O envelhecer é um caminho sem volta e uma permanente sensação que muitas coisas vão se perdendo, ou ficando para trás. Porém aqui do meu quadrado consigo ver algumas coisas novas que tenho colhido. E embora elas sejam em menor número do que as que perdi, são muito valiosas! Hoje para sair de casa tenho que pendurar óculos, carregar celular no bolso, usar máscara e, quando tem sol, usar boné. Mas as canelas ardem, porque a pele fica muito seca no inverno, e às vezes preciso usar hidratante, para elas pararem de encher o saco. E tenho que usar protetor solar na cara, por conta dos raios ultravioletas – que já me causaram problemas. Uma vez era escovar os dentes, vestir uma roupa e sair voando porta a fora.
Hoje com a Pandemia e a recomendação de ficar em casa – e considerando minha nova condição de aposentado, nem me queixo do tal isolamento social. O bate papo com os amigos faz falta, mas não chega a preocupar: Acredito que eles também sentem falta e nenhum, por enquanto, mandou dizer que não aguenta mais ficar isolado, o que indica que eles também suportam a nova condição, sem maiores dramas. Por sorte minha tenho uma companheira para todas as horas. Daí nunca me sinto totalmente sozinho, o que eu não iria aguentar, e acho que ela também não. Brinco e procuro me divertir com ela, não esquecendo que pelo menos uma vez por dia precisamos rir. De nós mesmos, aposentados, de quarentena. E tem dado certo!
Procurar levar a vida do melhor jeito, usando só o que temos para o momento. O que é outro aprendizado que veio com a idade. Outro foi parar de reclamar de tudo e de qualquer coisa. Reclamar só envelhece mais e deixa a gente azedo. Por isso desenvolvi o aplicativo “Não Reclame”, que tenho usado muito. Ele faz tanto sucesso que penso até em lançar a novidade no mercado. Também andei aprimorando minha afiada – e muito apreciada por mim mesmo – pontaria de criticar o que penso que merece ser criticado. O que e quem, é claro. Sempre muito atento para não me considerar melhor que ninguém, e muito menos dono-da-verdade! Atentar às próprias limitações e reconhecer erros sempre é muito saudável!
Tenho vários índices apontando que essa vida de aposentado e de trabalhar em casa tem dado muito certo. Especialmente nos campos filosófico – psicológico e sentimental. Isso embora não tenha, por enquanto dado qualquer retorno financeiro, mas tudo tem sua hora. Outros excelentes retornos estão bem visíveis por mim e por todos: Engordei uns 15 quilogramas – algo que jamais havia conseguido, ao longo de mais de 60 anos de estrada. E estou achando bom engordar: Vivia sendo chamado de pau-de-amarrar-tripa, ruim de engorda, de mapa do Chile e de precisar colocar pedras no bolso, em dias de vento forte. Agora ando de olho na balança, mas por outros e doces motivos: Já combinei com a companheira que ao alcançar os rasos cem quilogramas, vamos comemorar com um bolo, bem grande! Enviarei convites, ou pedaços!
Também tenho me divertido muito com as pessoas que continuam achando que sou “cumunista”, esquerdopata, petralha e o diabo a quatro. Tem horas que acho muito bom ser “alvejado” com tais “elogios”. E gostaria, sinceramente, que fossem verdades. Tanto que até “capricho” para as pessoas continuarem a pensar assim. Se isso as deixa felizes, sou feliz também, porque não? Quando me distraio e acontece de me irritar por qualquer coisa, pequena, média ou grande, busco de pronto um contato rápido com um daqueles que moram aqui dentro comigo, normalmente um que me diz, sempre, que não tenho mais idade para tais criancices! Então ele me manda, com todas as letras, criar vergonha nessa cara velha, gorda e cheia de rugas! E tenho que rir…
A Internet é outra amiga insistente, chata, mas que sempre traz boas novidades. Já encontrei vários amigos distantes. Esses dias achei um ex-colega de Medicina da UFSC, que foi simplesmente o melhor e mais versátil tocador de violão que conheci. O “Paulista”. Sabendo a letra e conseguindo cantar, ele acompanhava, magistralmente ao violão, qualquer samba ou MPB que eu cantasse. Fazia uns 40 anos que não tinha notícias dele. Descobri que está no seu segundo mandato de prefeito, de um município do Norte paranaense. Mas não deixou, pelo jeito, de ser o “Paulista” que conheci: Olhando seu Facebook, na Pandemia, para economizar, ele virou também o secretário municipal de saúde. Qualquer dia vou ligar para ele, matar as saudades!
Também penso em alegrar um pouco esse povo que me acompanha aqui na “Quirera”. Ao criticar e pegar no pé do despresidente, começo a ter certeza de que estou ficando chato – outra pedrada que me arremessam, volta e meia, e com razão! Mas, calma lá: também é um direito meu chatear um pouco, encher o saco! Porque nem todo dia é domingo, e ser sempre engraçadinho vi-ra-um-sa-co! Já ouvi críticas pertinentes e razoáveis, e também outras nem tanto: Um me disse, na lata, que Quirera era comida “pra dar para porco! ”. Na hora, não gostei, mas uns cinco segundos depois concordei, e rebati de sem-pulo: “É, também! Ração é feita com Quirera. Mas no meu caso aqui posso garantir que faço somente comida de passarinho, ou no máximo, comida muito gostosa e apreciada pelo povão: Quirera e costeletas de porco! Uma delícia!
Na verdade, escrever, gostem ou não os senhores e senhoras leitores e leitoras, para mim é uma atividade digamos…aprazível, prazerosa, que me dá tesão mesmo. Isso até quando quem lê acha que escrevo abobrinhas, ou pedradas, comida para porcos, um monte de besteiras. Não importa – e digo isso com muito respeito a todos – é a opinião de quem lê, e aprendi desde pequeno respeitar a opinião dos outros. O que não significa concordar, sempre! Tem gente que não consegue ficar um dia sem se queixar, sem “falar mal”, sem criticar tudo e qualquer coisa. E esse comportamento também é um direito das pessoas. Não posso dizer que gosto de pessoas assim, e quando vejo uma dessas saio de perto. Gosto mesmo é de aproveitar a vida, usar muito bem os anos que me restam… E se puder divertir os outros, gosto também! Nem que seja escrevendo comida de passarinho!