter muita coragem, muita vergonha na cara e muito talento para ostentar ! Oremos, pois!